Mulheres pela Igualdade

Conheça a história inspiradora de mulheres que, com fervor e determinação, se dedicaram à defesa das conquistas do 25 de Abril, moldando de maneira profunda a sociedade portuguesa. Navegando destemidamente pelos territórios da política, cultura, ciência e ativismo, essas mulheres, tanto antes como depois da Revolução dos Cravos, desempenharam papéis fundamentais, garantindo que os direitos das mulheres transcendessem as fronteiras da mera retórica.

Maria Lamas

Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas (1893-1983)

Escritora, tradutora, jornalista, conferencista, ativista política portuguesa, conciliou a vida profissional com uma incansável batalha de décadas em prol dos portugueses, mas em particular das mulheres em Portugal.

Entra no jornal “O Século”, em 1928, e, em 1930, passa a dirigir o suplemento “Modas e Bordados” que de prejuízo passou a dar lucro. Neste âmbito, foi responsável pela mostra “Mulheres Portuguesas – Exposição da Obra Feminina, antiga e moderna de caráter literário, artístico e científico” que se veio a revelar um êxito na afluência

Em meados da década de 1930 torna-se ativista na “Associação Feminina Portuguesa para a Paz “e, principalmente, no “Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas” (CNMP) ficando o estatuto de Maria Lamas ameaçado junto do Regime da época. Em 1945 assume a presidência da Direção do CNMP.

Em 1947, na sequência do seu mandato, promove, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, a realização da Exposição “Livros Escritos por Mulheres”, com três mil livros, que representavam quatrocentas autoras de trinta países. O estado Novo não gostou da iniciativa e Maria Lamas viu-se forçada a escolher entre o “Modas e Bordados” e o CNMP, tendo escolhido o último, que foi, entretanto, mandado encerrar pelas forças policiais.

E assim nasce aquela que veio a tornar-se a obra emblemática da perseverança de Maria Lamas na defesa da condição das mulheres, independentemente da sua idade, do seu estatuto socioeconómico ou da geografia nacional. “As Mulheres do meu País” passa a sair em fascículos mensais, apresentando uma determinada região de Portugal, revelando uma constelação diversificada de humanas existências. Publicada entre 1948 e 1950, rapidamente se foi esgotando.

Maria Antónia Fiadeiro

Maria Antónia Fiadeiro (1942-2023), jornalista, ativista empenhada pelos direitos das mulheres, lutou pela despenalização do aborto, tendo escrito, em 1984, escreveu o livro “Aborto, O crime está na Lei”.

Ao jornal PÚBLICO disse que gostaria de ser recordada como “Uma mulher que trabalhou toda a vida! Que se interessou toda a vida pelas mulheres, sim. Mas não sempre da mesma maneira. Foi variando conforme os temas mais crus. Por exemplo, no tempo do aborto: era o último recurso, mas no fundo era o primeiro”.

Presa pela PIDE em 1962, durante a crise académica, e em 1972 quando regressava do Brasil onde estava exilada. Quando saiu da prisão assumiu o cargo de diretora literária nas Publicações Europa-América. Em 1974 começa a escrever, no suplemento do Século “Modas e Bordados”. Enquanto chefe de redação desta revista, ofereceu a Maria Lamas o cargo de diretora honorária, dedicando-lhe um número especial. É, ainda, sob a sua orientação que este suplemento passou a chamar-se “Mulher – Modas e Bordados” passando a assumir uma linha editorial feminista. Mas escreveu em muitos outros jornais e revistas: no suplemento “Mulher” do Diário de Notícias, no Diário de Lisboa, no Jornal de Letras, Casa e Decoração, Máxima.

Fez parte da Direção do Sindicato de Jornalistas, no biénio de 1977/1978, como vogal.

Foi cofundadora da “Liga dos Direitos das Mulheres”, pertenceu à direção nacional da “Associação para o Planeamento Familiar”. Na sua Tese recupera a biografia de “Maria Lamas” sendo, posteriormente, editada comercialmente.

Elina Guimarães

Elina Júlia Chaves Pereira Guimarães (1904-1991), foi uma escritora, jurista, ativista feminista e vice-presidente da direção do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP).

Filha do político republicano Vitorino Guimarães, cresceu num ambiente dominado pela política e desde cedo se interessou pelos direitos das mulheres. Entusiasta e combativa na defesa das suas convicções de igualdade de direitos entre mulheres e homens, e de valorização da capacidade intelectual feminina, aderiu ao movimento feminista em 1925 e mereceu, de Afonso Costa, o epíteto de “mulher do futuro”.

Foi convidada por Adelaide Cabete para integrar o CNMP, do qual foi Secretária-Geral e Vice-Presidente. Nesse cargo, desenvolveu uma intensa atividade na defesa do direito de participação feminina na vida política e na luta pela conquista do direito das mulheres ao voto. Outra grande causa a que se dedicou foi a da defesa de uma educação igualitária, que considerava a via para conseguir às mulheres a mesma preparação profissional e liberdade de trabalho de que gozavam os homens. Em 1931 esteve entre os intelectuais e ativistas que protestaram junto do Ministro da Instrução Pública contra a supressão da coeducação no ensino primário. Durante a década de 1930 e nos anos que se seguiram, manteve uma forte presença na imprensa, com artigos em defesa dos direitos das mulheres, da coeducação e do livre acesso das mulheres à vida profissional.

Odete Santos

Maria Odete Santos (1941-2023) foi uma ativista pelos direitos das mulheres, que defendeu enquanto advogada e deputada à Assembleia da República.

Ligada à atividade política e aos movimentos associativos estudantis desde o início dos anos de 1960, foi na Faculdade que tomou contacto com o Partido Comunista Português, ao qual aderiu em 1974. De militante do PCP torna-se sua dirigente e, em 1980, assume o lugar de deputada à AR, que ocupou até 2007.

Integrou o Movimento Democrático de Mulheres e lutou pela despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez.

Pelo seu persistente e empenhado envolvimento nas causas a que se dedicou foi agraciada, em 1998, com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, pelo Presidente de República Jorge Sampaio.

Considerada a deputada mais mediática do PCP, era uma apaixonada pelo teatro amador, onde se estreou em 1966 e a ele regressou em 1991.

Ficará como recordação a força que imprimiu ao declamar “Calçada de Carriche” de António Gedeão”.

Natália Correia

Natália de Oliveira Correia (1923-1993)

Uma das responsáveis pela afirmação das mulheres no Parlamento e na cultura em Portugal, era portadora de uma visível coragem cívica não muito comum num “Portugal Amordaçado”.

Foi poetisa, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista, editora e deputada à Assembleia da República.

Ao longo da vida manteve uma altivez e uma segurança que não eram consentidas às mulheres portuguesas em plena ditadura e mesmo o Portugal democrático suportava mal tão desafiadora confiança feminina. Os seus adversários foram-se vingando mostrando-a corpulenta, extravagante nos gestos, posturas físicas ameaçadoras, mas Natália Correia sempre demonstrou que era um espírito indomável. E foi!, pois que o seu temperamento, e a sua superioridade intelectual, não se deixaram capturar.

Em abril de 1972, foi responsável pela edição do livro Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta.

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Cesina Bermudes

Cesina Borges Adães Bermudes (1908-2001) foi pioneira em Portugal na prática do parto sem dor.

Terminada a licenciatura na Faculdade de Medicina de Lisboa em 1933, tornou-se na primeira portuguesa a Doutorar-se nesta área de obstetrícia.

Apesar da capacidade comprovada, não pôde tomar posse do lugar de professora efetiva devido à sua intervenção cívica e política contrária ao Estado Novo.

Tal como outras portuguesas, passa a desenvolver atividade política de oposição ao regime de Salazar. Em 1945 assina as listas do Movimento de Unidade Democrática, defendendo a constituição de uma Comissão de Mulheres. Em 1948-1949, envolveu-se ativamente na campanha de Norton de Matos à Presidência da República. Quando discursava fundamentava-se na autoridade de especialista de saúde materno-infantil, para o transformar em mensagem de cariz político.

Num discurso, em Santarém, apresentou as reivindicações que a Comissão Feminista defendia: «abolição do regulamento da prostituição, salário igual para trabalho igual, equiparação jurídica para ambos os sexos, assistência social para todas as mulheres independentemente de crenças, credos políticos e estado civil, e sufrágio universal».

Paula Rego

Maria Paula Figueiroa Rego (1935-2022) foi uma pintora portuguesa radicada em Inglaterra.

Aos 16 anos vai estudar para Inglaterra, porque, segundo as palavras do seu pai, Portugal “não é terra para mulheres”.

Nas suas obras são amplamente conhecidas as figuras de mulheres, sendo que, também estão bem representadas as suas convicções feministas.

Apesar de viver no estrangeiro, Paula Rego, não deixava de se interessar pela situação política e social do nosso país, ao demonstrar o seu desagrado com o resultado do primeiro referendo ao aborto, realizado no país em 1997, com a obra “Aborto”.

O Retrato oficial do Presidente Jorge Sampaio, realizado em 2005, introduziu pela primeira vez uma mulher na galeria de pintores oficiais da Presidência da República.

Em 2021, um ano antes da sua morte, foi considerada pelo Financial Times uma das 25 mulheres mais influentes do mundo.

Maria Antónia Palla

Maria Antónia de Assis dos Santos Palla e Carmo (1933-)

Jornalista e feminista portuguesa, integrou, em 1968, com Margarida Silva Dias e Maria Armanda Passos, o primeiro grupo de mulheres jornalistas a serem admitidas por concurso na redação do Diário Popular.

Após ser despedida do Diário Popular por insistir em fazer um balanço do Maio de 68 em Paris, que acabou por editar em livro com o título “Revolução, Meu Amor”, entrou no Século Ilustrado, sendo a primeira mulher a integrar a redação da empresa d’ O Século. Ainda antes da revolução do 25 de Abril chegou a chefe de redação d’ O Século Ilustrado.

Entre 1974 e 1976 em conjunto com Antónia de Sousa fizeram, para a RTP, um programa quinzenal, o “Nome Mulher”. O projeto passava por inventariar e debater os problemas das mulheres e registar as ações mais representativas e significativas das suas lutas. Os assuntos tratados abrangiam temas, como o divórcio, mães solteiras, união de facto, entre outros.

Em 1976, no âmbito deste programa, surgiu a reportagem “O aborto não é um crime”. Face aos protestos gerados, o “Nome Mulher” foi suspenso, conduzindo Maria Antónia Palla ao banco dos réus, após a direção da Maternidade Alfredo da Costa ter feito queixa, alegando “exercício ilegal da medicina”. Acabou por ser absolvida, e continuou a bater-se, ao longo de toda a sua vida, por esta causa, participando ativamente na campanha pela legalização do aborto.

Em 1985, tornou-se presidente da Liga dos Direitos das Mulheres, sendo que só em 2007 veio a ser possível o aborto por opção da mulher.

Foi a primeira mulher a ser vice-presidente da Direção do Sindicato dos Jornalistas, no biénio de 1979/1980.

Foi também a primeira mulher que assumiu a presidência da Caixa de Previdência dos Jornalistas, desempenhando esse cargo durante doze anos.

Em 2013, fundou, com outras mulheres, a Biblioteca Especializada Ana de Castro Osório, a funcionar na Biblioteca Municipal de Belém. É a segunda Biblioteca Feminista da Europa, e a única em Portugal, existente num espaço público.

É comendadora da Ordem da Liberdade.

Graça Morais

Maria da Graça Pinto de Almeida Morais (1948-)

A sua obra, segundo a própria, é sobretudo centrada nas grandes dores do mundo, como a violência e a morte, as injustiças e a indiferença. Mas são os rituais femininos da zona campestre onde nasceu que marcam de forma muito particular o seu trabalho. Mulheres e bichos, muitas vezes ambos apresentados numa só figura, revelam as suas raízes e a vida difícil de quem trabalha o campo. O universo feminino transborda como matéria principal do seu traço ao longo de toda a sua vida artística.

Concluiu o Curso Superior de Pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1971 e entre os anos de 1976 e 1979 viveu em Paris, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. É membro da Academia Nacional de Belas Artes e de diversas associações, confrarias e fundações culturais.

Desde 1974 até 2019 realiza e participa em mais de uma centena de exposições individuais e coletivas, em Portugal e no estrangeiro.

Em 2008, foi inaugurado o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais em Bragança, da autoria do arquiteto Souto Moura.

Em 1997, foi agraciada com o grau de Grande –Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Para além, de reconhecida e divulgada, a sua obra plástica tem conquistado ao longo dos anos inúmeros prémios e distinções. 

Irene Lisboa

Irene do Céu Vieira Lisboa (1892-1958) especializou-se em Ciências da Educação e continuou os estudos na Suíça, França, Bélgica e Portugal, o que lhe permitiu escrever várias obras sobre assuntos pedagógicos.

Durante a estadia em Genebra, mercê de uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, teve a oportunidade de conhecer Jean Piaget e Édouard Claparède, com quem estudou no Instituto Jean-Jacques Rousseau.

Começou a vida profissional como professora da educação infantil e, em 1932, recebeu o cargo de Inspetora Orientadora do ensino primário e infantil. Foi depois afastada do cargo por ser uma pedagoga incómoda pelas suas ideias avançadas.

Depois de se reformar aos 48 anos, dedicou-se por completo à produção literária e às publicações pedagógicas. No entanto, não foi livre na expressão dos seus pensamentos e das suas ideias, pois o controlo censório era exercido pela ditadura salazarista, o que a levou a adotar diversos pseudónimos.

A sua produção literária divide-se pela poesia, pelo conto, pela crónica e pela novela. Apesar da variedade das formas toda a sua obra se caracteriza por ter um núcleo intimista e autobiográfico que a unifica.

Maria Alda Nogueira

Maria Alda Nogueira (1923-1998)

Ficou conhecida pelo seu percurso como Resistente Antifascista, comunista e grande lutadora pela emancipação da mulher. Foi intransigente para com a exploração das pessoas trabalhadoras, para com a pobreza e o analfabetismo, para com a exclusão de direitos das mulheres.

Ainda aluna na Faculdade ingressa na Associação Feminina Portuguesa para a Paz e, em 1945, integra o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.

Primeira mulher em Portugal condenada à prisão por motivos políticos, da dureza da vida clandestina, dos castigos infligidos às mulheres nas prisões fascistas e das torturas psicológicas, ficou o relato em “Mulheres Portuguesas na Resistência”.

Foi Presidente da Comissão Parlamentar da Condição Feminina de 1983 a 1985, Comissão que teve um papel relevante no reconhecimento público das associações de mulheres, e na denúncia da persistência das discriminações das mulheres no acesso ao trabalho e enquanto trabalhadoras, na maternidade e paternidade entre outros.

Foi condecorada com medalha de Honra do Movimento Democrático das Mulheres em 1987, onde foi uma grande ativista e dirigente entusiasta e, em 1988 é agraciada com o grau de grande oficial da Ordem da Liberdade, pelo Presidente da República. O seu busto em pedra encontra-se no claustro na Assembleia da República, sendo uma de apenas duas mulheres deputadas que tiveram semelhante honra.

Teresa Beleza

Maria Teresa Couceiro Pizarro Beleza (1951-)

Foi a primeira mulher a dirigir a Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, onde é Professora Catedrática e Diretora.

Criou a disciplina de Direito das Mulheres e da Igualdade Social, introduzida no elenco das cadeiras de opção da licenciatura em Direito, importante enquanto reconhecimento da necessidade da compreensão da dimensão jurídica do sistema social de relações de género, além de ser uma área de investigação comum em outros países.

Foi vogal do Conselho Superior do Ministério Público, e fez parte do Comité Europeu para a Prevenção da Tortura. Representa ainda a Universidade Nova de Lisboa no European Inter-University Centre, uma rede de 41 universidades europeias especializada no ensino, formação e investigação nas áreas dos Direitos Humanos e Democracia, no qual faz parte do respetivo Board of Administrators.

Teresa Beleza assume notória solidariedade com as mulheres, questionando essa realidade discriminatória, bem como os estereótipos e as desigualdades em que as mulheres ainda vivem. Diz ela, que se torna “urgente a difícil tarefa de pensar como se entrecruzam as questões da chamada Igualdade de Género – que simplesmente quer dizer que as pessoas têm o mesmo valor legal e moral, face à Constituição e às leis, independentemente do seu sexo (ou até da sua identidade de género) – e da regulação das agora chamadas responsabilidades parentais”, que de certa maneira continuam a causticar as mulheres.”

Vieira da Silva

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), desde cedo despertou para a música e a pintura. Ingressou na Academia de Belas Artes de Lisboa e em 1928 prosseguiu os estudos académicos em Paris.

Em 1930 casa-se com o pintor húngaro Árpád Szenes passando a residir em França.

Durante a segunda metade da década de 1930, com mo desenvolvimento da extrema-direita na Europa, Vieira da Silva e o marido juntaram-se ao grupo Amis du Monde (1935), uma associação criada por vários artistas e intelectuais de diferentes nacionalidades a residir em Paris, a fim de discutirem formas de resistência contra os movimentos fascistas.

Com o despoletar da Segunda Guerra Mundial, o casal fugiu para Portugal, onde procuraram obter a nacionalidade portuguesa. Contudo, estando o país sob o regime do Estado Novo e sendo ambos apátridas e Árpád de origem judaica, apesar de convertido, o pedido foi-lhes negado.

A pintora recebeu várias condecorações pelo Governo Francês e em 1966, tornou-se na primeira mulher a receber o Grand Prix National des Arts.

Em Portugal, a artista também foi reconhecida, sobretudo depois do 25 de abril, tendo realizado diversas obras encomendadas pelo Estado Português.

Em 1977 foi-lhe atribuída a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e em 1988 a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Maria José Morgado

Maria José Capelo Rodrigues Morgado (1951)

Licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tendo ingressado na magistratura do Ministério Público em 1979.

Lutou contra o regime de Salazar, foi militante do PCTP/MRPP, esteve presa e foi torturada.

Ligada à Polícia Judiciária, assumiu o comando da Direção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira e, em 2006, é nomeada procuradora-geral adjunta do Tribunal da Relação de Lisboa.

Maria Velho da Costa

Maria de Fátima de Bivar Velho da Costa (1938-2020).

Licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi professora no ensino secundário e presidente da Associação Portuguesa de Escritores. Foi leitora do Departamento de Português e Brasileiro do KIng’s College – Universidade de Londres. Trabalhou ainda no Instituto Camões. Tornou-se mais conhecida depois da polémica em torno das Novas Cartas Portuguesas (1972), obra em que se manifesta uma aberta oposição aos valores femininos tradicionais. Esta publicação claramente antifascista e altamente provocatória para o regime, levou as suas três autoras (Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta) a tribunal, tendo o 25 de abril interrompido as sanções a que estavam sujeitas as denominadas Três Marias.

Recebeu o Prémio Camões e recebeu do Estado Português as condecorações de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal (2003) e Grande-Oficial da Ordem da Liberdade de Portugal (2011).

Maria Isabel Barreno

Maria Isabel Barreno de Faria Martins (1939-2016)

Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo integrado depois o Instituto de Investigação Industrial.

Dedicou-se à causa do feminismo tendo feito parte do Movimento Feminista de Portugal juntamente com as escritoras Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, as Três Marias.

Em 2004 foi feita Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Maria Teresa Horta

Maria Teresa de Mascarenhas Horta Barros (1937-) estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Fez parte do Movimento Feminista de Portugal juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, as Três Marias. Em conjunto lançaram o livro Novas Cartas Portuguesas, que na época teve um forte impacto e gerou contestação.

Publicou diversos textos em jornais e foi também chefe de redação da revista Mulheres a convite do Partido Comunista Português, do qual foi militante durante catorze anos entre 1975 e 1989.

Em 2004, foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e em 2022, foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.

É autora de vários livros de poesia e ficção.

Maria de Lourdes Pintasilgo

Maria de Lourdes Ruivo da Silva Pintasilgo (1930-2004).

Primeira, e única, mulher a desempenhar a função de primeira-ministra em Portugal, chefiou o V Governo Constitucional. Foi, igualmente, a primeira mulher portuguesa a candidatar-se a eleições presidenciais.

Foi ainda a mentora responsável pela origem da Comissão da Condição Feminina, mais tarde Comissão para a Igualdade e Direitos das Mulheres e atualmente Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género.

Licenciou-se em Engenharia Químico-industrial e começou a trabalhar, como investigadora na Junta de Energia Nuclear. Tornou-se a primeira mulher nos Quadros Superiores da Companhia União Fabril, onde chegou a ser chefe de serviço no Departamento de Investigação e Desenvolvimento.

Em 1969, recusou o convite para integrar a lista de deputados à Assembleia Nacional, mas aceitou ser designada procuradora à Câmara Corporativa, onde assinou com “voto de vencida” vários pareceres, relativos a questões como a liberdade de imprensa, o modelo de desenvolvimento económico e as alterações à Constituição.

Presidiu ao Grupo de Trabalho para a Participação da Mulher na Vida Económica e Social, à Comissão para a Política Social relativa à Mulher e à Comissão da Condição Feminina. Integrou a Delegação Portuguesa à Assembleia Geral da ONU com intervenções sobre: a situação social no mundo, o direito dos povos à autodeterminação, a condição feminina, a juventude, e a liberdade religiosa.

Depois do 25 de Abril foi secretária de Estado da Segurança Social no I Governo Provisório, ministra dos Assuntos Sociais nos II e III Governos Provisórios, Presidente da CCF e embaixadora junto da ONU para a Educação, Ciência e Cultura.

Ana Luisa Amaral

Ana Luisa Amaral (1956-2022)

Poeta e Professora Associada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde também integrava a direção do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, era Doutorada sobre a poesia de Emily Dickinson e as suas áreas de investigação foram: Poéticas Comparadas, Estudos Feministas e Estudos Queer.

Autora do “Dicionário de Crítica Feminista, preparou ainda a edição anotada de “Novas Cartas Portuguesas”, que contem um “PRÉ-PREFÁCIO (leitura breve por excesso de cuidado)” e um “PREFÁCIO (leitura longa e descuidada)” de Maria de Lourdes Pintasilgo.

Coordenou o projeto internacional “Novas Cartas Portuguesas 40 anos depois”, que envolveu 13 equipas internacionais e mais de 15 países e organizou os livros “Novas Cartas Portuguesas 40 Anos Depois” e “New Portuguese Letters to the World”.

Com abundante publicação em Portugal e no estrangeiro, tinha larga projeção além-fronteiras, tendo visto publicado no Reino Unido um livro de ensaios sobre a sua obra e era reconhecidamente apreciada nos Estados Unidos.

Ana Luísa Amaral recebeu várias distinções nacionais e internacionais, nomeadamente: Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Matosinhos, Medalha de Ouro da Câmara Municipal do Porto, Medaille de la Ville de Paris. O Prémio Literário Correntes d’Escritas, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores; o Prémio António Gedeão; o Prémio PEN, de Ficção; o Prémio de Ensaio Jacinto do Prado Coelho, da Associação Portuguesa de Críticos Literários; o Prémio Literário Guerra Junqueiro; o Prémio Vergílio Ferreira; o Prémio Literário Francisco Sá de Miranda; e ainda o Premio di Poesia Giuseppe Acerbi; o Prémio Internazionale Fondazione Roma, Ritratti di Poesia; o Prémio Leteo (Espanha); o Prémio de Melhor Livro do Ano dos Livreiros de Madrid; o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana. A 1 de abril de 2022, foi agraciada com a Comenda da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, cujas insígnias foram entregues a título póstumo.

Maria Barroso

Maria de Jesus Simões Barroso Soares (1925- 2015)

Nasceu no seio de uma família de democratas e oposicionistas à ditadura. Formou-se em Arte Dramática no Conservatório Nacional e licenciou-se em História e Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa.

Mulher de causas e uma cidadã ativa política, cultural e socialmente, foi uma figura maior da cultura portuguesa, atriz marcante no teatro e no cinema e uma amante da poesia, que dizia de uma forma única.

Fez militantemente recitais de poesia, muitas vezes acompanhada do coro de Fernando Lopes Graça, dizendo versos de poetas contra o regime, nomeadamente do Novo Cancioneiro.

Opositora ao regime do Estado Novo, participou nas campanhas presidenciais de Norton de Matos e de Humberto Delgado. Em 1969 foi candidata a Deputada à Assembleia Nacional pelas listas da oposição e, em 1973, interveio no III Congresso da Oposição Democrática e participou no ato de fundação do Partido Socialista. Após a Revolução de 25 de Abril, foi por duas vezes eleita Deputada pelo Partido Socialista à Assembleia da República.

Empenhada na defesa dos mais desfavorecidos, criou a Fundação Pro Dignitate, distinguindo-se na luta pela prevenção da violência e da exclusão social e como uma voz ativa na defesa dos valores democráticos. Presidiu ainda à Cruz Vermelha Portuguesa.

Em reconhecimento da sua ação cívica e social foram-lhe atribuídas várias distinções nacionais e estrangeiras, como o Prémio Impegno per la Pace: Prem Rawat a Mazara del Vallo e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Lídia Jorge

Lídia Guerreiro Jorge (1946-)

Romancista e contista portuguesa, licenciada em Filologia Românica e professora do ensino secundário, é oriunda de uma família de agricultores algarvios apreciadores da leitura e desde tenra idade se habituou a escutar, ao serão, histórias por eles contadas em voz alta.

Viveu os anos mais conturbados da Guerra Colonial em África, onde ensinou em Angola e Moçambique antes de se fixar em Lisboa. Além de exercer a docência, dedicou-se também à publicação regular de artigos na imprensa e foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social. Atualmente é Conselheira de Estado e considera que se vive “um momento muito delicado”.

Ficcionista, a quem tem sido apontada a influência do realismo mágico latino-americano, o tema da mulher e da sua solidão é uma preocupação central da obra de Lídia Jorge.

A escrita de Lídia Jorge é também corajosa, colocando as questões de género como tema recorrente na sua obra, no Portugal pós-ditadura predominantemente masculino.

Madalena Barbosa

Maria Madalena Freire Avelar Barbosa (1942-2008)

Feminista e ativista, foi uma das fundadoras, em maio de 1974, do Movimento de Libertação das Mulheres (MLM), na sequência da existência da Associação de Planeamento para a Família e do “Movimento Democrático de Mulheres”. O MLM tinha como objetivo “lutar pelo direito de igualdade sem discriminação de sexo”.

Defendeu a igualdade de direitos entre homens e mulheres, defendeu o direito ao divórcio, e lutou pela despenalização do aborto. Com outras figuras nacionais, esteve envolvida na criação do Movimento pela Contraceção e Aborto Livre. Em 1979, foi porta-voz da Campanha Nacional pelo Aborto e Contraceção.

Na década de 1980, envolveu-se na criação dos primeiros centros de documentação feministas portugueses, nomeadamente da Cooperativa Editorial de Mulheres e do Informação e Documentação sobre Mulheres, cujo acervo se encontra atualmente sob a gestão da União de Mulheres Alternativa e Resposta.

Na mesma década passa a fazer parte dos quadros da Comissão da Condição Feminina, atual Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, cuja Biblioteca tem o seu nome.

Em 2009, a Câmara Municipal de Lisboa e a CIG instituíram o Prémio Madalena Barbosa com o objetivo de premiar projetos na área da igualdade de género.

Foi editado, postumamente, o livro “Que força é essa”, que reúne as suas participações na imprensa escrita e textos produzidos para intervenções.

Isabel do Carmo

Maria Isabel Augusta Cortes do Carmo (1940-)

Antifascista, ativista, política, médica, investigadora e escritora, licenciou-se e doutorou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde, anos mais tarde, foi Professora. É de sua iniciativa o primeiro estudo de prevalência da obesidade em Portugal.

Enquanto estudante envolveu-se ativamente nas lutas académicas de 1962 e foi dirigente da Ordem dos Médicos até ao seu encerramento, em 1972, pelo Estado Novo.

Foi cofundadora e dirigente do grupo clandestino Brigadas Revolucionárias e também do clandestino Partido Revolucionário do Proletariado. Depois da Revolução de Abril, dirigiu o jornal “Revolução porta-voz do Partido Revolucionário do Proletariado – Brigadas Revolucionárias” e ao longo do PREC envolveu-se ativamente em ações de rua, nas empresas e nas fábricas. Em 1978 foi detida e julgada pela autoria moral de diferentes crimes, nomeadamente ações armadas, de que viria a ser, mais tarde, ilibada. Esteve presa cerca de quatro anos (1978-1984) com o filho mais novo. Liderou a Comissão Pró-Amnistia Otelo e companheiros.

Na comemoração do 30º aniversário do 25 de Abril de 2004, o Presidente Jorge Sampaio condecorou-a Comendadora da Ordem da Liberdade.

Regina Quintanilha

Regina da Glória Pinto de Magalhães Quintanilha de Sousa e Vasconcelos (1893-1967)

Advogada e ativista feminista portuguesa, é reconhecida como uma das primeiras mulheres a licenciar-se em Direito na Universidade de Coimbra, para além de ter sido a primeira advogada, procuradora judicial e conservadora do registo predial e exercer em Portugal. Recebeu uma educação bastante privilegiada para a época, sobretudo com o que era a norma na sociedade portuguesa para o sexo feminino.

A sua matrícula na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra foi alvo de análise pelo Conselho Universitário, acabando por integrar a primeira vaga de mulheres estudantes do ensino superior em Portugal. Para exercer advocacia, teve de receber autorização do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça.

No âmbito do ativismo pelos direitos das mulheres, associou-se ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, tendo exercido as funções de Presidente da Assembleia Geral, Presidente da Secção de Emigração, Secretária do Exterior e Presidente da Secção de Legislação.

Anos depois a convite do Ministro da Justiça, partiu para o Brasil, onde integrou a comitiva diplomática portuguesa que colaborou na elaboração de novas reformas para a Lei brasileira.

Durante o Estado Novo, regressou a Lisboa, onde continuou a exercer como advogada.

Maria Rosário Palma Ramalho

Maria Rosário Palma Ramalho

Figura proeminente no campo do Direito, tem contribuído significativamente para várias áreas de pesquisa e ensino. Membro português do Comité de Juristas da Comissão Europeia em matéria de Igualdade de Género e Não Discriminação.

Autora de várias monografias e artigos, inseridos em obras coletivas e em publicações periódicas, nacionais e estrangeiras, nas áreas do Direito do Trabalho, Direito da Segurança Social, Direito Civil e Direito da Igualdade, desempenha um papel significativo na promoção da igualdade de género através do seu trabalho académico e profissional, contribuindo desta forma para a discussão global sobre igualdade de género. Um exemplo é o seu trabalho intitulado “A Igualdade nas Relações de Trabalho”, que aborda a igualdade de género no contexto laboral. Esta obra reflete a importância crescente dessa temática tanto a nível nacional como internacional.

Professora Catedrática da Faculdade de Direito de Lisboa, coordena as disciplinas de Direito do Trabalho e de Teoria Geral do Direito Civil, nos Cursos de Licenciatura, Mestrado e Doutoramento. Presidente da Associação Portuguesa de Direito do Trabalho, membro do Comité Executivo da Sociedade Internacional de Direito do Trabalho e Segurança Social.

Coordenadora científica de diversos projetos internacionais nas áreas do Direito do Trabalho e do Direito da Igualdade, e, nesse âmbito, consultora da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu e da Organização Internacional do Trabalho, é também coordenadora científica de vários projetos de elaboração de atos normativos nas áreas do Direito do Trabalho, do Direito da Função Pública e da Igualdade.

Regina Marques

Regina Marques (1947-)

Figura notável, que desempenhou um papel significativo na luta pelos direitos das mulheres em Portugal, sendo uma das mulheres que resistiram ao fascismo durante o período da ditadura em Portugal. Participou ativamente na construção do país após a Revolução de Abril de 1974. Continua a ser uma das figuras marcantes que continuam a influenciar a sociedade atual, promovendo os ideais de Abril.

Defensora dos direitos sexuais e reprodutivos, trabalha incansavelmente para construir uma nova geração de direitos que promovam a dignidade.

Algumas das publicações e contribuições de Regina Marques: “Memória e histórias. Nos 40 anos de abril”; “Maria Lamas: Uma mulher do nosso tempo”; “O aborto”; “Mulheres do Século XVIII”; “A memória,a obra e o pensamento de Maria Lamas

Judite de Carvalho

Maria Judite de Carvalho (1921-1998)

Ao longo de trinta anos de escrita, criou dezenas de personagens, a maioria mulheres.

Sobretudo nos seus contos tem, desde os títulos, uma tendência para nomear as suas personagens, colocando os leitores imediatamente perante personagens concretas e distintas e, normalmente femininas: Rosa, numa pensão à beira mar; Anica nesse tempo; Tanta gente, Mariana; A avó Cândida

Apesar da notória qualidade e profundidade da sua obra e da sua escrita, a autora permanece ainda desconhecida do grande público. Foi casada com Urbano Tavares Rodrigues.

O silêncio, aparece na sua obra, como consequência da incompreensão que advém do cruzamento de vozes, de diálogos de surdos e de monólogos, sendo fruto da solidão e do abandono tantas vezes (pres)sentido pelas suas personagens. A solidão aparece como essência do Humano.

Nas suas personagens projeta-se a solidão enquanto presença constante da inquietação e do desassossego, da depressão, da negatividade, da autodenegação e da vontade de se dissipar, devido ao mundo de desconforto que existe e se constrói.

Ganhou vários prémios e em 1992, foi feita Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Dulce Maria Cardoso

Dulce Maria Cardoso (1964-)

Refere que escreve sobre os excluídos, os que ficam nas margens, os que não se encaixam e os que são humilhados.

É notório o seu interesse por personagens femininas bem construídas, como é o caso de Eliete.   

O livro O Retorno (2011) é sobre a sua própria experiência de descolonização e a debandada de mais de meio milhão de pessoas para Portugal. Aqui, o processo revolucionário encontrava-se no seu auge e os retornados eram recebidos com desconfiança e hostilidade.

Aos 14 anos decidiu que queria escrever. Licenciou-se em Direito e foi advogada. O seu primeiro romance, Campo de sangue (2001), foi escrito na sequência de uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura português.

Em 2012, foi condecorada com as insígnias de cavaleira da Ordem das Artes e das Letras de França. A sua obre foi editada em vários países e é estudada em diversas universidades.

Monique Elisabeth Rutler

Monique Elisabeth Rutler (1941-) é uma cineasta e montadora franco-portuguesa.

Teve o primeiro contacto com o cinema através de uma tia que trabalhava na cinemateca francesa. Na década de 50 vem viver para Portugal com a mãe e, em 1969, fixa-se definitivamente no nosso país.

Depois de estudar no Conservatório Nacional de Lisboa, inicia o seu percurso profissional como estagiária do realizador António de Macedo, no filme A Promessa, em 1972.

Afirma-se como montadora e assistente de realização, trabalhando com vários realizadores.

Após a revolução do 25 de Abril, integra a Cinequipa, uma das cooperativas de cinema que surgiram em Portugal nessa altura. É enquanto membro desta que, em 1975, realiza o polémico documentário O Aborto não é Crime que fazia parte da série documental Nome Mulher, na qual as jornalistas Maria Antónia Palla e Antónia Sousa reportavam a situação das mulheres portuguesas.

Realiza a sua primeira longa-metragem Velhos são os Trapos, em 1979.

Em 1992 realizou o filme Solo de Violino, sobre o caso de Adelaide Coelho da Cunha, herdeira do co-fundador do Diário de Notícias, a qual ficou conhecida pela polémica pública gerada pelo seu internamento psiquiátrico e interdição judicial aos 48 anos de idade, após abandonar o marido para prosseguir um relacionamento amoroso com o chauffeur da família.

Maria Veleda

Maria Veleda, pseudónimo de Maria Carolina Frederico Crispim (1871-1955)

Uma das fundadoras do Grupo Português dos Estudos Feministas, aos dezanove anos fez a sua estreia literária no jornal O Distrito de Faro com a publicação de poesia, contos e novelas. A sua atividade literária passou a contar com colaborações e contribuições na imprensa de todo o país, expandindo o seu reportório para temas de carácter feministas e educativos.

Em 1902, publicou o opúsculo “Emancipação Feminina”, onde exaltava os ideais republicanos e feministas.

Em 1905, e após começar a lecionar como professora regente no Centro Escolar Republicano Dr. Afonso Costa, criou dois cursos noturnos para mulheres, totalmente gratuitos, para ensinar a ler e a escrever. É durante este período que se começou a desvincular da produção literária e se passou a interessar profundamente pelo ativismo social e pela causa feminista, começando por intervir publicamente em palestras e conferências sobre a emancipação feminina e a educação integral para ambos os sexos.

Em 1906, aderiu ao Livre-Pensamento e foi iniciada na Maçonaria, tornando-se numa das maiores propagandistas da liberdade de consciência e do anticlericalismo.

Em 1909, aderiu à Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, criada pela jornalista e escritora Ana de Castro Osório e as médicas Carolina Beatriz Ângelo e Adelaide Cabete, às quais se juntaram muitas outras militantes feministas.

Com a implantação da República a 5 de outubro de 1910, as feministas pediram o direito ao voto apenas para as mulheres que pagassem impostos, fossem maiores de idade e que fossem instruídas, condições que Maria Veleda não aceitou.

Em 1912 foi eleita diretora do periódico feminista A Madrugada e em 1915 rompeu os seus laços com a LRMP, por o movimento se ter assumido como apartidário, filiando-se então no Partido Democrata. Acompanhada por um grupo de dissidentes, fundou a Associação Feminina de Propaganda Democrática.

Em consequência da ditadura de Joaquim Pimenta de Castro, juntou-se aos conspiradores na preparação do golpe revolucionário que destituiu o governo ditatorial e integrou o grupo de pressão que defendeu a entrada de Portugal na Primeira Grande Guerra.

Desiludida com a atuação dos governos da Primeira República Portuguesa, que não cumpriram as promessas de conceder o voto às mulheres, Maria Veleda decidiu abandonar o seu ativismo político em 1921.

Clara Sottomayor

Maria Clara Pereira de Sousa de Santiago Sottomayor (1966-)

Exerceu funções docentes na Escola de Direito do Porto da Universidade Católica Portuguesa, lecionando disciplinas como Direitos Reais e Direito da Família.

Juíza de carreira, foi nomeada Juíza-Conselheira do Supremo Tribunal de Justiça em 2012.

Em 2016, indicada pelo Bloco de Esquerda, foi eleita Juíza do Tribunal Constitucional pela Assembleia da República por maioria qualificada, conforme previsto pela Constituição. Renunciou ao mandato de Juíza do Tribunal Constitucional em 2019, por motivo de divergências sobre a orientação jurisprudencial do Tribunal.

Realizou e publicou os mais diversos estudos, sobretudo em matérias relacionadas ao Direito Civil, particularmente no âmbito do Direito da Família.

Clara Sottomayor é assumidamente feminista por uma questão de igualdade. Para ela, as mulheres “são um grupo discriminado historicamente”. “Ser feminista (…) é ser defensora da igualdade de género e da igualdade de oportunidades para todas as pessoas, em prol de uma sociedade melhor. O movimento feminista tem lutado em todo o mundo pelas causas mais nobres que conheço: o direito de voto das mulheres, o acesso à educação, a igualdade de direitos e deveres no casamento, a autonomia da mulher casada e a independência económica das mulheres, a proteção das vítimas de violência e das crianças, só para citar alguns”.

Ana Vicente

Ana Maria Lowndes Marques Vicente (1943-2015)

De ascendência feminista, foi escritora e investigadora. De firme fé católica, envolveu-se na luta pelos direitos das mulheres.

Foi Presidente da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres.

Inicialmente formou-se em Religião e posteriormente em Línguas Modernas e Literatura Portuguesa e Inglesa pela Universidade de Lisboa. Foi membro-fundador da Cooperativa Pragma, uma organização católica de oposição ao Estado Novo, acabando por ser presa pela PIDE em 1967, e a cooperativa dissolvida. Anos mais tarde, em 1997, foi uma das responsáveis por introduzir em Portugal o movimento internacional “Nós Somos Igreja” que reivindica o lugar das mulheres na Igreja.

Inicialmente começou por trabalhar como professora e tradutora, tornando-se funcionária pública depois da Revolução de Abril. Em 1976 iniciou funções na Comissão da Condição Feminina, de que foi Presidente, já com a designação de Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, e nela permaneceu até à sua aposentação, em 1998. Foi Secretária-executiva do Programa Nacional de Combate às Drogas (Projeto VIDA).

Depois de aposentada continuou muito ativa. Sempre ligada às questões de género publicou vasta obra dirigida a diferentes públicos. Continuou também ligada às Organizações Não Governamentais, foi membro da Amnistia Internacional e da Associação Portuguesa de Estudos Sobre as Mulheres. Foi membro fundador do Novo Futuro.

Maria do Céu Cunha Rêgo

Maria do Céu Farrajota Castanho Lombo da Cunha Rêgo (1950 -)

Jurista, foi a primeira Vice-Presidente da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, Presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego e a primeira Secretária de Estado para a Igualdade.

Reconhecida especialista na área da Igualdade entre mulheres e homens, tem contribuído intensamente para a visibilidade do trabalho não pago, de cuidado e tarefas domésticas, áreas de acentuada assimetria entre mulheres e homens. Da mesma forma, tem sido peça fundamental para a construção do exercício da uma parentalidade mais equilibrada entre a progenitora e o progenitor.

Licenciada em Direito, ao longo de toda a sua intensa atividade tem lutado por uma existência mais digna para as mulheres nas diferentes esferas da vida.

Foi cocoordenadora do 1.º Curso de Pós-Graduação em Direito da Igualdade de Género, na Universidade de Coimbra. Foi representante de Portugal em diferentes organismos internacionais, nomeadamente no Fórum de Peritos/as do Instituto Europeu para a Igualdade de Género. É membro da Clínica de Direito da Igualdade e Discriminação – Antígona –, da Universidade Nova de Lisboa, membro do Conselho Técnico-Científico do Conselho Consultivo da CIG e do Conselho Geral do ISCTE-IUL. É membro de diversas ONG com atividade na área da igualdade de homens e mulheres.

Tem inúmeros artigos científicos publicados em Portugal e no estrangeiro.

Manuela Porto

Manuela Cesarina Sena Porto de Araújo Pereira (1908-1950)

Atriz, escritora, jornalista, crítica de teatro, declamadora de poesia e tradutora portuguesa, foi ativista na defesa dos direitos das mulheres e opositora ao Estado Novo.

Grande amante de teatro, frequentou o teatro amador e, mais tarde como atriz profissional, integrou a companhia de teatro Rey Colaço – Robles Monteiro. Como os papéis secundários não satisfaziam a sua paixão pelo teatro decide ingressar no Conservatório Nacional de Teatro, onde foi colega de João Villaret.

Em 1931 casa-se com o pintor, ilustrador e cenógrafo Roberto Araújo Pereira, em cerimónia no registo civil de Lisboa e em regime de “separação total, completa e absoluta dos bens”, o que, na época foi um procedimento pioneiro.

Enquanto tradutora, introduziu em Portugal nomes importantes de escritoras estrangeiras, como Louisa May Alcott, Anne Bronte, Elizabeth Gaskell e Virginia Woolf. Através dos seus recitais de poesia deu visibilidade à obra de Fernando Pessoa, mas também de outros autores como Mário de Sá-Carneiro, João José Cochofel, Fernando Namora, Carlos Queirós, Adolfo Casais Monteiro ou José Régio, atividade que manteve por muitos anos.

Na década de 1930 Manuela Porto abraça o ativismo feminista. Herdeira dos ideais republicanos, participa ativamente em manifestações, comícios e conferências. Aderiu a movimentos e organizações que se opunham ao Estado Novo, nomeadamente o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, a Associação Feminina Portuguesa para a Paz, o Movimento de Unidade Nacional Antifascista, o Movimento da Unidade Democrática, a Comissão dos Escritores, Jornalistas e Artistas Democráticos, o P.E.N. Club Português, ou a Comissão Central e Feminina do Movimento Nacional Democrático.

Em 1946, foi nomeada vice-presidente do CNMP. Em 1947, participou na “Exposição de Livros Escritos por Mulheres”, uma iniciativa do CNMP, realizada na Sociedade de Belas Artes. Manuela Porto proferiu a palestra “Virginia Woolf: o problema das mulheres das letras”. O Regime não gostou da dimensão da exposição e, de imediato, ilegaliza o CNMP assim como todas as organizações políticas que integrava. Muitas das pessoas que a elas pertenciam foram perseguidas ou presas pela polícia política do Regime.

Joana Marques Vidal

Maria Joana Raposo Marques Vidal (1955-)

Magistrada e especialista em Direito de Família e Menores, foi a primeira mulher a liderar a Procuradoria-Geral da República Portuguesa, cargo que exerceu entre 2012 e 2018. Atualmente, desempenha funções no Gabinete do Ministério Público junto do Tribunal Constitucional.

Desde 1979 que trabalha como Magistrada do Ministério Público, tendo atuado como Delegada do Procurador da República nas Comarcas de Vila Viçosa, Seixal e Cascais. Foi a primeira Presidente da Comissão de Proteção de Menores da Comarca de Cascais e exerceu ainda o cargo de Procuradora da República Coordenadora do Ministério Público do Tribunal de Família e Menores de Lisboa.

Foi também Diretora-Adjunta do Centro de Estudos Judiciários, onde também lecionou na área de Família e Menores.

Numa das entrevistas que deu depois de se ter tornado na primeira mulher em Portugal a dirigir o Ministério Público, Joana Marques Vidal dizia não estar contente com os resultados do Departamento Central de Investigação e Acão Penal, responsável pelo combate à grande criminalidade económico-financeira. Quatro anos e meio depois, esta mulher que uns apelidam de determinada e outros de teimosa já não poderá dizer o mesmo: sob a sua égide, a justiça investigou e fez julgar pessoas que se julgava serem intocáveis.

Ana de Castro Osório

Ana de Castro Osório (1872-1935) feminista, ativista pelos direitos das mulheres e pelo ideal republicano, escritora, nomeadamente infantojuvenil, pedagoga, jornalista.

Em 1895, já a morar com os pais em Setúbal, o seu entusiasmo estava no jornalismo. Esta atividade precoce, irá acompanhá-la toda a sua vida através de diversas colaborações nos mais variados jornais nacionais e estrangeiros.

Muito preocupada com a educação das crianças, sobretudo com a das meninas, cria a vanguardista coleção “Para as Crianças”, publicada em fascículos, sendo considerada a fundadora da literatura infantil em Portugal.

Tal como muitas outras mulheres do nosso país, pertenceu à primeira vaga feminista portuguesa. É autora do considerado primeiro manifesto feminista português intitulado “Às Mulheres Portuguesas” (1905).

Em 1907 torna-se membro do Grande Oriente Lusitano, integrando a Loja Humanidade, adotando o nome simbólico de Leonor Fonseca Pimentel.

Foi uma das fundadoras do “Grupo Português de Estudos Feministas”, da “Liga Republicana das Mulheres Portuguesas”, da “Associação de Propaganda Feminista” e da “Comissão Feminina Pela Pátria”.

Também à semelhança de outras feministas, sente-se desiludida com a atuação da Primeira República Portuguesa, que gorou muito as suas espectativas.

A CIG tem publicações próprias sobre Ana de Castro Osório.

Carolina Beatriz Ângelo

Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911)

Médica, ativista republicana e militante feminista, foi a primeira mulher cirurgiã e a primeira mulher a votar em Portugal, por ocasião das eleições da Assembleia Constituinte, em 1911, um facto com notáveis repercussões a nível nacional e internacional.

Em 1906 adere ao Comité Português da Associação francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes, e um ano mais tarde integra o Grupo Português de Estudos Feministas, fundado por Ana de Castro Osório.

Em 1908 participa no I Congresso Nacional do Livre Pensamento, dando-se também início ao processo de formação da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, na qual desempenhará cargos dirigentes.

Com a Implantação da República é eleita Vice-Presidente da Liga, e são entregues ao Presidente do Governo Provisório, alguns aspetos da situação das mulheres portuguesas, incluindo o voto.

Carolina Beatriz Ângelo apresenta requerimento para inscrição no recenseamento eleitoral, que é recusado, mas apresenta recurso para tribunal e recebe sentença favorável.

Inaugura-se, em junho de 1911, a Assembleia Nacional Constituinte que sanciona a implantação da República. Carolina Beatriz Ângelo chefia uma delegação da Associação de Propaganda Feminista recebida por Afonso Costa, que a denomina de “sufragista prática”, e manifesta a convicção de que a Assembleia Constituinte não poderá deixar de conceder o voto restrito às mulheres.

Maria de Belém

Maria de Belém Roseira Martins Coelho Henriques de Pina (1949-)

Jurista, desempenhou várias funções, entre as quais a de Ministra da Saúde e Ministra para a Igualdade.

Logo após o 25 de Abril de 1974 integrou, como adjunta, o gabinete da Secretária de Estado da Segurança Social, Maria de Lourdes Pintasilgo, no I Governo Provisório.

Em 1983, foi nomeada chefe de gabinete do Ministro da Saúde do Bloco Central, mais tarde foi vice-provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e posteriormente, administradora-delegada do Centro Regional de Lisboa do Instituto Português de Oncologia. Foi também administradora da Teledifusão de Macau.

Em 2011 foi a primeira mulher eleita Presidente do Partido Socialista.

Foi candidata às eleições presidenciais de 2016.

Maria de Belém participou na fundação de diversas instituições particulares de solidariedade social, nomeadamente a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, a Associação Portuguesa de Psicogerontologia e a Liga de Amigos do Hospital de São Francisco Xavier.

Destacam-se ainda os cargos de presidente da Assembleia-Geral da União das Misericórdias Portuguesas, da União das Mutualidades, do Conselho Consultivo do Instituto de Higiene e Medicina Tropical e da Irmandade de S. Roque; foi membro da Direção da APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, da Associação Para o Progresso do Direito, Associação Portuguesa de Telemedicina; membro do Conselho de Administração da Fundação Francis Obikwelu; membro do Conselho Geral da Universidade de Coimbra, da Fundação do Gil e da Fundação Portuguesa do Pulmão.

Publicou diversos artigos em revistas de especialidade, no país e no estrangeiro, e é autora do livro “Mulheres Livres”.

Virgínia Quaresma

Virgínia Sofia da Guerra Quaresma (1882-1973)

Foi a primeira jornalista repórter portuguesa e foi uma das primeiras mulheres a licenciar-se em Letras em Portugal, tendo-se tornado num dos nomes mais conhecidos e impulsionadores não só da primeira vaga do movimento feminista português, como do feminismo negro de Portugal e do Brasil.

Para além de redigir notícias, distinguiu-se nos dois géneros que fazem a “passagem” para o jornalismo moderno, a reportagem e a entrevista.

Notabilizou-se também pelo seu ativismo em várias causas de cariz social e político, nomeadamente no republicanismo, pacifismo e feminismo, sendo uma das mais conhecidas e ativas vozes da luta pelos direitos das mulheres, a igualdade de género e a livre expressão sexual. Foi um dos rostos mais conhecidos do feminismo negro e da comunidade LGBT em Portugal, durante o início do século XX.

Adotou desde muito cedo os ideais republicanos, começando a manifestar o seu interesse pelo ativismo social, com especial incidência na defesa de várias causas minoritárias como os direitos das mulheres, a igualdade de género e a livre expressão sexual, ao participar em numerosas sessões de propaganda republicana, assim como ao assumir publicamente a sua homossexualidade perante uma sociedade fortemente conservadora e religiosa, ainda antes do Regicídio de 1908.

Nos anos da Primeira República, devido à sua notoriedade, rapidamente passou a colaborar em vários jornais diários de expansão nacional publicados em Lisboa, tais como O Século e A Capital.

Fixou residência até 1915 no Rio de Janeiro, acompanhada pela escritora, jornalista e sua companheira Maria da Cunha.

Anos mais tarde, nos anos 30, sob o domínio do Estado Novo, apesar de estar sob o permanente radar da polícia secreta pela sua assumida homossexualidade, a sua influência além-fronteiras permitiu usar a agência de notícias que dirigia, para apoiar vários colegas de profissão e ativistas antifascistas, como Maria Lamas. Com a crescente perseguição e risco de ser presa pela recém-criada PIDE, partiu novamente para o Rio de Janeiro.

Nos últimos anos da década de 60 regressou a Portugal, onde continuou a escrever artigos sobre a importância do feminismo, a luta pela igualdade salarial e muitas outras batalhas pelos direitos da mulher em pleno século XX.

Adelaide Cabete

Adelaide de Jesus Damas Brazão Cabete (1867-1935)

Feminista, republicana, médica obstetra, ginecologista, professora, abolicionista e humanista.

Muito cedo demonstrou um forte desejo de “saber” e, apesar dos obstáculos, aprendeu a ler e escrever sozinha recorrendo aos livros escolares das crianças das famílias onde trabalhava.

Casou-se aos 19 anos, com Manuel Fernandes Cabete, e, ao contrário da maior parte das mulheres no mundo, em geral, e das portuguesas, em particular, o casamento proporcionou-lhe uma rutura radical, mas positiva, com o destino traçado.

Após o casamento, e sempre incentivada pelo marido, Adelaide Cabete inicia os estudos formais. Com 22 anos (1889) fez o exame de instrução primária, aos 27 (1894) concluiu o curso liceal com distinção, aos 28 (1895) matricula-se na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, ingressando no curso de Medicina e com 33 anos (1900) licenciou-se defendendo a Tese “A proteção às mulheres pobres como meio de promover o desenvolvimento físico de novas gerações”.

Enquanto médica preocupava-se muito com a saúde das mulheres e escreveu vários artigos onde defendeu os cuidados materno-infantis, os cuidados básicos, a melhoria das condições de vida das crianças e das mulheres e os benefícios da instrução das mulheres.

Adelaide Cabete defendia convictamente a criação de apoios para as mulheres grávidas. E foi com esta genuína preocupação que sempre reivindicou a construção de uma maternidade pública, o que veio a acontecer com a construção da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa.

O seu ativismo feminista e republicano fez parte do envolvimento feminino que se fazia sentir no país no início do século XX, sobretudo na capital portuguesa. Com Ana de Castro Osório, Carolina Beatriz Ângelo e outras militantes republicanas feministas foi uma das fundadoras da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, que defendia a emancipação e o sufrágio feminino. Participou ativamente para o “5 de outubro de 1910”, escreveu inúmeros artigos, discursou contra os monárquicos e os jesuítas e participou ativamente na Implantação da República.

Foi de sua iniciativa fundar o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, ramificação do International Council of Women, onde durante vinte anos foi sucessivamente eleita presidente.

Teve uma vida surpreendente, cheia de envolvimento político, de ativismo feminista, de solidariedade para com as outras mulheres e de um profundo sentido humanista, mas quando lhe perguntavam qual tinha sido o acontecimento mais importante na sua vida, respondia: “O meu marido”.

Ermelinda Duarte

Maria Ermelinda Oliveira Duarte (1946-)
Atriz, cantora, dobradora e diretora de dobragens, foi a primeira mulher no meio cinematográfico.

É a autora de “Somos Livres”, uma das canções mais recordadas do período pós-1974.

Aos 12 anos de idade vai para Lisboa, e licencia-se em Filologia Germânica. Os seus primeiros passos no teatro são dados no grupo cénico da Faculdade de Letras, onde faz ” O avejão” e “Anfitrião”. Em 1969 ingressa na companhia do teatro Estúdio de Lisboa sediado no então Teatro Vasco Santana e aí integra o elenco de “As mãos de Abraão Zacut”, “Vítor ou as crianças no poder”, “A cozinha”, ” A outra morte de Inês”, “Testemunho inadmissível” “Os amigos”, “Fábula do amor e das velhas”, ” Lisboa 72-74″ e “Mar”.

Em 1975 passa a integrar a companhia do teatro Adoque onde participa em várias revistas e peças infantis (algumas de sua autoria).

Gravou ao longo da carreira várias cantigas, marchas e rábulas de revista, bem como discos com as peças infantis. a par da carreira no teatro participou em várias series de televisão. Fez dobragens para desenhos animados.

Josefina Leitão

Josefina do Carmo Gonçalves de Carvalho Leitão

Figura notável, tem contribuído significativamente para a promoção da igualdade de género e o desenvolvimento sustentável em Portugal, no mundo do trabalho e do emprego.

Adepta da negociação e da contratação coletiva, Josefina Leitão começou a sua carreira em 1965 como técnica superior ligada ao então Ministério das Corporações e Previdência Social, trabalhou no Fundo de Desenvolvimento da Mão-de-Obra, na Comissão da Condição Feminina (atual CIG), no Instituto da Emigração e no Departamento de Estudos e Planeamento e na Direcção-Geral do Trabalho.

Foi dirigente na área da Regulamentação Coletiva do Trabalho, Subdiretora Geral da então Direção Geral das Condições do Trabalho e foi Presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego.

Foi perita governamental por diversas vezes, e em diversos temas relativos ao mundo do trabalho, nos Comités do Conselho da Europa, conselheira técnica do Governo português na elaboração de várias Convenções da OIT. Foi, ainda, delegada governamental no Comité Governamental da Carta Social Europeia, conselheira técnica do Governo de Portugal, com funções de coordenação comunitária, no quadro de uma da presidência portuguesa da União Europeia.

As extraordinárias qualidades humanas e o profundo conhecimento técnico das matérias que acompanhou, bem como o empenhamento e a dedicação que imprimiu no exercício das suas funções, demonstram um permanente sentido de missão pública que a tornaram num elemento de referência imprescindível ao longo dos anos que dedicou a esta causa.

Elisabete Brasil

Elisabete Noémia Gregório Brasil (1968-)

Foi uma das responsáveis para que a violência doméstica tenha passado a crime público, pelo que qualquer pessoa pode denunciar um abusador.

Ativista, tem uma vasta experiência, no terreno e uma invulgar capacidade de cidadania. Extraordinária, é mesmo essa a palavra. É uma defensora incansável dos direitos das mulheres, trabalhando para combater a violência de género e promover políticas públicas mais eficazes e sensíveis a essas questões em Portugal

Como docente, lecionou Direito da Família, Menores, Penal e Direito da Educação na Pós-Graduação em Gestão e Administração Escolar do Instituto Piaget. Atualmente é investigadora do CISC.NOVA, onde se encontra a fazer doutoramento, sobre a violência doméstica.

Formadora na área da violência contra as mulheres e violência doméstica, assumindo também supervisão técnica nesta área, faz parte de vários grupos de trabalho a nível local, regional e nacional na área das políticas públicas em matéria de violência contra as mulheres, violência doméstica e de género, agindo também na área da promoção e proteção de crianças e no apoio a redes de intervenção especializada naqueles domínios, incluindo com pessoas idosas.

É perita do Instituto Europeu Para Igualdade de Género na área da Violência Doméstica e atualmente Presidente da Direção da Feministas em Movimento.

Isabel Aboim Inglês

Maria Isabel Hahnemann Saavedra de Aboim Inglês (1902-1963)

 Feminista e antifascista, durante a década de 1930 ingressou como sócia no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, organização dedicada à defesa dos direitos sociais e políticos das mulheres, dirigida então pela médica sufragista Adelaide Cabete. Posteriormente, aderiu também à Associação Feminina Portuguesa para a Paz. Ingressou ainda no Movimento de Unidade Democrática em 1945, onde se tornou na primeira mulher membro da Comissão Central, para além de ter integrado a Comissão das Mulheres, a Comissão de Solidariedade e a Comissão Central do Movimento Nacional Democrático Feminino, ou ainda o Movimento Nacional Democrático.

Em 1942, devido ao seu ativismo social, político e de defesa dos direitos das mulheres, começou a sofrer as primeiras repressões por parte do Estado Novo, sendo o seu nome vetado pelo Ministro da Educação após ter sido aprovada pelo Conselho da Faculdade de Letras. Não se demovendo, mesmo assim, de atuar e discursar contra o regime fascista, em 1945 foi demitida da Faculdade de Letras por razões políticas, e em 1946 é presa pela primeira vez, sob a acusação de ser “um elemento comunista”, sendo no entanto libertada sob caução no dia seguinte.

Em 1948, foi presa pela segunda vez, sob a acusação de atividade e propaganda subversiva após terem sido distribuídos mais de 1500 panfletos.

Virgínia Moura

Virgínia Faria de Moura (1915-1998)

Foi a primeira mulher reconhecida como engenheira civil em Portugal e uma ativista política resistente ao Estado Novo, sendo uma lutadora incansável pela liberdade e a democracia.

Com 18 anos aderiu ao Partido Comunista Português e no mesmo ano participa na secção portuguesa do Socorro Vermelho Internacional, que apoiava presos políticos de Portugal e Espanha.
Em finais de 1945, integrou a Comissão Distrital do Porto do Movimento de Unidade Democrática fundado nesse ano.
Ainda na clandestinidade, foi membro do Comité Central do Partido Comunista Português.

A sua resistência antifascista nunca lhe permitiu conseguir um emprego público.

Nos anos 40 e 50, e com o pseudónimo de Maria Selma, desenvolveu uma intensa atividade cultural, através da colaboração em diversas publicações periódicas e da organização de conferências.

Antes do 25 de Abril participou ativamente em movimentos pró-democráticos. Destaca-se a sua participação e empenho no comício de apoio à candidatura de Norton de Matos à presidência da República.

Em 1951 foi julgada por “traição à Pátria”, por ter assinado uma declaração que exigia a Salazar negociações com o governo indiano, relativas a Goa, Damão e Diu. Apoiou a candidatura de Humberto Delgado, as movimentações populares estudantis de 1962 e os congressos da oposição democrática de Aveiro (1969 e 1973).

Foi presa dezasseis vezes pela PIDE, nove vezes processada, três vezes condenada e reiteradamente agredida pela polícia publicamente.

Ao longo do seu percurso de ativista política e cívica, integrou também o Movimento da Unidade Antifascista, o Movimento de Unidade Democrática Juvenil, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e o Movimento Nacional Democrático.

Depois do 25 de Abril continuou a sua luta pela defesa e consolidação da democracia. Foi distinguida com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade e com a Medalha de Honra da Câmara Municipal do Porto.

Publicou a obra “Mulher de Abril: álbum de memórias”.

Aida Magro

Aida de Freitas Loureiro Magro (1918 -2011)

Engenheira química, comunista portuguesa que lutou contra o Estado Novo e presa pela PIDE.

Em 1942 adere ao PCP e, três anos mais tarde, entra para a clandestinidade. Devido à sua combatividade, determinação e coerência, é-lhe atribuído o controle da Zona Oriental do Comité Local de Lisboa, a mais importante zona operária da capital portuguesa.

Transportou documentos ilegais e, com o pseudónimo de Eva, colaborou em publicações clandestinas do partido, entre elas A Voz das Camaradas.

Em 1957 é presa pela polícia política, é condenada a dois anos e meio de prisão efetiva, com suspensão dos direitos políticos durante 15 anos e sujeita a medidas de segurança, por ser considerada um “elemento perigoso”.
Enquanto esteve presa dedicou o seu tempo a aprender e a discutir noticias com as outras presas, sendo uma das autoras das treze cartas que formam o Manifesto de Caxias.

Depois da prisão fica sujeita a liberdade condicional e tem dificuldade em arranjar emprego como engenheira química, chegando a vender máquinas de café para sobreviver.

Mantém-se politicamente ativa e dedica-se ao apoio aos presos políticos e às suas famílias, participando na Comissão Nacional de Socorro aos Presos.

O seu espólio documental pode ser consultado no Centro Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, com os originais à guarda da Torre do Tombo desde 2007.

Joana Pontes

Margarida Joana Quaresma Tomás Pontes

Licenciada em Psicologia, fez estudos em Cinema e em jornalismo político. Doutorou-se em História Contemporânea com a Tese “Sinais de Vida: cartas da guerra, 1961-1974”, que revisita a correspondência trocada ao longo da guerra nas ex-colónias nacionais.

A obra, entretanto, publicada, recebeu o Prémio da Fundação Calouste Gulbenkian, na categoria de História Moderna e Contemporânea de Portugal, atribuído pela Academia Portuguesa da História.

Realizou a longa-metragem documental Visões do Império, que recebeu o Prémio de Melhor Filme nacional no Festival de Cinema NOMA Azores e o Prémio de Melhor Filme no 39º festival Cinematográfico Internacional del Uruguay.
Realizou a série documental Europa 30, que recebeu o prémio Fernando de Sousa atribuído pela representação da Comissão Europeia em Portugal.

Publicou, em coautoria, A Hora da Liberdade que reúne um conjunto de entrevistas e depoimentos relativos à preparação do movimento militar de 25 de Abril de 1974.

Foi coautora do argumento da longa-metragem documental As Horas do Douro (2010), que recebeu o prémio da Sociedade Portuguesa de Autores (2011).

O documentário O Escritor Prodigioso, filme sobre a vida de Jorge de Sena, recebeu o Grande Prémio da Lusofonia (2007).

Realizou e foi coautora do argumento da série documental Portugal, Um Retrato Social.

Ana Campos

Ana Campos (1952-)

Médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia, é uma ativista feminista e lutadora pelo direito ao aborto, em Portugal.
No Hospital Santa Maria, no período do seu internato geral, decidiu especializar-se em Ginecologia e Obstetrícia, após se ter deparado com a realidade de uma mulher que morreu por ter feito um aborto em condições precárias.

Em 1970 iniciou o seu percurso como ativista pelos direitos das mulheres e, em 1971, interessou-se pelo movimento estudantil trotskista que lutava contra a Guerra Colonial e a ditadura em Portugal.

Logo após o 25 de Abril de 1974, com implementação do Serviço Nacional de Saúde, integrou o programa Serviço Médico à Periferia, em Reguengos de Monsaraz, tendo criado nessa vila a consulta de planeamento familiar.

Em 1979, enquanto membro da Liga Comunista Internacionalista, fez parte da primeira Campanha Nacional pelo Aborto e a Contraceção, tendo sido uma das mais dinamizadores do movimento, sobretudo pela participação em reuniões para elaboração de um projeto de lei sobre a despenalização do aborto.

Em 2007, na altura do segundo referendo da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, em conjunto com Maria José Alves e Idalina Rodrigues e outros médicos, integrou o movimento “Médicos pela Escolha”, defensores do Sim, no referendo.

Na sequência da legalização do aborto em Portugal, acompanhou a implementação das práticas de interrupção voluntária da gravidez, no SNS, integrando o grupo de trabalho responsável pela elaboração dos procedimentos de implementação da lei.

Anália Torres

Anália Torres (1954-)

Doutorada em Sociologia, professora catedrática em Sociologia e fundadora e do Centro Interdisciplinar de Estudos de Género, coordena investigadoras e investigadores a nível nacional de vários domínios disciplinares que investigam as temáticas do género.

Faz parte da equipa nacional responsável pela aplicação do European Social Survey em Portugal desde o seu início, 2002, foi Presidente da Associação Portuguesa de Sociologia e participa ativamente em várias redes de pesquisa europeias.

Foi Presidente da European Sociological Association (ESA) entre 2009 e 2011.

Criou e lecionou vários cursos de mestrado e de pós-graduação no domínio da sociologia, da família e do género.

Tem coordenado várias equipas de investigação pertencentes a redes a nível nacional e internacional, sob os temas: família, género, casamento, divórcio, trabalho e família, pobreza, toxicodependência, juventude e proteção de crianças e jovens.

A sua pesquisa sobre casamento e divórcio contribuiu ativamente para a alteração da lei do divórcio adequando-a à realidade portuguesa. Coordenou o projeto Assédio sexual e moral no local de trabalho que contribuiu para a alteração da lei sobre assédio sexual no local de trabalho em Portugal.

Em 2023, foi distinguida com a Medalha de Mérito Científico, uma distinção atribuída anualmente pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

É autora e co-autora de vários livros, capítulos de livros e artigos publicados em revistas nacionais e internacionais.

Carolina Wilhelma Michaelis

Carolina Wilhelma Michaelis de Vasconcelos (1851-1925)

Alemã pelo nascimento, portuguesa pelo casamento, participou empenhadamente no movimento para a emancipação das mulheres em Portugal.

Publicou no jornal Comercio do Porto “O Congresso Feminista de Berlim” (1896) e no jornal O Primeiro de Janeiro “O Movimento Feminista em Portugal” (1902).

Foi uma crítica literária, escritora, lexicógrafa e professora universitária, tendo sido a primeira mulher a lecionar numa universidade portuguesa (Coimbra) e uma das duas primeiras a entrar na Academia das Ciências. Teve igualmente grande importância como mediadora entre a cultura portuguesa e a cultura alemã.

Com apenas 16 anos de idade, começou a publicar em revistas alemãs da especialidade e, com 20 anos, já trabalhava como tradutora e intérprete para os assuntos da Península Ibérica, no Ministério do Interior alemão.

Já em Portugal, começou a desenvolver um intenso trabalho de investigação, levando-a a corresponder-se com inúmeras figuras da elite intelectual e cultural do país. Pelo seu trabalho na divulgação e valorização da língua portuguesa, em 1901 foi-lhe concedida pelo rei D. Carlos, a insígnia de oficial da Real Ordem Militar de Santiago da Espada.

Em 1911, foi nomeada, por distinção, docente de Filologia Germânica da Universidade de Lisboa, e, um ano depois, pediu transferência para a Universidade de Coimbra.

Nesse mesmo ano, foi inscrita e votada para entrar, novamente por mérito, como membro e sócia da Academia das Ciências de Lisboa, tornando-se assim numa das primeiras mulheres a entrar na prestigiada instituição científica.

No início do século XX, tentou fundar em Portugal um conselho nacional feminino e, embora a ideia não tenha passado à prática, em 1914 materializou-se quando Adelaide Cabete fundou o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.

Diana Andringa

Diana Marina Dias Andringa (1947- )

Nasceu em Dundo, Angola e ali assistiu ao racismo e segregação racial entre os “brancos” e os indígenas. Chamou-lhe “apartheid não declarado“.

Em 1967 torna-se colaboradora do Diário Popular e do Diário de Lisboa. Em 1968 entra para a redação da revista Vida Mundial.

Abandona esta revista no âmbito de uma demissão coletiva, dedicando-se de seguida à atividade de copywriter de publicidade até ser presa pela PIDE, por apoiar a independência de Angola. Condenada a 20 meses de prisão, volta ao jornalismo ao reingressar no Diário de Lisboa, em 1971.

Antes de iniciar carreira na RTP passa, novamente, pela Vida Mundial, fixando-se definitivamente no jornalismo televisivo em 1978. Tem uma passagem pela Informação do canal público, trabalhando no Telejornal e em programas diversos. Na RTP, assinou a realização de vários documentários.

Exerceu ainda os cargos de diretora-adjunta do Diário de Lisboa (1989-1990), subdiretora de Atualidades na RTP1 (1998-2001) e subdiretora da RTP2 (2000-2001). Integrou a Comissão de Trabalhadores da RTP (1993-1998) e foi presidente da Direção (1996-1998) e da Assembleia-Geral (1998-2001) do Sindicato dos Jornalistas.

Lecionou na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal (1998-1999) e na Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa (1998-2001).

Alice Moderno

Alice Augusta Pereira de Melo Maulaz Moniz Moderno (1867-1946)

Defensora da emancipação feminina, foi escritora, jornalista, professora e empresária. Participou na campanha a favor da lei do Divórcio e, pelo seu envolvimento na defesa da causa feminista nos Açores, foi homenageada no Primeiro Congresso Feminista e de Educação organizado pelo Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, em 1924.

Alice nasceu em Paris, filha de pais açorianos, e regressa aos Açores com 8 anos. Com 20 anos inscreve-se no Liceu Nacional de Ponta Delgada tornando-se a primeira rapariga a frequentá-lo. Faz o magistério e torna-se professora particular de português e francês, tradutora e jornalista. Escreveu também ficção, poesia e peças de teatro. As suas obras estão publicadas em francês, inglês, alemão, italiano, espanhol e norueguês.

Viveu sempre do seu trabalho o que lhe proporcionou ser economicamente independente, caso pouco comum para as mulheres da época.

Alice Moderno foi uma mulher determinada que soube contornar as dificuldades da época, relativamente a estereótipos atribuídos a cada um dos sexos. Enquanto ativista das organizações de mulheres da I República nos Açores foi uma respeitada militante da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, da Associação de Propaganda Feminista e da Associação de Propaganda Democrática.

Fundou o jornal A Folha, Ponta Delgada e colaborou em quase três dezenas de periódicos. Foi ainda Diretora do Diário de Anúncios, Recreio das Salas eDiário dos Açores.

Maria Archer

Maria Emília Archer Eyrolles Baltasar Moreira (1899-1982)

Escritora brilhante da literatura nacional do século XX que urge ser (re)apropriada, pelo realismo com que descreve a vida, sobretudo das portuguesas, nos anos de ditadura.

O seu início de vida divide-se entre Portugal, Moçambique, a Guiné e Angola, país onde irá consolidar uma carreira literária e jornalística.

O fascínio por Africa fez com que conhecesse muitos dos seus países, mas também que iniciasse um caminho direcionado para a escrita. Assim, e adotando o apelido da mãe, Archer, estreou-se, em Moçambique, como jornalista no jornal “Notícias de Lourenço Marques”. Ao longo da sua estada africana também proferiu conferencias, escreveu crónicas, reportagens, contos revelando as paisagens e os costumes deste continente. Em Luanda publica a sua primeira obra de ficção, a novela “Três Mulheres”, onde é retratada a vida das mulheres em Moçambique, publicação que recebeu excelente acolhimento pelo público e pela crítica.

Regressa a Lisboa em 1935, e intensifica a sua produção literária percorrendo diferentes géneros, e ainda colabora em diferentes jornais e revistas para além da rádio. Vive exclusivamente do seu trabalho e, enquanto mulher divorciada (por si só já um estigma), tem independência financeira, facto muito raro à época.

Os temas de eleição eram: a situação das mulheres, a justiça social e os problemas coloniais.

O talento na forma como aborda temas “tabu” fazem dela uma escritora incómoda. Sofre afrontas pela imprensa de esquerda e de direita. Num Portugal conservador e moralista Maria Archer não abdica do seu espírito critico destemido e inflexível. A sua forte presença, a sua beleza, a sua inteligência e a atitude frontal com que abordava os problemas sociais e coloniais, atribuem-lhe inquestionável admiração pública, mas é protagonista de enorme escândalo e a família afasta-se dela.

Apesar de se mover nos meios da oposição ao Regime de Salazar, ganha, em 1938, o Prémio de Literatura Infantil Maria Vaz de Carvalho, atribuído pelo Serviço de Propaganda Nacional, com o romance “Viagem à Roda de África”. Contudo, a censura mantinha-se atenta e no ano seguinte apreende-lhe o livro de novelas “Ida e Volta de Uma Caixa de Cigarros”.

Em 1945, aderiu ao Movimento de Unidade Democrática, e quatro anos depois participa na campanha eleitoral de Norton de Matos. As suas ações de oposição ao regime acabam por levá-la ao exílio no Brasil, onde passou a colaborar com a imprensa.

Mantém-se ativa politicamente, participou em diferentes conferências, palestras e participou na criação do Comité dos Intelectuais e Artistas Portugueses Pró-Liberdade de Expressão. Ainda no início de 1960, integrou a 1.ª Conferência Sul-Americana Pró-Amnistia para os Presos Políticos de Espanha e Portugal. A década de 1960 vai deixando de acolher a sua escrita e a pouco e pouco Maria Archer entra em rutura financeira.

Regressa a Portugal, em 1979, muito doente e financeiramente destruída. Faleceu, em 1982, sem deixar descendência, mas deixando extensa obra publicada revelando ser um verdadeiro relato antropológico da vida das mulheres em Portugal ao longo do Estado Novo.

Clara de Barros Queiroz

Maria Clara de Almeida de Barros Queiroz (1933 -), a bióloga, apaixonada pela genética, que a Ditadura expulsou, mas a Democracia recuperou.

Após terminar o curso de Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa inscreveu-se em Biologia na Faculdade de Ciências da mesma universidade. Contudo, torna-se elemento ativo da Associação de Estudantes o que lhe provoca alguma inconstância académia acabando por abandonar o curso.

Depois de ter o segundo filho, decide concluir a licenciatura de Biologia e dedica-se ao estudo da genética. É aceite para trabalhar na Escola de Medicina Veterinária, que tinha um laboratório de genética financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, e, depois de dois anos sem qualquer salário, a Fundação atribuiu-lhe um subsídio. Paralelamente, concorre e consegue o lugar de assistente na Secção de Botânica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, mas a PIDE interpõe-se e Clara Queiroz é obrigada a abandonar o cargo e deixa o país.

Apesar de estar no estrangeiro, Clara Queiroz, mantém uma forte ligação ao país continuando a reivindicar a libertação das colónias portuguesas e o fim da ditadura. Ao manifestar-se publicamente tiram-lhe uma fotografia que será publicada na imprensa e, como consequência, deixa de poder entrar em Portugal.

Torna-se, com o marido, representante da Committee for Freedom in Mozambique, Angola and Guinea, na Escócia.

Depois da Revolução de 25 de Abril, regressou a Portugal e foi reintegrada na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Aqui fundou e coordenou a Secção de Genética e Dinâmica de Populaçõe, foi responsável pela Linha de Investigação “Genética Ambiencial”, e coordenou o Centro de Genética e Biologia Molecular da Universidade de Lisboa.

É sócia da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres e membro fundador da European Association of Global Bioethics. Comendadora da Ordem da Liberdade, foi uma das mulheres entrevistadas e retratadas na série documental “Histórias das Mulheres do meu País”, de Raquel Freire.

Stella Piteira Santos

Maria Stella Bicker Correia Ribeiro Piteira Santos (1917-2009)

Ativista feminista, ativista política, presa e torturada pela PIDE, era a voz da rádio que, do estrangeiro, dizia: “Amigos, companheiros e camaradas, daqui fala a Rádio Voz da Liberdade, em nome da Frente Patriótica de Libertação Nacional”.

Stella iniciou-se no ativismo político, feminista e de oposição à ditadura do Estado Novo em 1934, começando por prestar apoio ao seu núcleo de amigos pertencente ao PCP, nomeadamente na datilografia de atas e sínteses de reuniões do topo do partido, ou ainda na rede de transporte e entrega de artigos e textos originais para a imprensa clandestina portuguesa.

Durante o mesmo período, foi uma das primeiras associadas da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, tendo os seus conhecimentos de alemão revelando-se muito úteis, anos mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial, quando ajudou inúmeros refugiados judeus, sobretudo da Alemanha, a viajar para Lisboa e realojá-los.

Ainda nesta década, ingressou no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, dirigido pela escritora e jornalista Maria Lamas, até ao seu encerramento forçado pelo Estado Novo em 1947, começando a prestar apoio às famílias dos presos políticos portugueses.

Foi uma militante política e ativista antifascista portuguesa. Presa e torturada pela PIDE em Lisboa, exilou-se posteriormente na Argélia, com Fernando Piteira Santos, de onde ajudou a transmitir vários programas de oposição ao regime do Estado Novo, através da Rádio Voz da Liberdade, com o poeta e político Manuel Alegre.

Sara Amâncio

Sara Barros Queiroz Amâncio (1946 -) ativista contra o Estado Novo, presa e torturada pela PIDE.

Oriunda de uma família republicana e antifascista, cedo começou a aperceber-se da situação social e política do país, da miséria, da repressão e das prisões e torturas levadas a cabo pela PIDE.

A primeira ação política em que participou foi em 1958, com apenas 12 anos, na distribuição de propaganda da campanha do Humberto Delgado. Durante a crise académica de 1962, integrou um grupo de ativistas do liceu, distribuindo comunicados, organizando iniciativas de apoio e participando nos plenários da Cidade Universitária. Em 1963 já estava ligada ao PCP, fazendo parte da direção da célula estudantil do Partido, com a função de “controlo dos liceus”.

Foi presa a 21 de janeiro de 1965, num quarto arrendado onde tinham estado a embrulhar imprensa clandestina, tendo sido encontrados detonadores e outros materiais que iriam justificar, em tribunal, a acusação de terrorismo.

Teve como advogado Jorge Sampaio e durante as alegações, acabou por falar sobre a liberdade para as associações de estudantes, a participação dos estudantes na vida académica, a realidade social do país, a liberdade de expressão, tendo sido dissuadida de falar sobre a guerra colonial e a não denunciar os horrores desta no julgamento, para não agravar a pena.

Em Portugal só conseguiu dar aulas em regime precário. Foi colocada em Évora e na Amadora, sempre como “provisória”, devido a ter a prisão averbada no registo criminal.

Em 1972 vai para Paris, onde participava também noutras redes, que passavam pelos grupos da Universidade, pelos debates da antipsiquiatria, de linhas muito mais heterodoxas, desde os movimentos ecologistas, como antinuclear e no movimento pelo aborto.

Foi vereadora da Câmara Municipal de Lisboa (1994-1998).

Isabel Moreira

Isabel de Lima Mayer Alves Moreira (1976-)

Jurista, académica, política e ativista pelos direitos humanos, em particular dos diretos das mulheres e das pessoas LGBTI, foi uma defensora da lei da despenalização do aborto e rejeita qualquer retrocesso em matéria da Interrupção Voluntária da Gravidez.

Mulher de fortes convicções, tem tatuada no braço a data da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Iniciou a sua carreira como docente na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, nas disciplinas de Direito Constitucional, Direitos Fundamentais e Direito Internacional Público.

Simultaneamente, exerceu advocacia na área de direito público e concluiu o seu Mestrado na Universidade de Lisboa, em Direito Constitucional.

Estive intensamente envolvida na luta pela consagração do casamento entre pessoas do mesmo sexo, tendo sido uma das autoras dos pareceres que deram origem ao livro “O casamento entre pessoas do mesmo sexo “( Almedina 2008).

Deputada à Assembleia da República pelo PS desde 2012, é autora, ou co-autora, das leis da adoção por casais do mesmo sexo , procriação medicamente assistida para todas as mulheres, autodeterminação da identidade de género e proteção das características sexuais e despenalização da morte medicamente assistida.

Tem estado sempre envolvida nas alterações legislativas relativas à igualdade de género e violência de género.

Pertence, desde 2012, à Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, bem como à Comissão de Saúde, à Comissão de Transparência, tendo sido Presidente da Subcomissão da Igualdade na última legislatura.

É autora de vários textos de direitos fundamentais, de entre os quais se destaca “A solução dos direitos, liberdades e garantias e dos direitos económicos, sociais e culturais na constituição portuguesa ( Almedina 2007) bem como de livros de prosa poética, cujo conteúdo ideológico nunca negou ( v.g. “Apátrida” ou “Cela “).

 

Beatriz Cal Brandão

Beatriz Magalhães Almeida Cal Brandão (1914-2011)

Engenheira química, foi resistente antifascista, cofundadora do Partido Socialista e defensora dos direitos das mulheres.

Desde a sua juventude lutou contra o fascismo, sendo presa, ainda estudante, com a sua mãe e uma tia, porque escreviam cartas anónimas e ouviam a BBC para se inteirarem acerca do que se passava na Guerra Civil de Espanha.

Dirigiu uma fábrica de cerâmica em Vila Nova de Gaia, onde foram feitos azulejos de oposição ao salazarismo e de solidariedade com os presos políticos.

Integrou o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e a Associação Feminina Portuguesa para a Paz. Em conjunto com Maria Lamas, Clementina Carneiro de Moura, Cesina Bermudes, Maria Alda Nogueira, Natália Correia, Francine Benoît e Maria Estanco Louro, assinou um documento que é publicado no Diário de Lisboa de 1945, com o título, “As mulheres e o movimento de oposição”, dando visibilidade à participação das mulheres no combate antifascista.

Foi eleita deputada à Assembleia Constituinte e depois à Assembleia da República, em várias legislaturas até 1985, onde foi subscritora do Projeto-lei do PS sobre exclusão da ilicitude, em alguns casos de interrupção voluntária da gravidez.

Em 1985, a propósito do Dia Internacional das Mulheres, culminando a Década da Mulher declarada pela ONU, na Assembleia da República, diz as seguintes palavras: “A aspiração da liberdade, a dignificação que nos é devida e o acesso à igualdade de direitos, consubstanciam uma luta desgastante, mas sempre renovada pela vontade das mulheres que sempre lutaram para vencer obstáculos (…) Graças ao 25 de Abril muitos passos em frente foram dados, muitas conquistas foram feitas”.

A 25 de abril de 1976, entra em vigor da Constituição da República Portuguesa, e na tribuna da Assembleia da República, Beatriz Cal Brandão reconhece o 25 de abril, como a data que estabelece a igualdade entre homens e mulheres em todos os domínios, ao mesmo tempo, saúda a Constituição aprovada, enquanto “motivo de orgulho por que, após 50 anos de obscurantismo, apresenta uma grande abertura à liberdade, igualdade e justiça”.

Durante toda a sua vida, lutou sempre pela defesa das mulheres, podendo ser considerada uma legítima continuadora do legado deixado por Adelaide Cabete, Ana Castro Osório, e por tantas outras.

Ana Augusta de Castilho

Ana Augusta de Castilho (1866-1916)

Professora, escritora, propagandista, maçom, militante republicana, ativista da causa feminista e defensora do Pensamento Livre.

Foi pioneira na reivindicação dos direitos das mulheres, sendo referida em alguns periódicos como “uma das mais prestigiadas defensoras dos direitos das mulheres“, tendo integrado vários movimentos e associações feministas, como a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, o Grupo das Treze, a Associação de Propaganda Feminista ou ainda a Cruzada das Mulheres Portuguesas, entre outras.

Foi também uma das fundadoras da Comissão Feminina “Pela Pátria”, criada com o objetivo de recolher donativos e matérias-primas para enviar aos soldados portugueses mobilizados durante a Primeira Grande Guerra.

Na LRMP, Ana Castilho foi membro da sua direção, tendo sido vice-presidente, tesoureira e integrou a Mesa da Assembleia Geral. Também escreveu periodicamente no órgão da LRMP, o jornal “A Madrugada”, que foi publicado entre 1911 e 1918, sendo dirigido, nos primeiros seis anos por Maria Veleda e que teve como colaboradora a açoriana Alice Moderno.

Foi iniciada na Maçonaria, pertenceu à loja Carolina Ângelo do Grande Oriente Lusitano, tendo adotado o nome simbólico Brites de Almeida (padeira de Aljubarrota).

O seu falecimento, em dezembro de 1916, foi amplamente noticiado não só em Portugal como na imprensa feminista espanhola. Entre nós, o jornal “A Folha”, através de textos de Alice Moderno e de Maria Evelina de Sousa, dedicou-lhe a primeira. Alice Moderno escreveu:

“O seu ideal supremo, a emancipação da mulher pelo trabalho, a reivindicação dos seus direitos pela justiça, apaixonou-a até ao leito em que a doença a prostrou por fim e onde a foi surpreender a morte, arrebatando-a ao fraternal convívio dos que a amavam como uma das mais dignas e respeitáveis do sexo e da classe!”

Maria Paula Meneses

Maria Paula Meneses (1963-)

Investigadora coordenadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, integra a linha de investigação sobre a ‘Europa e o Sul global: patrimónios e diálogos’. Faz parte do grupo de trabalho sobre as Epistemologias do Sul, sendo integrante do núcleo de estudos sobre Democracia, Cidadania e Direito.

As suas pesquisas abrangem o campo dos debates pós-coloniais, com destaque para as relações entre o Estado e as ‘autoridades tradicionais’ no contexto africano e o papel da história oficial, da memória e das ‘outras’ histórias.

Possui um doutoramento em antropologia pela Universidade de Rutgers (EUA) e um mestrado em história pela Universidade de São Petersburgo (Rússia).

Atualmente, leciona nos programas de doutoramento do CES e co-coordena o curso internacional ‘Epistemologias do Sul’. O seu trabalho foi publicado em diversos países, incluindo Moçambique, Espanha, Portugal, Brasil, Senegal, Estados Unidos, Inglaterra, Argentina, Alemanha, Holanda e Colômbia. o Centro de Estudos Sociais.

Aurora Teixeira de Castro

Aurora Teixeira de Castro (1891-1938)

Feminista, notária, advogada, autora, tradutora e ativista pelos direitos das mulheres, foi reconhecida como a primeira notária a exercer em Portugal e na Europa e a segunda a exercer advocacia no país, após Regina Quintanilha. Sufragista e feminista foi vice-presidente do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.

Apesar de ter as habilitações necessárias, começou a trabalhar como tradutora e secretária, não lhe sendo possível exercer advocacia sem a reforma do Código Civil Português, aprovado em 1867, ou a aprovação do Supremo Tribunal de Justiça.

Em 1918, foi criado o Decreto n.º 4676 que possibilitava às mulheres o poder para exercerem profissões na função pública, deixando, no entanto, explícito que os cargos dirigentes continuariam destinados aos homens e o direito ao voto permaneceria proibido para as mulheres.

Aurora aproveitou o momento e começou a exercer não só como advogada, tornando-se na segunda mulher a fazê-lo em Portugal, após o feito de Regina Quintanilha em 1913, mas desempenhava também as funções de notária pública, ficando assim conhecida na história como a primeira mulher a exercer esse cargo não só em Portugal como na Europa.

Pela mesma ocasião, querendo reivindicar não só o direito ao voto, como também a plena igualdade de direitos entre homens e mulheres, aderiu à Associação de Propaganda Feminista e ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.

Nos anos que se seguiram, desempenhou um papel bastante ativo na organização feminista, ganhando impulso e nome após publicar a obra ”Reivindicações Sociais e Políticas da Mulher Portuguesa na República” (1921).

Em 1924, foi organizado o primeiro congresso nacional feminista em Portugal, tendo Aurora pertencido à comissão organizadora.

Nos seus últimos anos de vida, entregou-se cada vez mais à causa feminista, começando-se a afastar do seu marido, divorciando-se em 1927. Nesta fase, escreve várias obras publicando inclusive peças de teatro, gerando uma enorme polémica na imprensa portuguesa, por ser apresentada a temática do feminismo através do seu enredo e das personagens, algumas do sexo masculino. que apoiavam o movimento.

Luíza Sarsfield Cabral

Maria Luíza Sarsfield Cabral (1941- ) antifascista portuguesa, fez parte do grupo Católicos Progressistas que lutaram contra o Estado Novo e a Guerra Colonial.

Envolve-se na crise académica de 1962, tendo participado nos protestos organizados pelos estudantes. Integra o Movimento Juvenil de Ajuda Fraterna, onde começou a ter atividades sociais e participa na construção de casas e uma biblioteca para a população de São Mamede de Infesta.

É na Faculdade que conhece o arquiteto Nuno Teotónio Pereira e passa a colaborar com a cooperativa cultural Pragma da qual este era membro fundador. Participa na distribuição dos Cadernos dos Grupos de Estudos e Intercâmbio de Documentação, Informações e Experiências.

Ao lado de Nuno e Natália Teotónio Pereira, ajuda jovens a passar a fronteira com Espanha para fugirem à guerra colonial. Participa também na ocupação do bairro do Bom Sucesso em Odivelas, e no programa de alfabetização de adultos promovido por Alfredo Bruto da Costa e Manuela Silva, que seguia o método criado por Paulo Freire.

A pedido do Nuno Teotónio Pereira, transforma um anexo da sua casa num arquivo que serve também como esconderijo de literatura proibida pelo Estado Novo, e como ponto de distribuição do Boletim Anticolonial.

Em 26 de novembro de 1973 são descobertos e Luísa Cabral é presa pela PIDE. Na prisão partilha cela com Maria da Conceição Moita das Brigadas Revolucionárias, com Fátima Pereira Bastos e Maria José Campos que faziam parte da Liga de Unidade e Ação Revolucionária. Durante os quatro meses que passa presa em Caxias, é interrogada e torturada pela PIDE.

Ao sair da prisão em março de 1974, é seguida pela PIDE, acabando o Regime por decidir que ela não possui as características apropriadas para lecionar, situação que se altera com o 25 de Abril.

Maria Lourenço Cabecinha

Maria Lourenço Calção Cabecinha (1933-2022)

Resistente antifascista e militante comunista portuguesa e ex-presa política, desempenhou um papel significativo na luta contra o regime ditatorial em Portugal.

Em 1947, envolve-se ativamente numa luta dos assalariados agrícolas, pelo aumento dos salários. Um ano depois, com 15 anos, tornou-se militante do Partido Comunista Português, na sequência da prisão de um dos seus tios. Aos 18 anos tornou-se funcionária do partido.

Entrou na clandestinidade em 1952, onde assumiu a manutenção e a defesa e vigilância das casas clandestinas, e prestou apoio técnico às tarefas de organização de António Gervásio, seu companheiro. Durante este tempo, também colaborou no jornal 3 Páginas com o pseudónimo de Leontina e n’ A Voz das Camaradas com o pseudónimo de Lina.

Lourença Cabecinha esteve cinco anos e meio presa no Forte de Caxias, entre 1964 e 1969, tendo sido julgada apenas dez meses após a detenção. Tinha sido condenada a dois anos e dez meses de prisão em Caxias, com medidas de segurança em regime de isolamento contínuo.

Após sair da prisão, regressou a Montemor-o-Novo e fez o exame da 4.ª classe. Em julho de 1970 regressou novamente à clandestinidade e mudou-se para Lisboa.

Lourença Cabecinha teve uma vida de luta contra o fascismo, viveu muitos anos na clandestinidade e na prisão, e após a revolução de Abril participou em ações da União de Resistentes Antifascistas Portugueses e era membro do Movimento Democrático de Mulheres desde a sua origem.

Hermínia Vicente

Hermínia Vicente (1953 – )

Nasceu em Casebres, numa casa de 35 metros quadrados, com chão de terra batida, sem rádio, livros, jornais. Filha de trabalhadores agrícolas, não imaginava outro destino: “O futuro era o trabalho.” Concluído o 4.º ano, saiu da escola.

Aos 11 anos, começou a trabalhar como operária agrícola; trabalhava o dia inteiro por menos dez tostões do que as mulheres adultas.

Em Alcácer do Sal, distrito de Setúbal, ela e os outros trabalhadores rurais trabalhavam bastante, mas o salário era pouco. Revoltava-se com a exploração a que eram sujeitas as trabalhadoras e com o tratamento dado às mais fracas.

Participou em lutas nos campos do Sul do País e na Reforma Agrária. As lutas nos campos do Sul em Portugal têm uma história significativa e marcaram a resistência e a busca por melhores condições de trabalho para os assalariados agrícolas, nomeadamente pela conquista do horário de trabalho de 8 horas.

No Processo Revolucionário em Curso (PREC), liderou o grupo de mulheres que tomou a herdade em Casebres, Alcácer do Sal, Setúbal, mas apesar do discurso da Igualdade, mulheres e homens não tinham ainda salário igual.

Não desistiu de intervir e ainda foi vereadora na Câmara de Alcácer do Sal, eleita em 1982 pela lista da Aliança do Povo Unido, tendo pedido a demissão devido ao seu divórcio. Naquele tempo, era raro haver uma separação por ali. Se era a mulher que decidia abalar, à noite estava lá, de manhã já não estava.”

A sua trajetória de vida é um exemplo de coragem e dedicação à luta pelos direitos dos trabalhadores e pela justiça social.

Luísa Basto

Luísa Basto (1947-)

Cantora de intervenção portuguesa, foge aos 13 anos para a União Soviética onde fez o seu percurso escolar.

Nascida Úrsula Lobato é oriunda de uma família pobre do Alentejo. Filha de militantes do PCP, entra com os pais na clandestinidade com apenas 12 anos.

Vive com os pais nas casas e tipografias clandestinas do PCP em Lisboa, Sintra e Amadora, local onde os pais de Úrsula Lobato viriam a ser presos.

Em Moscovo, frequenta a escola preparatória para estrangeiros. Em 1967 grava o seu primeiro disco intitulado Canções Portuguesas, do qual consta a primeira versão da canção Avante Camaradas, gravada com a Orquestra da Rádio e Televisão Soviética. O tema, tem o propósito de ser difundido clandestinamente através da Rádio Portugal Livre, que operava a partir de Bucareste, e da Rádio Voz da Liberdade, a partir de Argel, através das quais se tornará um dos mais populares hinos revolucionários em Portugal nos anos seguintes.

É a intérprete das célebres gravações Avante Camarada, um dos temas mais populares da atividade política comunista em Portugal, e de É Para Ti Mulher Esta Canção, hino do Movimento Democrático de Mulheres.

Com um talento e qualidade inigualáveis, o seu trabalho discográfico ‘Alentejo’ é um hino de amor à terra e suas gentes.

Lecionou ainda música nas escolas do Concelho da Moita, e em 1974 foi agraciada pela Câmara Municipal de Almada com a Medalha de Ouro de Mérito Cultural.

Flora Magro

Flora Carlota Alves Tavares Magro (1896-1980) foi uma importante lutadora antifascista em Portugal, cuja história é um testemunho da coragem e da determinação de muitos/as que se opuseram ao regime ditatorial em Portugal.

Já viúva, passou parte da vida a caminho das prisões políticas fascistas, onde estiveram também, enquanto presos políticos, o filho José Alves Tavares Magro, a nora Aida de Freitas Loureiro Magro e o genro Joaquim Pires Jorge, todos militantes ou dirigentes do PCP.

Como refere Gina de Freitas na entrevista que lhe fez logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 e publicada no Diário de Lisboa de 18 de dezembro, “é um exemplo de grande coragem, resistência física e moral” em defesa das condições prisionais dos familiares.

Então com 78 anos, declarou naquela entrevista que “durante 23 anos andei sempre a caminhar para as cadeias” e, entre 1951 e 1974, “só tive três meses de férias”, já que, alternadamente ou em simultâneo, chegaram a estar todos presos, à exceção da filha Helena, que entrou para a clandestinidade em 1945 e aí morreu em 1956, “no termo de uma gravidez muito difícil”, sem mais voltar a vê-la e só sabendo do triste desenlace três meses depois: «Não a vi viva nem fui ao enterro. É uma mágoa que nunca mais me sairá […]. Se ela tivesse sido presa ao menos vi-a. A Aida esteve presa seis anos, e eu ia visitá-la todas as semanas a Caxias. […] Era o que também podia ter acontecido à minha filha. E só soube da morte passados três meses de ela ter falecido.»

Helena Neves

Maria Helena Augusto das Neves Gorjão (1945 – ) feminista, jornalista, escritora, investigadora e docente universitária portuguesa.

Oriunda de famílias com raízes proletárias pelo lado do pai e da burguesia pelo lado da mãe, tendo sido o seu avô paterno, dono e mestre de uma oficina de cantaria, anarquista e ateísta, uma das mais influentes figuras nos seus primeiros anos de vida. O seu pai, funcionário da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), era apoiante do regime de António de Oliveira Salazar, e a sua mãe, outrora professora primária, vivia então dedicada aos papéis de mãe e esposa, proporcionando-lhe uma educação regrada, complementada com aulas de costura, piano e idas ao cinema para ver filmes bíblicos.

Aderiu ao PCP com 17 anos, o que lhe fez perder a Bolsa de Estudos e foi suspensa da Faculdade por 40 dias.

Fundadora do Movimento Democrático de Mulheres, foi presa pela PIDE quando integrava a lista da Comissão Democrática Eleitoral. Impedida de lecionar tornou-se jornalista, foi membro do Conselho Nacional para a Paz, e em 1973, candidata na lista da Oposição Democrática, quando voltou a ser presa e transferida para Caxias, de onde foi libertada apenas na véspera da abertura da campanha eleitoral. Voltaria a ser presa nos primeiros dias de abril de 1974, sendo libertada a 26 de abril.

Saiu do PCP, foi dirigente do Bloco de Esquerda e foi deputada à Assembleia da República (2001/2002). Professora Universitária e investigadora do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, da Universidade de Coimbra.

Em 1968, frequentou uma reunião de mulheres da oposição, organizada na casa da escritora Sophia de Mello Breyner, nascendo desse encontro a proposta de criação da direção da Comissão Eleitoral de Mulheres, com Eugénia Pereira de Moura, Helena Pato, Dulce Rebelo, Luísa Amorim e Lídia Pessoa Fernandes, entre outros nomes.

No ano seguinte, impedida de lecionar e com uma filha para cuidar, enveredou pelo jornalismo. Começou a trabalhar no Diário Feminino de Santarém, onde sofreu fortes pressões da PIDE, e posteriormente no Diário de Lisboa, Modas e Bordados ou no jornal República, integrando ainda o Movimento Democrático Eleitoral de Mulheres do distrito de Lisboa, conhecido posteriormente como Movimento Democrático de Mulheres, do qual é considerada uma das fundadoras, onde começou a interagir e colaborar com Maria Lamas, Lucília Estanco e outras mulheres antifascistas.

Em 1970, Helena Neves foi eleita para o cargo de diretora do Gabinete de Imprensa do Sindicato dos Empregados de Escritório de Lisboa e do Sul, integrando ainda a equipa que, em regime de “semiclandestinidade”, criou a Intersindical Nacional e o Boletim do Sindicato, sendo, no entanto, despedida do seu cargo devido à pressão do regime ditatorial.

Entre 1971 e 1974, dentro dos âmbitos políticos e associativos, ao lado de José Tengarrinha, Carlos Carvalhas e outros militantes comunistas, integrou o Conselho Português para a Cooperação e Segurança Europeia, a Assembleia de Representantes da Opinião Pública para a Cooperação e Segurança Europeia.

Presenciando uma nova era de liberdade em Portugal, e sem necessidade de ocultar a sua militância partidária, trabalhou na redação do jornal e órgão oficial do Partido Comunista Português, Avante!, dirigido por António Dias Lourenço, integrou a Comissão da Reforma Agrária junto do Comité Central e do Secretariado dos Jornalistas Comunistas.

Com Mário de Carvalho, foi conselheira no Conselho de Informação para a RDP e a RTP, e integrou o Núcleo e Comissão das Mulheres Comunistas, tendo participado na proposta legislativa, apresentada pelo partido, sobre a legalização do aborto, entre outras causas.

Após ter sido eleita para o Comité Central do PCP em 1989, dois anos depois abandonou a militância do partido comunista e do movimento democrático feminista, aderindo como independente ao Bloco de Esquerda, em 1999.

Eleita em 2001 e 2002, tornou-se numa das primeiras deputadas pelo Bloco de Esquerda na Assembleia da República durante a VIII Legislatura, tendo integrado a Comissão de Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e apoiado a legalização da contraceção de emergência, a união de facto de casais homossexuais, a criminalização da violência doméstica ou a legalização da interrupção voluntária da gravidez.

Maria Clara Correia Alves

Maria Clara Correia Alves (1869-1948) foi autora, professora, editora, jornalista, maçon, livre-pensadora, ativista republicana e sufragista portuguesa.

Em 1911, integra o núcleo de oradores da sessão do Grémio Lusitano, em honra do Governo Provisório da República e da promulgação da Lei do Registo Civil obrigatório. Participou ativamente nesta sessão do Grémio Lusitano, onde discutiu o papel das mulheres na família tendo expressado gratidão a Afonso Costa pelos seus esforços em prol das mulheres.

Anticlerical e de ideais feministas e republicanas, ingressou na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, na primeira década do século XX, onde conviveu e trabalhou com Adelaide Cabete, Carolina Beatriz Ângelo, Maria Veleda, Angélica Viana Porto ou Ana de Castro Osório.

Após a implantação da República Portuguesa, tornou-se numa das primeiras defensoras da secularização da educação em Portugal, participou em várias petições e ações para reivindicar o direito ao voto e ao divórcio.

Iniciou-se na Maçonaria e, em 1913, participou no 17º Congresso Internacional de Livre Pensamento, onde discursou sobre “O pensamento livre e a emancipação das mulheres”, dando ênfase à importância da educação para ambos os sexos de forma a se obter uma sociedade justa e igualitária, e aderiu à então recém-criada Federação Portuguesa do Livre Pensamento, onde se cruzou com Teófilo Braga, Heliodoro Salgado, Francisco José Teixeira Bastos, Deolinda Lopes Vieira e Ana Augusta de Castilho.

Durante a década de 1930, Maria Clara Correia Alves trabalhou como diretora da Biblioteca Municipal do 2.º Bairro de Lisboa, continuou a discursar em conferências e publicou diversos artigos e textos, colaborando com várias revistas e periódicos.

Noémia Delgado

Noémia de Freitas Delgado, é considerada uma das mulheres pioneiras no cinema português, ao qual esteve ligada, desde a década de 1960, como assistente de montagem e realizadora, tendo realizado o último filme, “Quem foste, Alvarez?”, em 1988.

O seu percurso no cinema inicia-se em 1963, altura em que vai trabalhar em montagem na produtora de António Cunha Teles. Em 1965 começa a trabalhar como realizadora. Neste ano concorre ao subsídio da Secretaria Nacional de Informação para poder frequentar a London School of Film Technique, que lhe foi depois retirado por motivos políticos.

Em 1975 realiza o seu primeiro filme etnográfico Máscaras e nele cruza a linguagem da ficção com a do documentário e filme etnográfico.

No ano seguinte vai trabalhar para Roma no filme Torre Bela sobre Portugal, do realizador Thomas Harlan. Dois anos depois volta para Portugal e é convidada a fazer 4 documentários para a série documental Palavras Herdadas do produtor João Martins, sobre escritores portugueses.

A par da escrita de guiões elabora projetos para a televisão e no início dos anos 80, consegue financiamento para realizar a série Contos Fantásticos.

Ligada desde os anos 60 ao cinema português e à geração do Cinema Novo, que então procurava revolucionar a produção cinematográfica nacional, foi assistente de Paulo Rocha em Mudar de Vida (1966) e de Manoel de Oliveira em O Passado e o Presente (1971), tendo depois estagiado em Paris com Jean Rouch.

Em 2000, numa entrevista recolhida para a publicação “Cineastas portuguesas 1874-1956“, sobre as primeiras mulheres ligada ao cinema português, Noémia Delgado conta que foi parar ao cinema por mero acaso em 1963, numa altura em que despontava um novo movimento na produção cinematográfica, e que esteve presa em Caxias durante um mês, por se opor ao regime político de Salazar.

Eugénia Varela Gomes

Maria Eugénia de Bilnstein Sequeira Varela Gomes (1925-2016)

Ativista política e assistente social, destacou-se pelos seus esforços contra o regime ditatorial português, sendo considerada uma importante figura pela defesa dos direitos dos presos políticos durante aquele período.

Foi como assistente social que se envolveu no meio operário, na década de 1950. Trabalhou junto da fábrica de cortiça da Mundet, no Seixal e posteriormente no Bairro da Boavista, em Lisboa, onde testemunhou os graves problemas sociais e económicos entre os habitantes dos bairros da lata.

Forçada a abandonar o emprego no Hospital de Santa Maria, onde era responsável pelo Serviço Social, apenas dois anos depois, devido aos seus ideais políticos, colaborou na campanha eleitoral de Humberto Delgado e esteve envolvida na revolta falhada da Sé, motivo pelo qual foi alvo de uma investigação, não chegando a ser presa.

É interrogada e torturada, devido à tentativa de golpe em Beja e, após dois anos e meio de prisão no Forte de Caxias, foi libertada devido à falta de provas.

Integrou-se na Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, à qual deu um grande impulso, começando igualmente a colaborar com a Amnistia Internacional. Também fez parte da Frente Patriótica de Libertação Nacional.

Assumiu uma posição de destaque dentro do sindicalismo, e em 1973 fez parte da campanha eleitoral, tendo sido espancada pela polícia de choque após o final de um comício.

Após o 25 de abril de 1974 começou a colaborar com vários advogados e membros da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, no sentido de impulsionar a libertação dos presos políticos, e o apoio aos refugiados por motivos políticos, tendo estado envolvida na libertação dos presos de Caxias. Recusou as compensações financeiras às quais tinha direito, devido à perseguição a que tinha sido sujeita pelo regime ditatorial, e devido ao seu despedimento compulsivo da BP e do Hospital de Santa Maria.

Helena Roseta

Maria Helena do Rego da Costa Salema Roseta (1947-)

Antes do 25 de Abril, esteve envolvida em movimentos cívicos, inicialmente no seio da Igreja Católica, e foi dirigente da Juventude Escolar Católica. Em 1973 participou no III Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, onde interveio sobre o tema da habitação. Foi detida pela PIDE neste mesmo ano.

Após a Revolução dos Cravos, iniciou um percurso político muito ativo, tendo aderido ao então Partido Popular Democrático, atual Partido Social Democrático. Foi eleita deputada à Assembleia Constituinte, em 1975, e à Assembleia da República, em 1976.

Em 1982 renunciou ao cargo de deputada por ter apoiado, por razões de consciência e contra a orientação da sua bancada, uma amnistia para os presos políticos do Partido Revolucionário do Proletariado/Brigadas Revolucionárias. Na sequência da renúncia ao cargo de deputada, recebeu a Medalha de Mérito do Conselho da Europa, em 1982.

Em 1986, demitiu-se do PSD para apoiar Mário Soares para Presidente da República. Nesse ano foi Presidente da Comissão do Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas. Em 1991, decidiu ingressar no PS, liderado por Jorge Sampaio.

Em 1998, dinamizou o Movimento Sim pela Tolerância, no referendo pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez e em 1999 integrou a Comissão Coordenadora do Movimento Nacional a Favor de Timor-Leste.

Em 2004, fundou o Clube de Política, Liberdade e Cidadania e em 2006, após ter apoiado a candidatura de Manuel Alegre a Belém, fez parte dos fundadores do Movimento de Intervenção e Cidadania.

Em 2005, foi agraciada com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Alice Sampaio

Alice Sampaio (1927-1983)

Escritora, feminista e contestatária ao Regime de Salazar, foi uma das tradutoras da obra “Sexual Politics”, de Kate Millet.

Vivendo em Angola, África confronta-a com uma vivência colonial contraditória, proporcionando-lhe, paralelamente, uma experiência de vida que se revelou determinante no percurso da sua vida. Entretanto, envolvida na contestação à Ditadura e no movimento feminista, é “convidada” a sair de Angola pelas autoridades do Regime, regressando a Portugal.

Chegada a Lisboa começou a trabalhar como farmacêutica, tradutora e, mais tarde, como professora.

Inicia, igualmente, a publicação os seus trabalhos literários: “A Cidade Sem Espaço” (1961); “O Aquário” (1963), Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores (SPE); “O Dom de Estar Vivo” (1967) romance em dois volumes que revela o seu olhar peculiar sobre a vida na aldeia nos seus tempos de infância. Já o primeiro volume do romance inacabado “Penélope” (1977) e a peça de teatro: “D. Leonor, Rainha maravilhosamente” (1968), levada à cena no Teatro Municipal de São Luís (1979), com encenação de Norberto Barroca e Lia Gama no principal papel, apresentam uma visão do papel, muitas vezes esquecido, das mulheres na História. A peça “A Rua da Ronda” (1969) é a primeira de uma trilogia para um “Teatro dos Pobres”.

Num Portugal profundamente patriarcal, a obra de Alice Sampaio é, sem dúvida, marcada pelas memórias da sua infância, pelo empenhamento militante contra o Salazarismo e pela luta para a emancipação das mulheres.

Manuela Aguiar

Maria Manuela Aguiar Dias Moreira (1942-)

Jurista, antiga Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas e deputada pela Emigração, fundadora da Associação Mulher Migrante. Tem trabalhado ativamente para que Maria Archer saia da invisibilidade.

Na atividade política foi Secretária de Estado do Trabalho (1978-1979), no governo de Mota Pinto; Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas (1980-81), no governo de Francisco Sá Carneiro; Deputada à Assembleia da República (1980/2005). Foi, pelo PSD, a primeira mulher Vice-Presidente da Assembleia da República (1987-1991).

Ao longo do seu desempenho político foi sempre voz ativa em nome dos/as emigrantes portugueses/as, preocupada com os seus direitos e reconhecimento do seu contributo nos países de acolhimento. Contudo, o núcleo das mulheres migrantes recebeu da sua parte um ainda maior envolvimento levando-a a fundar a Associação Mulher Migrante.

Esteve envolvida na criação da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego e, enquanto Secretaria de Estado da Emigração, promoveu o “1.º Encontro de Mulheres no Associativismo e no Jornalismo”.

Nos últimos anos, e no âmbito dos trabalhos desenvolvidos na sequência da AMM – Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade, envolveu-se ativamente no levantamento do trabalho bibliográfico e biográfico da escritora portuguesa Maria Archer através da realização de exposições, de colóquios e da organização de publicações sobre a mesma.

Maria Conceição Neuparth

Maria da Conceição Barbosa Sottomayor Neuparth (1929-2006)

Católica progressista, contestou o Regime e a guerra colonial.

Depois da Revolução de 25 de Abril fez uma recolha fotográfica por todo o país de muitas das pinturas murais alusivas ao momento histórico, cuja coleção se encontra no Centro de Documentação 25 de Abril.

Colaborou nas publicações clandestinas “Direito à informação” (1963-1969) e “Boletim anti-colonial” (1972-1973). Esteve associada ao grupo da Vigília do Rato (1972), um protesto enquadrado no movimento de contestação à guerra colonial que levou à intervenção da polícia e à detenção de muitas das pessoas nele envolvidas.

Diz quem a conheceu que “era uma presença muito combativa e também muito discreta nas lutas que atravessaram as décadas de 60 e 70”, de grande profundidade intelectual que, com muita facilidade, conseguia reunir à sua volta grupos de discussão e reflexão.

Depois da Revolução dos cravos, Maria da Conceição Neuparth manteve-se ligada a este boletim, de que tinha sido fundadora, e que, embora considerado um jornal discreto, foi importante nos meios católicos mais progressistas. Na década seguinte, trabalhou no Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral, criado logo em maio de 1974.

Amante de fotografia, e guardiã de emoções, foi fotografando as manifestações cromáticas que os lendários murais revolucionários revelavam da espontânea alegria, de desejos, de reivindicações. Possibilidades nacionais agora adquiridas, e renovadas ao longo dos anos de 1970 e 1980, mas que a pouco e pouco foram sendo apagadas ou removidas por todo o país. Estas fotografias, num total de 500, estão (por sua expressa vontade) guardadas sob o título “Colecção de Maria da Conceição Neuparth” no Centro de Documentação 25 de Abril.

Teresa Alvarez

Maria Teresa Alvarez Nunes (1957-)

Durante mais de duas décadas defendeu a educação para a cidadania na Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género.

Teresa Alvarez é licenciada em História, pela Universidade de Lisboa, e Mestre em Comunicação Educacional Multimédia, pela Universidade Aberta. É autora de diferentes publicações, nomeadamente de “Género e Cidadania nas Imagens de História” (2007); “O Feminino e o Masculino nos materiais pedagógicos (in)Visibilidades e (des) Equilíbrios”, (2009).

É, igualmente, da sua responsabilidade ou em coautoria a publicação de vários artigos científicos dedicados à área da igualdade entre meninas/raparigas e meninos/rapazes no âmbito da educação formal e informal.

Foi docente do ensino secundário, desde 1981, e no início deste século XXI passou a exercer funções na Comissão para a Igualdade e Direitos das Mulheres, hoje CIG. Aqui, abraçou a área da educação e a Instituição sentindo “que era a Casa onde queria estar!”.

Herdeira de um trabalho precocemente iniciado nos anos de 1970, e fortemente desenvolvido na década de 1990, embrenha-se no projeto “COEDUCAÇÃO: do Princípio ao desenvolvimento de uma prática”. Este foi um projeto-piloto transnacional coordenado pela CIDM e que, para além de diferentes instituições nacionais, envolveu organizações congéneres de França, de Espanha e de Itália. Dos 10 títulos produzidos, ainda existem alguns exemplares no Centro de Documentação da CIG.

Em 2008 abraçou um novo GRANDE desafio: a coordenação institucional dos “Guiões de Educação Género e Cidadania” (publicações individualizadas destinadas ao Pré-escolar, ao 1.º Ciclo, ao 2.º Ciclo e ao 3.º Ciclo) e “Conhecimento, Género e Cidadania no Ensino Secundário”. Este conjunto de materiais pedagógicos foi acompanhado, quer na conceção, quer na publicação, pela Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação e está disponível em formato digital no sítio da CIG.

Pelo meio destes 23 anos ao serviço da CIG fica a coleção “Trilhos”, “Fio de Ariana”; o trabalho com as Autarquias, com Conselheiras Ministeriais; com os projetos “Género e Envelhecimento: planear o futuro começa agora”; “A Escolinha em viagem para a Igualdade”; a organização de Seminários, especialista no Instituto Europeu para a Igualdade de Género e tantas outras atividades.

Luísa Dias Amado

Luísa Irene Dias Amado (1925-2021)

Personalidade prestigiada no seio do movimento democrático, foi militante antifascista desde a juventude. Pertenceu ao Movimento de Unidade Democrática e a sua ação como antifascista não se limitou ao longo período da Ditadura, intervindo também em diversas iniciativas depois do 25 de Abril que visavam não deixar esquecer esse período.

Pertenceu à Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e foi ainda presidente da direção do Conselho Nacional da União de Resistentes Antifascistas Portugueses.

Foi autora dos versos da canção de resistência “Cantemos um Novo Dia”, com música Fernando Lopes-Graça e que foi hino do MUD Juvenil.

Na faculdade estava já próxima dos combates da oposição e, em 1947, pertenceu a uma Comissão de Estudantes Universitários do MUD Juvenil que protestam junto do Ministro da Educação Nacional contra a prisão de estudantes ocorrida e contra a ingerência da PIDE nas universidades.

Licenciada em Germânicas, não foi autorizada a lecionar, sendo-lhe negado o diploma que lhe permitiria dar aulas no ensino oficial, vendo-se obrigada a viver de explicações, que dava em casa.

Após o 25 de Abril, deixou testemunhos orais e escritos, participou em inúmeras iniciativas em prol da memória do regime fascista, como a iniciativa para impedimento da construção de um condomínio de luxo no lugar onde esteve sediada a PIDE, em Lisboa.

Foi ainda uma das principais dinamizadoras da Comissão Promotora das Comemorações Populares do 25 de Abril, integrando-a, sempre como independente, desde o início até ao momento em que a mesma entregou esse testemunho aos partidos políticos que se assumem defensores dos valores do 25 de Abril, com a coordenação da Associação 25 de Abril.

Olga Mariano

Olga Mariano (1950-) é uma mediadora sociocultural, escritora, ativista pelos direitos da comunidade cigana e cofundadora da Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas e da Letras Nómadas – Associação de Investigação e Dinamização das Comunidades Ciganas. Foi a primeira mulher cigana a tirar a carta de condução em Portugal.

Aos 17 anos, foi emancipada pelo pai e tornou-se a primeira mulher cigana a tirar a carta de condução em Portugal, por ser a única da família que tinha concluído a 4ª classe, um critério obrigatório para fazer o exame de condução. A partir desse momento, passou a levar os pais às feiras e a transportar a família.

Durante 25 anos, trabalhou na feira de Almada, onde tinha uma banca juntamente com o marido.

Em 1999, após ficar viúva, foi selecionada, juntamente com outras cinco mulheres ciganas e onze africanas, para frequentar um curso de mediadora sociocultural. Em 2000, na sequência deste curso, em conjunto com mais quatro mulheres ciganas, formou a Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas, a primeira associação de mulheres ciganas em Portugal. Ao assumir a presidência, tornou-se a primeira mulher cigana a liderar uma associação deste género em Portugal, cargo que manteve até 2013.

Foi mediadora sociocultural numa escola de Lisboa e integrou o Gabinete de Ação Social da Câmara Municipal do Seixal. Foi ainda voluntária numa escola deste concelho, com o objetivo de aumentar a representatividade das pessoas ciganas no contexto escolar, em função da ausência de menção à cultura cigana nos manuais escolares.

Deu ainda formação sobre história e cultura cigana a técnicos municipais e de serviço social, a nível nacional.

Em 2013, criou a Letras Nómadas, uma associação cujo objetivo é a investigação-ação sobre as comunidades ciganas em Portugal, no âmbito do Romed – Programa Europeu de Formação para Mediadores Ciganos.

Em 2017, contribuiu para a criação do programa, cujo objetivo é a atribuição de bolsas de estudo universitárias, formação, tutoria e acompanhamento de jovens bolseiros/as das comunidades ciganas e suas respetivas famílias.

Em 2018 recebeu, em nome da Letras Nómadas, uma medalha de ouro comemorativa do 70.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e discursou na Assembleia da República.

Também na AR participou na elaboração de um relatório sobre racismo, xenofobia e discriminação étnico-racial, juntamente com outros representantes das comunidades ciganas e de organizações que trabalham com estas pessoas.

Tem três obras publicadas sob o pseudónimo Olga Natália.

Beatriz Pinheiro

Beatriz Paes Pinheiro de Lemos (1871 – 1922)

Autora, professora e editora, foi uma das mais relevantes republicanas feministas portuguesas do início do século XX.

Com presença assídua em vários periódicos assinou textos sobre a situação das mulheres portuguesas para as quais aspirava condições de educação e trabalho em equivalência com os homens, como garante de autonomia financeira, valorização pessoal e contributo social.

Fundou e dirigiu a revista literária Ave Azul (1899-1900), considerada a primeira revista feminista publicada em Portugal, revista de arte e crítica, que dedicou inúmeros artigos à situação legal e social das mulheres no país.

De valores republicanos, pacifistas e feministas, Beatriz Pinheiro foi uma das fundadoras da União das Senhoras Liberais de Viseu, angariou fundos e apoios para a criação da Escola Liberal João de Deus e colaborou nos periódicos A Beira, Nova Aurora, Almanaque das Senhoras, A Crónica, O Garcia de Resende e ainda no boletim oficial Alma Feminina, dirigida por Albertina Paraíso e Virgínia Quaresma, ou na revista mensal A Mulher e a Criança, onde escreveu vários artigos sobre a condição do sexo feminino na sociedade portuguesa do início do século XX, apelando à reivindicação e luta pelos direitos das mulheres, nomeadamente sobre o direito ao voto, a lei do divórcio, o acesso a profissões e artes consideradas masculinas, a igualdade salarial entre géneros e a independência económica das mulheres casadas, definindo ainda o feminismo como algo fundamental para “pôr a mulher em condições de viver dignamente na sociedade, por meio do seu trabalho, sem precisar dum homem que a mantenha”.

Já em Lisboa, aderiu à Associação de Propaganda Feminista, ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e é iniciada na maçonaria.

Beatriz Pinheiro tornou-se rapidamente num dos rostos mais conhecidos do movimento feminista em Portugal, tendo aderido e participado em inúmeras intervenções e associações, para além da campanha a favor da aprovação da lei do divórcio.

Na sua militância, aderiu ao Grupo Português dos Estudos Feministas, à Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, à Associação de Propaganda Feminista, e ainda ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, tendo ainda feito parte da comissão feminina portuguesa presente no 7º Congresso Internacional da Women Suffrage Alliance, realizado em Budapeste, Hungria, em 1913.

Isabela Figueiredo

Isabela Figueiredo (1963 – )

Escritora, foi testemunha do 25 de Abril e da descolonização e especializou-se em Estudos de Género pela Universidade Aberta de Lisboa.

Isabela Figueiredo parte de sua história pessoal para abordar temas como identidade, género, sexo, padrões estéticos e relações sociais. Um olhar sensível e crítico sobre as pessoas e as consequências dos seus atos e das suas decisões. Com uma obra que mescla memória, ensaio, observação pessoal e ficção, é reconhecida como uma das principais escritoras portuguesas contemporâneas.

A sua história de vida é indissociável da sua obra literária. Em 2009, publicou o romance autobiográfico “Caderno de memórias coloniais”, um registo que acompanha o olhar da criança, enquanto aprende sobre sexo e a relação de poder estabelecida entre brancos e negros e que foi eleito no ano seguinte como uma das obras portuguesas mais relevantes da década.

Em 2016, publica “A Gorda”, livro vencedor do Prémio Literário Urbano Tavares Rodrigues, baseado na sua história pessoal para abordar temas como identidade, género, sexo, padrões estéticos e relações sociais.

Atualmente, realiza ‘workshops’ de escrita criativa e participa em seminários e conferências sobre as suas principais áreas de interesse: estratégias de poder, de exclusão/inclusão, colonialismo dos territórios, géneros, corpo, culturas e espécies.

Maria do Pilar Ribeiro

Maria do Pilar Baptista Ribeiro (1911-2011)

Matemática portuguesa, foi cofundadora da Sociedade Portuguesa de Matemática, professora e antifascista.

Em 1933 licenciou-se em matemática pela Faculdade de Ciências de Lisboa. Exerceu o estágio no Liceu Pedro Nunes e depois disso lecionou a disciplina de Matemática no Liceu Camões.

No Verão de 1934, juntamente com o marido e Francisco Lyon de Castro, participou num congresso das Juventudes Comunistas de Espanha e, no âmbito desse congresso, organizaram exposições de solidariedade com os presos políticos portugueses.

Em 1947, devido a um “expurgo” aos matemáticos em Portugal, partiu com o marido para os Estados Unidos da América, onde foi instrutora de matemática na Pennsylvania State University.

Voltaria a Portugal após o 25 de Abril, passando a exercer funções como professora catedrática no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, entre 1976 a 1980.

Florbela Espanca

Florbela de Alma Conceição Espanca (1894-1930), foi uma poetisa portuguesa.

Em 1917 concluiu o liceu em Évora, matriculando-se depois na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Por esta altura, são publicadas as suas primeiras poesias.

A sua curta vida (36 anos) foi marcada pelo tumulto, inquietação e sofrimento.

O estilo peculiar da sua poesia, denso, amargo e triste, com forte teor emocional, é claramente marcado pela solidão e desencanto, destacando-se temas como o amor, a saudade, o sofrimento, a solidão e a morte, sempre na busca incessante da felicidade.

Florbela Espanca escreveu contos, poemas e cartas, mas foi no soneto que encontrou a sua melhor expressão poética, preferindo exprimir os acontecimentos que diziam respeito à sua própria condição sentimental, o que revelou uma faceta corajosa e à frente do seu tempo, numa sociedade marcadamente patriarcal.

Logo nas primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX, o seu caráter sentimental, confessional, marcado pela paixão, tornou Florbela Espanca uma grande figura do feminismo. 

A Mulher

Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!

 Como sabes ser doce e desgraçada!

 Como sabes fingir quando em teu peito

 A tua alma se estorce amargurada!

 

Quantas morrem saudosa duma imagem.

 Adorada que amaram doidamente!

 Quantas e quantas almas endoidecem

 Enquanto a boca rir alegremente!

 

Quanta paixão e amor às vezes têm

 Sem nunca o confessarem a ninguém

 Doce alma de dor e sofrimento!

 

Paixão que faria a felicidade.

 Dum rei; amor de sonho e de saudade,

 Que se esvai e que foge num lamento!

Fabíola Cardoso

Fabíola Cardoso (1972-)

Professora e ativista social, é reconhecida pelo seu trabalho em temas ambientais, educacionais e sociais como a causa LGBTI.

Fndadora do Clube Safo, associação portuguesa para mulheres lésbicas, foi também deputada à Assembleia da República pelo Bloco de Esquerda e Vice-Presidente da Comissão de Assuntos Europeus.

Enquanto ativista LGBTI, tem sido uma voz ativa na luta pelos direitos da homoparentalidade em Portugal. Em 2013, relatando o seu caso pessoal numa carta dirigida aos deputados da Assembleia da República, sublinhou que foi a situação da sua doença – um carcinoma invasivo da mama, que a obrigou a uma mastectomia e a tratamentos de quimioterapia – que a levou a tomar consciência de que, se morresse, nada na lei garantiria que a outra mãe pudesse ter a tutela sobre os seus dois filhos.

Defensora ativa na doação de sangue por parte de pessoas homossexuais, viu a Direção-Geral de Saúde retirar as referências discriminatórias com base na orientação sexual.

Maria dos Santos Machado

Maria dos Santos Machado (1890-1958)

Professora primária, feminista, militante do Partido Comunista e resistente antifascista, foi presa quatro vezes pelo Estado Novo, a última das quais já com 64 anos, acusada de auxiliar presos políticos e de pertencer à Comissão de Amnistia que se batia pela sua libertação.

Rubina era o pseudónimo utilizado na clandestinidade e, em 1935, escreve no jornal Avante! dois textos dirigidos às mulheres, intitulados a “Tribuna Feminina”.

Foi uma das fundadoras da Associação Feminina Portuguesa para a Paz e aderiu também à causa do esperantismo, tornando-se professora de português na Liga dos Esperantistas Ocidentais, considerada pela polícia política, como um baluarte do PCP.

Em 1938 consegue passar clandestinamente a fronteira para ir a Paris, onde participa no Comité da Frente Popular Portuguesa, na qualidade de delegada representante do Partido Comunista Português junto do Partido Comunista Francês, passando a garantir a ligação permanente entre as organizações anti-fascistas em Portugal, nomeadamente o Bloco Académico Antifascista, e os dirigentes comunistas exilados. Desenvolveu também um trabalho de ligação com o Partido Comunista de Espanha.

Em 1942 com a reorganização do PCP regressa a Portugal, tornando-se uma das primeiras mulheres a passar à clandestinidade como funcionária do PCP, bem como, a responsável por tipografias clandestinas durante 4 anos e três meses ininterruptamente. 

Apesar da fragilidade que a sua saúde ia apresentando, continuou sempre ativa no apoio aos presos políticos e às suas famílias.

Funda uma biblioteca em Algés e dinamiza a criação de uma escola para os filhos dos operários ferroviários de Campolide. O regime encerra essas iniciativas e decreta a sua expulsão do sistema de ensino, chegando a proibi-la de ensinar qualquer pessoa, mesmo que gratuitamente.

Lilica Boal

Maria da Luz Freire de Andrade (1934-)

Mais conhecida por Lilica Boal, é uma historiadora, professora, antifascista e anticolonialista cabo-verdiana, que lutou em Portugal contra a ditadura fascista e pela independência das colónias. Viveu no Tarrafal até aos 11 anos

Foi a primeira mulher deputada cabo-verdiana, bem como, a única mulher na primeira legislatura da Assembleia Nacional de Cabo Verde.

Em 1960 muda-se para Lisboa, e inscreve-se na licenciatura em história e filosofia da Universidade de Lisboa. É neste contexto que começa a frequentar a Casa dos Estudantes do Império e a despertar para os ideais de libertação.

Em junho de 1961, quando já tinha iniciado a luta em Angola, regressa ao continente africano, com o objetivo de lutar pela independência, numa “fuga rumo à luta”.

Desempenhou funções administrativas no Gabinete do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, mantendo assim os contactos com a comunidade de Cabo Verde, com o objetivo de discutir e mobilizar as pessoas para a possibilidade de lutar pela independência.

Em 1969 assume a Direção da Escola-Piloto do PAIGC, na Guiné-Conacri, que tinha como objetivo acolher os filhos dos combatentes e os órfãos de guerra, e onde se formavam e preparavam quadros para a libertação e o desenvolvimento do país. Foi também a responsável pela elaboração dos manuais desta escola.

Na altura, em que esteve na Escola-Piloto, integrou a direção da União Democrática das Mulheres e, enquanto responsável pelas relações internacionais, participou em várias reuniões internacionais, onde eram discutidas a situação da mulher em África e no mundo, a desigualdade, e a mutilação genital feminina.

Entre 1974 e 1979 foi diretora do Instituto Amizade do PAIGC, na Guiné-Bissau.  De 1979 a final de 1980 foi diretora-geral da coordenação do Ministério da Educação guineense.

Em 1980, regressou a Cabo Verde e trabalhou como inspetora-geral da educação, após o que iniciou funções no Instituto Cabo-verdiano de Solidariedade, onde permaneceu até se reformar. Foi ainda uma das fundadoras da Organização das Mulheres de Cabo Verde, sendo responsável pelas relações internacionais. Esta organização trabalhava no âmbito da alfabetização e da formação de pequenos negócios, que tinham como objetivo gerar rendimentos e aumentar a autonomia das mulheres.

Simone de Oliveira

Simone de Macedo e Oliveira (1938-)

Cantora, apresentadora e atriz portuguesa, conseguiu abanar uma sociedade adversa às mulheres com voz, em pleno Estado Novo, quando cantou em direto na televisão “quem faz um filho, fá-lo por gosto”.

Casou-se com 19 anos, mas fugiu três meses depois do casamento, por ser vítima de violência doméstica. Apenas conseguiu a separação judicial de pessoas e bens, por ter sido agredida em público.

Foi mãe, sem ser casada, por isso a sua filha e o seu filho foram considerados “de mãe incógnita” durante mais de dez anos, sendo a situação ultrapassada quando a sua filha precisou da emissão do Bilhete de Identidade para entrar no ciclo preparatório.

Dona de um estilo inconfundível, entrou no Centro de Preparação de Artistas da Emissora Nacional em finais dos anos 50. Estreou-se diante de uma plateia em 1958 e saiu vitoriosa por duas vezes no Festival RTP da Canção, com os temas “Sol de Inverno” (1965) e “Desfolhada” (1969).

Na sequência de um problema de saúde, perde a voz durante cerca de dois anos, levando-a a ter vários empregos, nomeadamente no jornalismo, na rádio, na locução de continuidade ou na apresentação de espetáculos.

Em 1973 conseguiu ultrapassar a doença que lhe tinha afetado as cordas vocais, volta a cantar e desde aí só se despediu dos palcos em março de 2022.

 

Foi agraciada com a Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (1997), Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2015) e com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito (2022).

Teresa Rosmaninho

Maria Teresa Seabra Rosmaninho (1955-2011)

foi uma psicóloga clínica, lutadora antes e depois do 25 de Abril pela defesa dos direitos e da dignidade das mulheres.

Entre 1983 e 1996, trabalhou no Instituto de Reinserção Social, ocupando-se entretanto de quem mais lhe interessava, ou seja, as vítimas, assumindo a coordenação nacional da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.

Fundou no Porto um clube Soroptimist Internacional, desdobrando-se em contactos, durante quase uma década, para criar a primeira casa-abrigo da cidade, que se veio a denominar “Porto de Abrigo”.

Entre 1996 e 2002 chefiou o Projeto INOVAR, do Ministério da Administração Interna, que marca uma clara evolução no tratamento das vítimas, uma vez que a PSP e a GNR começaram a ter formação na área da violência doméstica e a abrir salas de atendimento às vítimas.

Foi também uma grande impulsionadora de serviços de proximidade nas autarquias e lançou um dos primeiros programas de promoção de igualdade de género nas escolas.

Colaborou com os Centros de Saúde da Sub-Região de Saúde de Bragança no desenvolvimento de programas de prevenção e deteção de violência doméstica, mais especificamente na gravidez.

Colocou na agenda a criminalização da violência doméstica, bem como, a necessidade de proteção às mulheres violentadas.

Margarida Tengarrinha

Margarida Tengarrinha (1928-2023)

Filha da burguesia de Portimão, tornou-se militante do PCP e mergulhou na clandestinidade como funcionária. Após o 25 de Abril passou a ser membro do Comité Central do PCP, fez parte da Direção Regional de Lisboa e foi deputada pelo Algarve.

Iniciou a sua atividade política organizada no MUD Juvenil enquanto estudante na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde conheceu aquele que viria a ser o seu companheiro, o artista e destacado membro do PCP, José Dias Coelho, que haveria de ser assassinado pela PIDE em 1961.

Em 1952 foi expulsa da ESBAL, proibida de frequentar todas as faculdades do país e de manter a sua posição de professora, pela sua participação na luta pela Paz, pelo desarmamento atómico e contra a reunião da NATO em Lisboa. Nesse mesmo ano tornou-se militante do PCP.

Em 1955 passou à militância clandestina do PCP, usando as suas habilidades artísticas para falsificar documentos e, desta forma, apoiar o trabalho dos resistentes à ditadura. Foi redatora do boletim A Voz das Camaradas, dirigida às mulheres militantes do PCP, e do Jornal Avante.

Esteve em Moscovo com Álvaro Cunhal, com quem trabalhou dois anos, e depois na Roménia, onde desempenhou funções de redatora da Rádio Portugal Livre. Retornou a Portugal em 1968, regressando à clandestinidade e à redação no Jornal Avante.

De 1974 a 1988 integrou o Comité Central do PCP e foi deputada à Assembleia da República nas III e IV legislaturas.

Paula Cardoso

Paula Cardoso (1979-)

Militante antirracista luso-moçambicana, jornalista, criadora da série de livros infantojuvenis “Força Africana” e da plataforma online “Afrolink”, foi selecionada para a lista Top 100 Women In Social Enterprise 2022 da EuclidNetwork, uma rede europeia de empreendedorismo social apoiada pela Comissão Europeia com o objetivo de dar visibilidade ao impacto dos trabalhos

Nasceu na cidade da Beira, em Moçambique, e aos três anos vem para Portugal. M 2012 vai para Angola chefiar a redação do jornal Agora e anos mais tarde assumiu o cargo de direção online do Novo Jornal.

De regresso a Portugal, deu início a projetos de combate ao racismo e promoção de uma maior representatividade negra e criou a marca de livros infantojuvenis Força Africana, nos quais os/as protagonistas são personagens negras com o objetivo de valorizar a cultura africana.

Obedecendo ao mesmo desejo, lançou o Afrolink , uma plataforma online onde se encontram profissionais africanos e afrodescendentes residentes em Portugal, para partilharem experiências, valorizar competências, ou divulgar e suportar negócios. Está ainda ligada ao talk-show online O Lado Negro da Força que pretende dar visibilidade a pessoas racializadas, das mais variadas áreas, à segunda temporada do Black Excellence Talk Series, da RTP África e à produção de conteúdos do talk-show Jantar Indiscreto, da RTP2.

Julieta Gandra

Maria Julieta Guimarães Gandra (1917-2007)

Médica portuguesa, foi presa por apoiar a Independência de Angola. Foi considerada a “Prisioneira de Consciência do Ano” da Amnistia Internacional, em 1964.

Em Angola, exerceu a profissão de ginecologista, consultando mulheres da elite colonial branca portuguesa, e mediante pagamento simbólico, atendia mulheres angolanas numa das zonas mais pobres da cidade. Socialmente, misturou-se com muitos dos intelectuais angolanos que fundaram o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), como Agostinho Neto, Lúcio Lara e Paulo Teixeira Jorge . Durante a campanha presidencial portuguesa de 1958, num comício de apoio ao líder da oposição Humberto Delgado, dirigiu-se, no início do seu discurso, às “mães negras”.

Acusada de conspirar contra a segurança externa de Portugal, de ser membro do Partido Comunista Português e de dar dinheiro ao MPLA, foi detida em Agosto de 1959 e levada para um hospital psiquiátrico enquanto aguardava julgamento. Foi julgada, juntamente com outros arguidos, naquele que foi o primeiro julgamento político de nacionalistas angolanos e ficou conhecido como o “Processo dos anos 50”, por ter a intenção de “separar, por meios violentos ou ilegais, o território de Angola da Pátria”. Não foram apresentadas provas e o seu advogado não foi autorizado a sair de Lisboa para a defender em Luanda. Ela foi inicialmente condenada a um ano de prisão, mas esta foi aumentada para três anos depois do governo ter recorrido.

Tornou-se pioneira na promoção da pílula contracetiva oral em Portugal, defendendo que as mulheres tinham direito ao prazer sexual sem serem penalizadas pela gravidez. A partir de 1970, viveu com ela uma revolucionária comunista de quem se aproximara na prisão, Fernanda de Paiva Tomás.

Após o 25 de Abril de 1974, a sua casa foi o local da primeira reunião para planear a primeira manifestação anticolonial em Lisboa. Esteve também presente na assinatura do Acordo de Alvor que concedeu a independência de Angola de Portugal. Depois disso, regressou a Angola, acompanhado por Fernanda Tomás, para preparar para o Serviço Nacional de Saúde de uma Angola independente.

Albina Fernandes

Albina Fernandes (1928-1970)

Combatente da resistência francesa e ativista comunista, a quem a PIDE infligiu violentas torturas psíquicas, Albina Fernandes foi julgada no dia 17 de novembro de 1962, na sequência da prisão em 15 de dezembro de 1961, no mesmo dia que o companheiro Octávio Pato.

Sem ter a quem os confiar, levou os filhos Isabel e Rui, de seis e dois anos, e manteve-os junto de si em Caxias. Deitava-os no único divã e descansava de joelhos no chão e com as mãos agarradas aos pulsos deles, para que não lhos tirassem. Ameaçada de lhe tirarem os filhos para serem entregues numa instituição, dado os pais não serem casados e os registos estarem irregulares devido à situação de clandestinidade em que viviam, desencadeou uma luta com os agentes da Pide para que as crianças fossem entregues aos avós paternos.

Em novembro de 1966, numerosos cidadãos assinaram uma petição a solicitar a sua libertação, atendendo a ter já cumprido a pena a que tinha sido condenada e ao debilitado estado de saúde em que se encontrava. Só lhe foi concedida a liberdade condicional a 9 de julho de 1968, sendo solta a 11 do mesmo mês.

Com o seu sistema nervoso extremamente debilitado pelos anos de prisão, não resistiu à angústia de uma vida constantemente adiada e suicidou-se no dia 2 de outubro de 1970.

Diversas personalidades opositoras ao Regime, Cecília Areosa Feio, Maria Eugénia Varela Gomes e Sophia de Mello Breyner Andresen, responsabilizaram diretamente o Governo.

O seu funeral constituiu uma impressionante manifestação de pesar e protesto contra o fascismo.

Manuela Tavares

Maria Manuela Paiva Fernandes Tavares (1950-)

Proveniente de uma família com poucos rendimentos, foi continuamente incentivada pelo pai a prosseguir os seus estudos. O seu excelente desempenho escolar e a contínua atribuição de bolsas garantiram a sua entrada no Instituto Superior de Economia e Finanças, atual ISEG.

Ainda estudante, desperta a sua consciencialização política e social, mas é depois do 25 de Abril que assume uma posição política mais ativa.

Acompanhando as movimentações de mulheres para a reorganização dos espaços coletivos, Manuela Tavares compreende paulatinamente a existência de alguns obstáculos à afirmação das mulheres, não obstante o 25 de Abril.

Enquanto professora, disponibilizara-se para alfabetizar muitas mulheres que não sabiam ler ou que não tinham a 4ª classe, mas rapidamente se apercebe das dificuldades sentidas pelas mulheres que queriam frequentar estas aulas de alfabetização à noite.

A 12 de setembro de 1976, Tavares está presente num Encontro de Mulheres no Instituto Superior Técnico que marca a formação da UMAR, na altura União de Mulheres Antifascistas e Revolucionárias.

Manuela Tavares desempenhou um papel ativo na luta pela despenalização do aborto, publicando em 2003 a obra “Aborto e Contraceção em Portugal”, dando a conhecer a história destes movimentos em Portugal através da voz das protagonistas.

Foi Presidente da UMAR, e sua representante em várias reuniões na Europa, uma das representantes portuguesas no Lobby Europeu de Mulheres e fez ainda parte da delegação portuguesa à Conferência de Pequim, em 1995.

Em 2008 foi ainda membro da Comissão Promotora e da Comissão Organizadora do Congresso Feminista 2008, realizado em Lisboa, evocativo dos 80 anos do II Congresso Feminista e da Educação.

Os seus projetos mais recentes reafirmam a importância de um trabalho ininterrupto de consciencialização da comunidade e de debate dos feminismos. Ampliando o seu espectro de atuação, Manuela Tavares tenciona que esta consciencialização social atinja os espaços mais remotos de Portugal. Enquanto presidente da Associação Fragas Aveloso, criada em 2013 em homenagem à sua filha, será de sublinhar o recente projeto GIESTA- Mulheres e Raparigas do Interior e do Meio Rural, Promover a Igualdade de Género, que procura consciencializar as mulheres do meio rural sobre as questões do feminismo, através de ações de formação sobre participação comunitária, direitos das mulheres e a história dos feminismos.

Atualmente, Manuela Tavares é investigadora integrada no Centro Interdisciplinar de Estudos do Género no ISCSP e coordenadora do Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães, para além de membro da direção da UMAR.

Leonor Beleza

Leonor Beleza (1948-)

Advogada, e Presidente da Fundação Champalimaud desde a sua criação, foi membro da Comissão da Condição Feminina (atual CIG), de 1975 a 1982, e presidente do Comité para a Igualdade entre as Mulheres e os Homens do Conselho da Europa, de 1979 a 1983.

Participou, em 1977, na alteração do código civil português, tendo sido uma forte influência principalmente no que diz respeito à consagração da igualdade de direitos para mulheres e homens.

Foi a primeira Secretária de Estado a ser tratada no feminino, por seu pedido expresso ao então primeiro-ministro. Foi a primeira mulher Ministra da Saúde, de 1985 a 1990.

Fundadora do PSD, foi também um dos membros pioneiros da SEDES, uma das mais antigas associações cívicas nacionais e presidiu ao Conselho de Administração do Instituto Francisco Sá Carneiro, de 1991 a 1996.

Segundo a própria, foi a pedido de Francisco Sá Carneiro que fez o seu primeiro discurso sobre a igualdade de género.

Eleita deputada do Parlamento em diversas ocasiões, foi Vice-Presidente do Parlamento entre 1991-1994 e 2002-2005, e é atualmente membro do Conselho de Estado.

Participou por diversas vezes no programa da RTP, “É sempre bom saber”, sobre os direitos das mulheres.

Em 1981, foi eleita presidente do Comité para a Igualdade entre as Mulheres e os Homens do Conselho da Europa.

Glória Marreiros

Glória Maria Marreiros (1929-)

Parteira e enfermeira psiquiátrica, trabalhou na Maternidade Alfredo da Costa, entre 1954 e 1961, com o médico Pedro Monjardino que, ao lado Cesina Bermudes, foi pioneiro em Portugal do parto sem dor. Fundou, juntamente com Maria Lamas e outras mulheres, o Movimento Democrático das Mulheres.

Participa em 1956 na criação do Centro Helen Keller em Lisboa, do qual virá a ser diretora.

Embora tenha começado a escrever em 1945 para o jornal Gazeta do Sul, com prosa e versos que por vezes assinava com o anagrama Airolg, é em 1962, que dá início à sua carreira como escritora ao publicar o seu primeiro livro, Maternidade.

Paralelamente, dá início à sua atividade enquanto ativista antifascista, ao ceder a sua casa para encontros de membros do PCP e daqueles que passaram à clandestinidade durante a ditadura portuguesa. Em 1958, envolve-se na campanha eleitoral para as eleições presidenciais de Humberto Delgado e filia-se no partido.

De 1965 a 1967 traduziu artigos do jornal Gramma, órgão oficial do Comité Central do Partido Comunista de Cuba, para o boletim da Embaixada de Cuba em Lisboa. É várias vezes presa pela PIDE e colabora com a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e Famílias. Foi, ainda, candidata na lista da Comissão Democrática Eleitoral às eleições legislativas.

Mantém-se politicamente ativa após o 25 de Abril e colaborando com a Comissão para a Memória do Forte de Peniche e a União de Resistentes Portugueses Antifascistas.

Foi várias vezes candidata pelo PCP nas eleições autárquicas em Lisboa.

Teresa Joaquim

Teresa Maria da Conceição Joaquim (1954-)

Filósofa, investigadora, feminista e coordenadora do Mestrado pioneiro em Portugal em “Estudos sobre as Mulheres – Género, Cidadania e Desenvolvimento” da Universidade Aberta.

É membro do Centro das Migrações e das Relações Interculturais e foi membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (1996- 2001).

Foi umas das principais responsáveis pela consultoria científica dos “Guiões de Educação, Género e Cidadania”, materiais científico-pedagógicos produzidos e editados pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) a partir de 2008.

É membro da Associação Portuguesa de Estudos Sobre as Mulheres, da Rede Europeia de Estudos das Mulheres/ATGender e da Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas.

Exerceu funções como Técnica Superior na Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género onde “provocou” as colegas para interessantes reflexões sobre a importância da Filosofia no rumo que a vida das meninas/raparigas/mulheres, mas também a vida dos meninos/rapazes/homens, tomou ao longo dos séculos.

Muito ligada às questões em torno da maternidade, Teresa Joaquim tem cruzado esta área com outras disciplinas do saber, nomeadamente “compreender a ligação entre Antropologia e Filosofia”.

Com intensa participação em Seminários, Conferências e Colóquios, tem, igualmente, extensa obra publicada, de que se destacam: Dar à Luz (1983), A questão da maternidade e o imaginário coletivo; As causas das mulheres: a comunidade infigurável; Cuidar dos Outros, Cuidar de Si, questões em torno da maternidade; “Masculinidades, feminilidades”.

Sandra Ribeiro

Sandra Ribeiro (1973-)

Licenciada em Direito, especializou-se em Direito do Trabalho, área em que começou a sua vida profissional, primeiro como advogada e depois como Técnica Superior no Instituto do Emprego e Formação Profissional.

Em 2008 fez parte do grupo de trabalho coordenado pelo Ministro do Trabalho José António Vieira da Silva, que apresentou propostas de alteração ao Código do Trabalho, e onde constava a criação do novo regime da parentalidade, que introduziu o sistema da promoção da partilha da licença parental entre progenitores.

Foi Presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (2010 – 2014), tendo sido aprovado no seu mandato o Decreto-Lei que criou a orgânica da CITE, mais de 30 anos após a sua criação. Priorizou o envolvimento do mundo empresarial na promoção da igualdade entre mulheres e homens no mercado de trabalho, destacando-se a criação do IGEN – Fórum das Empresas pela Igualdade. Impulsionou ainda a análise tripartida de Instrumentos de Regulamentação Coletiva de Trabalho numa perspetiva de género, promovendo a eliminação de cláusulas discriminatórias.

Foi ainda coordenadora do primeiro guia de apoio à prevenção do assédio sexual através da contratação coletiva e do guião de apoio nas inspeções do trabalho para identificação de situações de discriminação de género no trabalho.

Em 2016 participou na elaboração do Livro Verde sobre as relações laborais.

Em 2017 fez parte dos trabalhos de elaboração da proposta que deu lugar à Lei que aprovou medidas de promoção da igualdade remuneratória entre mulheres e homens por trabalho igual. Participou ainda nos trabalhos de discussão para a alteração do Código do Trabalho no sentido de fortalecer os meios de prevenção e combate ao assédio sexual e moral no trabalho.

Entre 2018 e 2020 dirigiu a Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho, onde implementou, ainda antes da pandemia COVID19, a possibilidade de teletrabalho como medida de promoção da conciliação entre vida profissional, familiar e pessoal.

É presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género desde outubro de 2020.

Isaura Borges Coelho

Isaura Assunção da Silva Borges Coelho (1926-2019)

Antifascista, lutou pelo direito das enfermeiras ao casamento.

Iniciou a sua carreira no Hospital dos Capuchos, onde realizou ações de protesto e reivindicação por melhores condições de trabalho. Promoveu também um abaixo-assinado dirigido a António de Oliveira Salazar, ao Cardeal Cerejeira e ao Enfermeiro-mor dos hospitais, em protesto contra a lei que proibia o casamento por parte das enfermeiras.

Devido a essa iniciativa, foi presa em 1953, tendo ficado conhecida pela polícia política como a casamenteira.

Os relatos do seu espancamento e tortura eram de tal modo chocantes, que geraram protestos, sendo distribuídos folhetos a favor da sua libertação, em Lisboa.

Por altura do seu julgamento, a PIDE encarregou-se de ocupar todos os bancos destinados ao público, para tentar impedir o acesso de apoiantes. Contudo, Alexandre O’Neill, Maria Lamas, Álvaro Veiga de Oliveira e Maria Isabel Aboim Inglês conseguiram entrar na sala do tribunal.

Foi condenada a dois anos de prisão, mas esteve presa cerca de quatro anos, com um estado de saúde bastante fragilizado.

Em 1957, após sair da prisão, adere ao Partido Comunista Português.

Casou em 1959, no Forte de Peniche, um acontecimento que quebrou a monotonia da prisão, sendo visto como um espetáculo pelos outros presos.

Proibida de trabalhar em hospitais públicos, conseguiu ingressar numa clínica particular e, só após muitos esforços, conseguiu entrar no curso de Puericultura e Partos na Maternidade Alfredo da Costa, onde trabalhou como enfermeira eventual.

Após o 25 de Abril de 1974, foi convidada para o posto de enfermeira-chefe nos Hospitais Civis de Lisboa, mas recusou a oferta.

Foi delegada sindical das enfermeiras da Maternidade Alfredo da Costa, junto do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, até à sua reforma.

Heloísa Perista

Heloísa Perista (1963-)

Socióloga e investigadora sénior no Centro de Estudos para a Intervenção Social, tem dedicado, nos últimos 30 anos, as suas investigações à igualdade de género no trabalho e no emprego e à articulação entre trabalho pago e trabalho não pago de cuidado, na perspetiva dos usos do tempo de mulheres e de homens.

Coordena a equipa que atua, em Portugal, como membro da rede europeia de correspondentes de Observatórios promovidos pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho e a equipa do CESIS que assume o papel de ponto focal nacional da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

Foi responsável pela monitorização e avaliação do projeto Effective Gender Equality in Research and in Academia e tem assumido a co-coordenação da avaliação técnica das candidaturas a diferentes edições do Prémio Igualdade é Qualidade.

Faz parte do Comité de Gestão da Cost Action IS1409: Gender and Health Impacts of Policies Extending Working Life in Western Countries, é consultora do iGen – Fórum Organizações para a Igualdade e colabora como perita em Igualdade de Género com agências nacionais e europeias, como o Instituto Europeu para a Igualdade de Género. Tem coordenado a realização de Auditorias de Género em organizações e prestado apoio à conceção de Planos para a Igualdade de Género, em empresas e autarquias.

Entre os diversos estudos e projetos que desenvolveu, destacam-se: Agir para a Igualdade, Diálogo Social e Igualdade nas Empresas, Break Even – Igualdade de Género nas Empresas e Inquérito Nacional aos Usos do Tempo de Homens e de Mulheres.

É formadora e docente em diversos cursos pós-graduados, no domínio da igualdade de género.

Heloísa Apolónia

Heloísa Augusta Baião de Brito Apolónia (1969-)

Jurista de profissão, desde cedo se interessou pelas questões ecológicas, mas tem também sido uma das vozes mais fortes no apelo à igualdade de género, debatendo a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, as condições precárias das mulheres em ambiente de trabalho e denunciando questões como a desigualdade salarial.

Iniciou a sua intervenção política na associação de estudantes, no ensino secundário, o que lhe alimentou “o gosto pela participação no coletivo, pela troca e pelo debate de ideias, pelo confronto com os problemas e pela procura de soluções”.

Na Assembleia da República, interveio diversas vezes em defesa dos direitos das mulheres, pois nas sua palavras as “mulheres ainda são bastante vítimas de assédio sexual no local de trabalho, ainda são as maiores vítimas de pobreza, as maiores vítimas de violência, as maiores vítimas da prostituição e do tráfico de seres humanos.”

Tornou-se o rosto do Partido Ecologista “Os Verdes”, tendo sido deputada à Assembleia da República durante 14 anos, de 1991 a 2015. É membro da Comissão Executiva Nacional do PEV.

Sara Falcão Casaca

Sara Falcão Casaca (1971-)

Foi presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género em 2010, integrando, atualmente, o Grupo Técnico-Científico do Conselho Consultivo da CIG, na qualidade de personalidade de reconhecida competência científica nas áreas dos direitos das mulheres, da igualdade de género e da cidadania.

É Professora Catedrática do Instituto Superior de Economia e Gestão, investigadora do Consórcio em Ciências Sociais e Gestão, do qual é coordenadora, é investigadora e presidente do SOCIUS – Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações, e preside atualmente ao Conselho Económico e Social.

Assumiu, entre 2005 e 2009, a copresidência da rede de investigação da Associação Europeia de Sociologia “Relações de género no mercado de trabalho e no estado de bem-estar social”.

Faz parte do Comité Científico da RN14 – Research Network in Gender Relation in the Labour Market and the Welfare State, da European Sociological Association, e é membro da Equal Pay International Coalition, em representação do ISEG.

É responsável pela elaboração de conteúdos de formação em “Género e Mudança Organizacional” para o Centro Internacional de Formação da OIT e pela realização de Auditorias de Género em diversas organizações, para além de colaborar, como perita em Igualdade de Género, com agências nacionais, europeias e internacionais.

Coordenou a Research Network – Gender Relations in the Labour Market and the Welfare State, da European Sociological Association, os projetos Women on Boards – An Integrative Approach e Os Benefícios Sociais e Económicos da Igualdade Salarial entre Mulheres e Homens.

Teresa Morais

Maria Teresa da Silva Morais (1959-)

Jurista e docente universitária, foi Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade no XIX Governo Constitucional, entre 2011 e 2015, altura em que assumiu a pasta de Ministra da Cultura, Igualdade e Cidadania do XX Governo Constitucional.

Dedicou-se à luta pela igualdade de género em meio laboral e ao combate à violência doméstica. Nas funções de Secretária de Estado, conseguiu que treze empresas cotadas na bolsa assinassem um acordo de compromisso para ter 30% de mulheres nos seus Conselhos de Administração e direções até 2018.

Foi docente na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, na Universidade Moderna de Lisboa, no Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais e na Universidade Lusíada de Lisboa.

Militante do PSD, foi eleita deputada à Assembleia da República nas IX e XI legislaturas, tendo sido vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, coordenadora das áreas da Justiça e da Igualdade e presidente da Subcomissão de Igualdade.

Atualmente é Vice-Presidente da Assembleia da República.

Alzira Lemos

Maria Alzira da Costa de Castro Cardoso de Lemos (1919-2005)

Feminista, jurista, membro da Assembleia Constitucional de 1975 e deputada à Assembleia da República em 1977, envolveu-se ativamente na formação da Plataforma para os Direitos das Mulheres. Foi também a primeira mulher convidada a proferir uma conferência na Ordem dos Advogados

Neta do antigo primeiro-ministro português Afonso Costa, passou grandes períodos em Paris junto do seu avô, que aí se exilou na sequência do golpe de Estado que implementou a Ditadura Fascista em Portugal.

A sua consciência feminista despertou durante o curso de Direito, quando se apercebeu que as mulheres tinham um estatuto e uma educação inferior à dos homens, tanto no trabalho como no emprego e na família.

Enquanto deputada, debateu-se pela conquista de uma cidadania mais igualitária, legal e social, nomeadamente pela política de emigração portuguesa e pelas condições necessárias a que mais de metade da população, as mulheres, pudessem participar na consolidação do Estado democrático. Defendeu o combate às discriminações que afetavam a população feminina em Portugal apenas por serem mulheres, como meio para a instauração de novas relações e de uma nova sociedade mais justa.

Entre 1974 e 1975, colaborou nos trabalhos preparatórios, em representação do Partido Socialista, da Comissão Instaladora da Comissão da Condição Feminina, cuja primeira iniciativa constituiu no levantamento das situações de discriminação legal das mulheres. Entre 1980 e 1992, trabalhou como técnica superior nesta mesma entidade.

Em 1975 participou na Iª Conferência Internacional sobre as Mulheres, dedicada ao lema Igualdade, Desenvolvimento e Paz que teve lugar na Cidade do México, na qual foi decretada a Década das Mulheres.

Foi ainda membro-fundador do Departamento Nacional de Mulheres do PS, da Associação Intervenção Feminina, e da Aliança para a Democracia Paritária.

Participou em inúmeras delegações e conferências internacionais promovidas, entre outras, pela ONU, União Europeia, UNESCO e Conselho da Europa, tendo sido delegada oficial na Conferência de Pequim e membro do Comité Diretor para a Igualdade entre Homens e Mulheres do Conselho da Europa.

Elza Pais

Elza Maria Henriques Deus Pais (1958-)

Deputada à Assembleia da República e Investigadora no Centro de Estudo Sociais da Universidade Nova de Lisboa.

É Presidente da Mulheres Socialistas – Igualdade e Direitos, tendo lançado neste último mandato a base concelhia desta estrutura que permite uma participação mais ativa das mulheres em todas as partes do país.

Foi Secretária de Estado da Igualdade no XVIII Governo Constitucional, Coordenadora da Estrutura de Missão do Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, Presidente da Estrutura de Missão contra a Violência Doméstica e Presidente da CIG (2005-2010).

Foi durante o seu mandato na CIG que se deu a reestruturação do mecanismo nacional para a Igualdade para a CIG, que se trabalharam pela primeira vez e de forma articulada as diversas áreas de discriminação: sexo; orientação sexual, minorias étnicas, deficiências, idade e religião, que as ONG LGBTI+ passaram a integrar o Conselho Consultivo da CIG, que foram aprovadas Leis centrais nas politicas de Igualdade, como a Lei da Paridade, a despenalização da IVG, a Lei de prevenção da violência doméstica , proteção e assistência das suas vítimas, a autonomização do crime de Violência Domestica e a Lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Recebeu o Prémio Arco-Íris da ILGA Portugal por se ter destacado na luta contra a homofobia e promoção dos direitos das pessoas LGBTI.

Foi ainda durante este período que se inscreveu a área da Igualdade, como área autónoma para ser apoiada pelos fundos estruturais e pelos fundos do EEA Grants.

Foi Presidente da Subcomissão da Igualdade e Não Discriminação, no âmbito da 1ª Comissão de Assuntos Constitucionais, Direito, Liberdades e Garantias nas XII e XIII Legislaturas.

É Mestre em Violência de Género pela FCSH/UNL.

É autora dos livros “Uma Década pela Igualdade e contra a Violência de Género-2005-2015”; “Homicídio Conjugal em Portugal – ruturas violentas da conjugalidade” e Co-autora do livro “Violência contra as Mulheres”.

Rosa Monteiro

Rosa Monteiro (1972-)

Foi Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, nos XXI e XXII Governos Constitucionais (2017-2022), com a tutela das áreas da igualdade de género, prevenção e combate da violência contra as mulheres e violência doméstica, direitos LGBTI+, tráfico de seres humanos, combate ao racismo e discriminação racial, integração das pessoas ciganas, migrações.

Durante o seu mandato a Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica expandiu-se de forma relevante, tendo também sido criada a Resposta de Apoio Psicológico a crianças e jovens vítimas de violência doméstica. Foi a grande mentora da Estratégia Nacional para a Igualdade e Não Discriminação -Portugal +Igual, aprovada em 2018.

É perita em Igualdade de Género e estudos sobre as mulheres, reconhecida pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género, e, na última década, tem feito investigação no campo da igualdade e das políticas públicas e organizacionais de não discriminação, da integração da perspetiva de género e dos organismos oficiais para a igualdade e não discriminação.

Integrou as equipas de investigação que avaliaram políticas públicas no domínio da igualdade, designadamente, o II e o III Planos Nacionais para a Igualdade, e a integração da perspetiva da Igualdade de Género nos Fundos Estruturais no Quadro Comunitário 2007-2013.

Foi vice-presidente da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres entre 2012 e 2015.

Autora da tese de doutoramento “Feminismo de Estado em Portugal: mecanismos, estratégias, políticas e metamorfoses”, é atualmente Professora Auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, onde é coordenadora do Doutoramento em Estudos Feministas do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, e do Mestrado em Sociologia da Universidade de Coimbra.

É ainda Conselheira Municipal para a Igualdade e membro da Equipa para a Igualdade da Vida Local da Câmara Municipal da Mealhada.

Irene Flunser Pimentel

Irene Flunser Pimentel (1950-)

Historiadora portuguesa dedicada ao estudo do período contemporâneo de Portugal, especialmente da PIDE e do Estado Novo.

Elaborou diversos estudos sobre o Estado Novo, o período da II Guerra Mundial, a situação das mulheres e a polícia política durante o período da ditadura. É investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, tendo coordenado o projeto, “Justiça Política na Transição para a democracia em Portugal (1974-2008)”.

Foi coautora de uma série de documentários sobre a polícia política do Estado Novo para a Rádio Televisão Portuguesa e dos textos da exposição «A Voz das Vítimas», patente no Museu do Aljube, em 2011.

Defendeu as seguintes dissertações: “Contributos para a História das Mulheres no Estado Novo. As organizações femininas do Estado Novo (Obra das Mães pela Educação Nacional e Mocidade Portuguesa Feminina), 1936-1966″, Tese de Mestrado, 1997; e “A Polícia Internacional de Defesa do Estado/Direcção-Geral de Segurança (PIDE/DGS). 1945-1974. História da Polícia Política do Estado Novo”, Dissertação para a obtenção do grau em Doutor, 2007.

Maria da Graça Amado da Cunha

Maria da Graça Macedo e Faro Amado da Cunha (1919-2001)

Pianista, feminista e opositora ao regime de Salazar, ficou conhecida, sobretudo, como promotora da música portuguesa e como intérprete de composições para piano do compositor Fernando Lopes-Graça.

Mulher de ideais feministas, antifascistas e pacifistas, tornou-se, na década de 1940, militante da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, e ao Movimento da Unidade Democrática, cujas ações se opunham ao regime do Estado Novo.

No MUD integrou a Comissão de Escritores, Jornalistas e Artistas, que entregou uma petição, assinada por 200 pessoas, em protesto contra a censura, a prisão indiscriminada e a demissão de vários académicos e outros professores pelas suas opiniões políticas, sendo muitos destes militantes do Partido Comunista Português.

Assinou ainda uma carta ao Governador Civil de Lisboa, em nome do Comité de Mulheres do MUD de Lisboa, para protestar contra a criação das prisões políticas, como o campo de concentração do Tarrafal em Cabo Verde.

Para além do seu ativismo feminista e político Maria da Graça Amado da Cunha teve uma intensa vida profissional sempre ligada à música. A sua educação musical passa pela frequência do Conservatório Nacional onde teve como mestres o pianista José Vianna da Motta, o compositor Luís de Freitas Branco e a compositora francesa Francine Benoît.

Foi uma das fundadoras da Sociedade de Concertos, que realizou diferentes eventos públicos de música portuguesa e contemporânea na Academia dos Amadores de Música, na Sociedade Nacional de Belas Artes e no jornal O Século e que, poucos anos depois da sua criação, seria reconhecida como a secção portuguesa da Sociedade Internacional para a Música Contemporânea. A Concertos Sonata tem o mérito de ter destacado, em particular, as obras criadas pelas compositoras Francine Benoît, Berta Alves de Sousa e Elvira de Freitas, entre outras, numa tentativa de divulgar o trabalho desconhecido, ou mesmo desvalorizado, das mulheres compositoras.

Escreveu críticas musicais para diferentes revistas e jornais, nomeadamente para a Seara Nova, que abandonou por divergências ideológicas, e fundou a revista mensal Gazeta Musical e de Todas as Artes.

Maria Manuela Ralha

Maria Manuela Ralha (1968-)

Vereadora na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, fez história ao tornar-se a primeira pessoa em cadeira de rodas com funções executivas numa câmara portuguesa.

Envolveu-se cedo na atividade política, desde logo nas associações de estudantes, mulher ativa, com percurso feito na política e nas causas sociais e praticante de vários desportos, e era professora de música quando num acidente de viação ficou paraplégica. A paraplegia provocada pela lesão na cervical é progressiva e já evoluiu para uma tetraplegia incompleta.

No entanto, daquele acidente saiu reforçada enquanto ser humano, e essa força colocou-a ao serviço dos outros também, tornando-se ativista pelos direitos das pessoas com deficiência. Porque o mundo é complexo, luta pela diversidade, contra a ditadura do normativo, contra a discriminação, contra todos os patamares da discriminação.

Como vereadora, tem o pelouro da Cultura e Ação Social, onde enfrenta questões como a violência doméstica, a subordinação de género e a falta de afeto na sociedade. Acredita que a cultura desempenha um papel fundamental na criação de pensamento crítico e na promoção da diferença.

É também júri da Ação Qualidade de Vida da Associação Salvador.

Fernanda Câncio

Fernanda Câncio (1964-)

É jornalista desde 1987, atualmente grande repórter do Diário de Notícias. Os seus trabalhos sobre direitos das mulheres e das minorias levaram setores mais conservadores da sociedade portuguesa a crismá-la de ‘jornalista de causas’.

Participou, integrada em movimentos pelo Sim, nas campanhas dos dois referendos (1998 e 2007), sobre a legalização da interrupção da gravidez por decisão exclusiva da mulher.

Pugnou pela autonomização do crime de violência doméstica e pela criminalização dos ‘encostos e apalpões’ e dichotes sexuais de rua. Tem vindo a publicar análises sobre decisões judiciais relativas ao crime de violação, evidenciando a não observância pelos tribunais portugueses da Convenção de Istambul.

Em 2019, o juiz Neto de Moura, autor de acórdãos insultuosos para mulheres vítimas de violência doméstica, indicou-a como uma das pessoas que queria processar por “ofensas à honra pessoal e profissional”.

Em 2022, noticiou a possível cooptação, para o Tribunal Constitucional, de um jurista autor de artigos contra a legalização da IG nos quais garantia “ser muito rara a gravidez proveniente de violação”, remetendo para “investigações médicas” – na realidade, alegadas experiências em campos nazis. O jurista não foi cooptado.

Em fevereiro de 2023, no 16.º aniversário do referendo que legalizou a IG, iniciou, no DN, a publicação de uma investigação sobre as dificuldades no acesso a esse cuidado de saúde no SNS, concluindo existir violação da lei. Auditorias oficiais subsequentes comprovaram tal violação.

Publicou vários livros de reportagem, entre os quais Cidades sem nome/Crónicas da Condição Suburbana (2005). Em 2004, foi co-autora, com Lúcia Sigalho e Mafalda Ivo Cruz, dos textos da peça Documental e Autobiográfico, que aborda várias formas de violência sobre as mulheres e, em 2008, com Abílio Leitão, da série de documentários A Vida Normalmente (RTP2), sobre a vida em bairros ditos “problemáticos”.

Recebeu, desde 2005, três prémios Arco-Íris da ILGA Portugal, pela sua luta contra a homofobia.

No DN, escreveu: “Ao fim destas quase quatro décadas de jornalismo, se me pedirem para explicar porquê – por que quis ser jornalista -, terei de responder com um cliché. Porque queria (e quero, não desisti) mudar o mundo. Ao menos tentar.”

Fernanda de Paiva Tomás

Fernanda de Paiva Tomás (1928- 1984)

Oriunda de uma família de apoiantes do PCP, é presa pela primeira vez em 1950, quando, integrada numa manifestação pela paz, ia depositar flores no monumento aos mortos da Grande Guerra.

Militante do PCP, passou à clandestinidade em 1952, com 23 anos. Com os pseudónimos “Ana” e “Marques”, foi funcionária do partido responsável da administração central da Organização Regional de Lisboa do PCP, com a supervisão da zona Oriental de Lisboa.

Detida pela PIDE a 6 de fevereiro de 1961, é presa na Prisão de Caxias, torturada, e é-lhe imposta a privação do sono, primeiro durante 80 e depois por 94 horas consecutivas. É deixada incomunicável por 20 dias, sem autorização de mudar de roupa ou acesso a higiene, como chantagem para que confessasse a localização do futuro Congresso do PCP.

É autora de uma das treze cartas no Manifesto de Caxias, distribuído clandestinamente a partir da prisão em maio de 1961, dirigido às “organizações democráticas de mulheres de todo o mundo”, nas quais denunciava as torturas e condições às quais eram sujeitos os opositores ao regime do Estado Novo.

A 16 de Novembro de 1970, a DGS propõe a sua libertação condicional. Acaba de fazer 42 anos e faltavam três meses para completar dez anos de prisão.

Na prisão conhece a militante comunista Julieta Gandra, também presa política, com quem inicia uma relação amorosa, assumida perante as demais prisioneiras e perante as autoridades. Em 1975, parte com Julieta Gandra para Angola e com ela viverá alguns anos. Ali, Fernanda de Paiva Tomás trabalhou no Ministério da Educação.

Manuela Bernardino

Manuela Bernardino (1943-)

Manuela Bernardino nasceu em Lisboa em 1943, descendente de uma família antifascista que lutava contra o regime salazarista e aderiu ao PCP em 1961.

Foi dirigente da Pró-Associação dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa e da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico, durante a luta estudantil de1962. Integrou a Comissão Distrital de Lisboa da Comissão Democrática Eleitoral, participou na fundação do Movimento Democrático das Mulheres e na Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e integrou os organismos executivos do Comité Central do PCP.

Foi presa pela primeira vez em 1967, no Forte de Peniche quando visitava o seu marido, local onde esteve presa durante uma semana e onde lhe foi infligida a tortura do sono.

Das lutas académicas à dureza da vida clandestina, foi uma figura incontornável da resistência antifascista.

Fez parte da Comissão de Instalação dos Conteúdos e da Apresentação Museológica, para a requalificação e preservação da antiga prisão de Peniche em Museu Nacional da Resistência e da Liberdade.

Joacine Katar Moreira

Joacine Elysees Katar Tavares Moreira (1982-)

Historiadora, ativista e política afro-portuguesa, com atividade relevante na luta contra a discriminação e o racismo e na defesa de “um feminismo mais includente” e de políticas de igualdade de género que abranjam “de igual modo mulheres empobrecidas, negras, ciganas ou trans”.

Eleita Deputada ao Parlamento português pelo partido LIVRE na XIV Legislatura, integrou a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e na Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território. Ainda durante a legislatura, passou à qualidade de deputada não inscrita.

Foi a primeira deputada eleita pelo LIVRE na história do partido e uma de três mulheres negras eleitas para a Assembleia da República em 2019, juntamente com Romualda Fernandes (Partido Socialista) e Beatriz Dias (Bloco de Esquerda).

Fundou, em 2018, juntamente com mais cerca de três dezenas de mulheres negras, o Instituto da Mulher Negra em Portugal, entidade feminista interseccional e antirracista que combate a invisibilização da mulher negra.

É autora do livro “Matchundadi: Género, Performance e Violência Política na Guiné-Bissau”, lançado em maio de 2021. A publicação tem por base a sua tese de doutoramento e coloca a luz sobre a dominação dos conceitos tradicionais de masculinidade na vida política e social da Guiné-Bissau.

Lília da Fonseca

Maria Lília Valente da Fonseca Severino (1906- -1991)

Jornalista e escritora portuguesa, foi a primeira mulher a integrar uma lista candidata às eleições legislativas, em 1957.

Nascida em Benguela, veio para Portugal muito nova, onde estudou. Regressada a Angola, trabalhou como jornalista em Luanda, no diário A Província de Angola. Depois de se radicar em Portugal, foi correspondente deste diário.

Panguila , o seu primeiro romance, foi publicado em 1944no qual traça um retrato fiel da sociedade benguelense colonial da época.

Em Novembro de 1945, assinou um manifesto de intelectuais em protesto contra “as limitações de toda a espécie” a que a atividade intelectual estava sujeita pelo regime.

Lília da Fonseca é um dos nomes importantes do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, criado em 1948, e que se constitui, como um primeiro alerta para a necessidade de fundar uma verdadeira literatura angolana.

Fundou, em 1950, a revista Jornal-Magazine da Mulher, sendo sua diretora até ao último número, em 1956.

Criou o grupo teatral Teatro de Fantoches de Branca Flor. O grupo apresentou-se em escolas, colónias de férias, bairros pobres da periferia de Lisboa e em teatros de província e representou Portugal em festivais internacionais de teatro de fantoches.

Publicou numerosas obras literárias sobre a situação social da mulher, mas, principalmente, romances e literatura infantil.

Sofia Branco

Sofia Branco (1977-)

Jornalista, feminista e ativista, nada lhe dá mais prazer do que escrever, contar histórias, ouvir o que cada pessoa tem para dizer. Foi isso que a levou a escolher o Jornalismo, profissão-missão que exerce há quase 25 anos.

Acredita num mundo mais justo e paritário, onde a História seja feita do relato de homens e mulheres. Nessa qualidade, tem feito parte de vários projetos internacionais e colaborado com várias organizações da sociedade civil nacional.

Nasceu perto do mar, frio e revolto, na Póvoa de Varzim, onde regressa sempre que pode. A vida trouxe-lhe muitas ondas: o curso em Coimbra, o estágio no Porto, o primeiro emprego em Lisboa, onde, à exceção de um ano no estrangeiro, vive desde então, sem nunca perder o sotaque, nem a têmpera do Norte.

Licenciada em Jornalismo e com mestrado em Direitos Humanos e Democratização, está a fazer doutoramento na área da Sociologia, com uma tese em Estudos sobre as Mulheres.

Atualmente jornalista na agência Lusa, é também formadora regular no Cenjor, professora convidada no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (de Ética e Deontologia) e presidente da direção da Associação Literacia Para os Media e Jornalismo.

Entre 1999 e 2009, trabalhou no jornal Público, tendo recebido vários prémios pela série de trabalhos precursores sobre a mutilação genital feminina (entre os quais a Medalha de Ouro da Assembleia da República).

É autora dos livros “Cicatrizes de Mulher”, sobre mutilação genital feminina, e “As Mulheres e a Guerra Colonial”.

Foi a segunda mulher presidente do Sindicato dos Jornalistas, função que exerceu, com orgulho, entre 2015 e 2021.

Tem um filho de oito anos, chamado Pedro, que tenta educar com princípios humanistas e ideais feministas.

Catarina Marcelino

Catarina Marcelino (1971-)

Foi Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade no XXI Governo Constitucional, entre 2015 e 2017, e Presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, entre fevereiro e outubro de 2009. Foi impulsionadora da proposta de lei que viria a ser aprovada e conhecida como “Lei das quotas”, para garantir a representação equilibrada entre sexos nas empresas cotadas em bolsa e para as empresas do setor empresarial do Estado. Participou ativamente na construção da Estratégia Nacional da Educação para a Cidadania, imprimindo-lhe uma perspetiva de género.

Recebeu, em 2017, o Prémio Arco-íris, galardão atribuído anualmente pela ILGA Portugal que tem por finalidade reconhecer e incentivar as personalidades e as instituições que, com o seu trabalho, se distinguem na luta contra a discriminação em função da orientação sexual, identidade/expressão de género e características sexuais, contribuindo para a afirmação dos direitos das pessoas LGBTI.

Tem uma pós-graduação em Género, Poder e Violência pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada.

Foi deputada na Assembleia da República e Presidente do Departamento Nacional das Mulheres Socialistas.

Foi ainda Conselheira Municipal para a Igualdade, responsável pelo Gabinete de Saúde e Ação Social e pelo Espaço Informação a Mulheres da Câmara Municipal do Montijo e pela implementação do Centro Local de Apoio ao Imigrante naquela cidade.

Ao longo do seu percurso profissional esteve ligada a vários projetos de voluntariado, participando em ações dinamizadas pela Comunidade Vida e Paz, pela Liga Portuguesa Contra a Sida, pelos Centros Porta Amiga da AMI, e pelas Equipas de Missão da ONGD Afetos com Letras, na Guiné-Bissau.

É atualmente Vice-presidente do Instituto de Segurança Social, IP.

Helena Lopes da Silva

Helena Lopes da Silva (1949-2018)

Nascida em Cabo Verde, mudou-se para Portugal em 1967.

No Porto, integrou-se no meio estudantil, tendo-se aproximado de um grupo trotskista e passado a participar de reuniões onde se discutia a luta pela libertação das colónias portuguesas, onde se promovia a formação política e se falava de relações de produção, classes sociais e proletariado. Passou a ter formação sobre a luta de libertação nacional cabo-verdiana.

Já em Lisboa, foi integrada no Partido Africano para a Independência de Guiné e Cabo Verde, uma organização clandestina durante o Estado Novo.

Helena foi membro da Liga Comunista Internacionalista e do Partido Socialista Revolucionário e, em ambos, continuou a luta pelas causas feministas. Ativista pelos direitos das mulheres e pelo direito à interrupção voluntária da gravidez, participou na criação da Campanha Nacional pelo Aborto e Contraceção, no grupo “Ser mulher”, no Movimento pelo Sim à Despenalização do Aborto e no movimento Médicos pela Escolha.

Em 1994, Helena liderou a candidatura do PSR às eleições europeias, o que a tornou a primeira cabeça de lista negra em eleições em Portugal. A sua campanha trouxe visibilidade às questões do racismo e da xenofobia em Portugal e na Europa. Em 1999, foi uma das fundadoras do Bloco de Esquerda.

Helena fez parte do Conselho de Estado de Cabo Verde, tendo entrado a convite do Presidente Jorge Carlos Fonseca.

Em 2015, foi condecorada com o Segundo Grau da Ordem Amílcar Cabral pelo Presidente da República de Cabo Verde.

Natividade Coelho

Maria da Natividade Charneca Coelho (1962-)

Ativista, feminista e mulher de sorriso fácil, os direitos humanos, o mainstreaming de género, o empoderamento de mulheres e raparigas e a inclusão têm acompanhado desde sempre o seu percurso pessoal, político e profissional. Tem dedicado a sua vida a lutar contra todas as formas de discriminação junto de grupos socialmente desfavorecidos, em especial junto das mulheres e raparigas, promovendo a plena participação destas no acesso a igualdade de oportunidades.

Foi Presidente e Vice-presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (2009-2014) e foi fundadora e coordenadora, em representação da mesma entidade, do Fórum Empresas para a Igualdade.

Atualmente encontra-se em mobilidade na Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, como coordenadora do Gabinete de Apoio para a Igualdade e não Discriminação.

É embaixadora do ODS 5 – Igualdade de Género, conferida pela Global Compact Network, e é Membro do Comité Consultivo do Fonds de Dotation ARBORUS para a Igualdade Profissional na Europa.

Foi coordenadora do Projeto de Igualdade do Agrupamento Lima de Freitas (projeto pioneiro na área da educação, com reconhecimento da UN WOMEN, em colaboração com diversas ONG, CIEG, associações empresariais e empresas, CM de Setúbal, PSP, GNR, Associação de Pais e de Estudantes, CNJ, IPSS, clubes desportivos e recreativos).

Foi Diretora de Segurança Social, no Centro Distrital de Setúbal.

Foi Juiz Social no Tribunal de Família da Comarca de Setúbal, durante 16 anos.

É professora do quadro de nomeação definitiva no Agrupamento de Escolas Lima de Freitas, de jovens de 3º ciclo e secundário e, ainda, de educação e formação de adultos.

É Formadora Acreditada pelo Conselho Científico – Pedagógico da Formação Contínua e Formadora Certificada pelo IEFP e detém o CAGEP/INA – Curso avançado em Gestão Pública.

Maria das Dores Guerreiro

Maria das Dores Guerreiro (1955-)

Doutorada em Sociologia, é atualmente Professora Associada no Departamento de Sociologia do ISCTE e Vice-Reitora para a Internacionalização.

O seu trabalho concentra-se em várias áreas de pesquisa, nomeadamente na sociologia da Família, investigando as dinâmicas familiares, relações interpessoais e mudanças nas estruturas familiares ao longo do tempo; nos estudos de género, explorando questões relacionadas com a igualdade de género, papéis sociais e identidade de género, as trajetórias de vida das pessoas moldadas por fatores sociais, culturais e históricos; nas politicas sociais e politicas de família, analisando as politicas governamentais relacionadas com a família, bem-estar social e igualdade.

Investiga ainda, como o trabalho e a vida familiar se interconectam, incluindo questões como equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, as suas dinâmicas e desafios específicos.

Até 2019, foi coordenadora do grupo de investigação Família, Gerações e Saúde do CIES e coordenadora internacional do Consórcio Erasmus Mundus MFAMILY, em parceria com as universidades de Gotheborg (Suécia), Stavanger (Noruega) e Makerere (Uganda).

Foi ainda representante nacional da Rede Europeia Families and Work (1994-2000), cocoordenadora do Observatório das Famílias e das Políticas de Família até 2017 e diretora da Revista Sociologia, Problemas e Práticas (2001-2017).

Alguns dos seus trabalhos mais relevantes debruçam-se sobre questões relacionadas com a divisão de tarefas dentro das famílias, mulheres na atividade empresarial, as incertezas enfrentadas pelos jovens em relação ao trabalho e à família, a diversidade nas relações familiares em Portugal, estratégias para equilibrar trabalho e vida familiar, as mudanças nas relações entre trabalho, família e organizações na Europa, ou a transição para a parentalidade.

Cristina Torres

Cristina Torres (1891-1975)

Professora, conferencista, escritora e, desde jovem, uma das vozes dos valores da I República, na sua terra natal, a Figueira da Foz.

A sua vida constituiu um testemunho significativo tanto na I República, ao pretender que fosse ultrapassada a discriminação laboral, política e cultural das mulheres, como posteriormente, na luta contra a ditadura salazarista.

Em 1911 fundou a Fraternidade Feminina, Associação de Instrução e Beneficência responsável pelo funcionamento de uma Escola noturna para raparigas.

Colaborou nos jornais “República”, “A Redenção” e a “Voz da Justiça”, e também no “Almanaque das Senhoras para 1913”, com o conto “Sacrificada”, e promoveu conferências, discursou em sessões e pronunciou-se, na imprensa regional da Figueira da Foz e de Coimbra, acerca de questões feministas, educativas e políticas. 

A sua atividade pedagógica dirigida às pessoas mais desfavorecidas, ao operariado e às mulheres, e sobretudo a sua luta contra o regime salazarista, conduziram-na a uma transferência compulsiva, em 1932, para Braga, onde permaneceu 17 anos.  

Em 1949 acabou por ser afastada do ensino, na sequência da participação na Campanha de Norton de Matos à Presidência da República, sendo obrigada a aposentar-se. 

De regresso à Figueira da Foz deu explicações e continuou a resistência ao Estado Novo, pertencendo à Comissão Nacional do III Congresso da Oposição Democrática.  

Com 83 anos saudou com grande emoção e alegria, a chegada do 25 de Abril, o milagre que considerava ser” o levantamento das mulheres portuguesas”.

Helena Pato

Helena Pato (1939-)

Militante antifascista e sindicalista. Foi presa pela primeira vez, com 28 anos e já viúva, em 1967. Esteve em regime de isolamento e foi submetida à tortura do sono.

Começou a sua atividade política como dirigente estudantil no Movimento de Unidade Democrática Juvenil. Mais tarde foi fundadora e dirigente da Comissão Democrática Eleitoral, do Movimento Democrático de Mulheres e do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa. Desde 2013, é autora e dinamizadora da página de Facebook “Antifascistas da Resistência”.

Casou, em 1960, com o jornalista e dirigente estudantil Alfredo Nolaes, que saiu do país, em 1962, para não ser preso pela PIDE. Helena Pato partiu para o exílio político em Paris, onde se manteve durante três anos. Tornou-se militante do Partido Comunista Português até 1991.  

Em 1969 casou com José Manuel Tengarrinha, historiador e dirigente do Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral, preso pela PIDE, pela última vez em 18 de abril de 1974. Helena Pato foi uma das pessoas presentes na libertação dos presos políticos de Caxias, no dia 27 de abril de 1974.  

Protestou contra a transformação da antiga sede da PIDE num condomínio de luxo, sendo dirigente do movimento cívico “Não Apaguem A Memória” e manifestou-se contra os planos da Câmara Municipal de Santa Comba Dão para a criação do Museu Salazar.   

É Autora de livros em que recorda a luta contra a ditadura: “Saudação, Flausinas, Moedas e Simones”, “Já uma estrela se levanta e “A Noite Mais Longa de Todas as Noites”.

Simone Fragoso

Simone Silva Machado Fragoso (1980-)

Professora e Atleta Paralímpica, assume-se como uma pessoa extrovertida, brincalhona e como cidadã exemplar. Pratica natação desde os 24 anos e é uma mulher atleta de mérito anã bem-sucedida em todos os aspetos da sua vida.

Em competição representou o Naval Setubalense (2005 e 2008), o SL Benfica (2008 e 2012) e esteve como individual (2012 e 2014). Em 2014 ingressou no Sporting, então já como nadadora consagrada e em 2016 conquistou o 3.º lugar no Meeting da Croácia.

Ao longo deste percurso conquistou, entre outros títulos, uma medalha de prata no Campeonato do Mundo de 2006, uma medalha de prata no Europeu de 2007, três medalhas de ouro no Campeonato do Mundo de Nanismo em 2008 e, uma medalha de bronze no Campeonato da Europa em 2009.

Depois de ter feito o 10º lugar nos Jogos Paralímpicos de Pequim em 2008 e o 7º lugar nos Jogos Paralímpicos de Londres em 2012, Simone Fragoso encetou uma afincada preparação com vista aos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro de 2016.

No Rio, ficou no sexto lugar da sua série nos 50 m Mariposa S5, foi também sexta da série nos 200 m Estilos S5 e oitava da série nos 50 m Livres S5, não atingindo as finais.

Simone luta pelos direitos humanos e pela igualdade.

Maria José Ribeiro

Maria José da Silva Ribeiro (1936-)

Em 1968, ajudou a fundar o Movimento Democrático de Mulheres, com o objetivo de lutar pela dignidade das mulheres, a paz e a liberdade. No ano seguinte participou no Congresso Mundial de Mulheres em Helsínquia, acompanhada por outras ativistas portuguesas.

Maria José da Silva Ribeiro nasce no ano em que o pai é preso e levado para o Tarrafal, por participar na Revolta dos Marinheiros de 1936 (só o conhecerá 16 anos mais tarde).

Em 1956, integrou um grupo de jovens próximo do PCP. Em 1958, integrou a comissão de jovens que apoiou a candidatura do General Humberto Delgado a Presidente da República Portuguesa, sendo pela primeira vez presa pela PIDE e sujeita a tortura psicológica, tendo sido libertada 9 meses depois.

Em 1962, liderou a única ação de protesto que ocorreu no Dia da Mulher durante a ditadura portuguesa e que exigia o fim da guerra colonial e a libertação dos presos políticos. Na sequência deste acontecimento, é levada para a sede local da PIDE onde é agredida pelos policias. Voltará a ser presa dois anos mais tarde, como uma medida de precaução, no dia anterior à celebração da revolta republicana. Fica presa 15 dias.

Em 1973, participou no III Congresso da Oposição Democrática.

Após o 25 de Abril, torna-se na primeira mulher a ocupar o cargo de presidente no Sindicato Nacional de Profissionais de Seguros. Também após o 25 de Abril foi eleita pelo PCP como vereadora na Câmara Municipal de Matosinhos e deputada da Assembleia da República, na III legislatura.

Em 1981, fez parte da delegação do MDM à Conferência Mundial de Mulheres em Praga, organizada pela Federação Democrática Internacional das Mulheres.

Maria Amélia Paiva

Maria Amélia Maio de Paiva (1961-)

 

Presidente da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, atual CIG (2002-2005), entrou na carreira diplomática no concurso de admissão aos lugares de adido de embaixada, em 1988.

Foi chefe de divisão na Direção de Serviços da América do Sul e Central da Direção-Geral das Relações Bilaterais e chefe interina dessa mesma instituição.

Foi ministra plenipotenciária de 2.ª classe na Embaixada em Varsóvia, com credenciais de Embaixadora e ministra plenipotenciária de 1.ª classe, com credenciais de Embaixadora, acreditada simultaneamente como Embaixadora não-residente nas Maurícias, Seicheles, em Eswatini e Tanzânia.

Atualmente é consultora para as Relações Internacionais da Casa Civil da Presidência República, funções que desempenha desde 9 de março de 2021.

Foi Cônsul-Geral em Toronto, Canadá e em Newark, Estados Unidos da América.

Joana de Barros Baptista

Joana Morais Sarmento de Barros Nascimento Baptista (1935-)

Presidente da Comissão da Condição Feminina (1979-1985), Alta-Comissária para as Questões da Promoção da Igualdade e da Família (1996), a sua vida caracteriza-se pela persistente defesa da Igualdade entre mulheres e homens contribuindo para a redução das persistentes assimetrias nas condições de vida de uns e de outras.

Com este espírito, salienta-se que foi determinante para a institucionalização da CCF, atual CIG, tendo sido uma das figuras que muito se envolveu na edificação do primeiro mecanismo oficial para a Igualdade entre Mulheres e Homens no país.

Sobre esse momento, recorda que tal aconteceu “numa altura em que a maior parte da legislação discriminatória contra as mulheres (pré 25 de Abril) já tinha sido substituída por outra que consagrava a plena igualdade de direitos entre os homens e as mulheres, mas a prática social, essa, nunca se altera da mesma forma e com a mesma rapidez. Muito menos quando são tantas e tão fortes as discriminações existentes na sociedade, não só nos domínios da família, mas também nos do trabalho, do emprego, do ensino e da participação política.”

Joana de Barros sempre se bateu por uma sociedade mais equilibrada, seja no meio académico da Universidade de Lisboa, enquanto integrante das listas a deputados/as (1969) pela Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, mandato que declinou exercer.

Joana de Barros Baptista foi condecorada, no dia 23 de novembro de 2021, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Ordem da Liberdade, pelo empenho na defesa dos direitos das mulheres em geral, das portuguesas em particular.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

Poetisa do século XX, contista e autora de livros infantis, foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões. Contestatária ao Estado Novo; o seu corpo está no Panteão Nacional.

Foi dirigente de movimentos universitários católicos e, já na segunda metade dos anos 50, manifestou abertamente a sua oposição ao salazarismo. Tal como outros/as autores/as, exteriorizava a sua repulsa no trabalho produzido. Encontram-se vários poemas seus que expressam um ataque ao regime, nomeadamente nos seus livros Mar Novo (1958), e Livro Sexto, (1962), no qual Salazar é retratado como um “velho abutre” cujos discursos “têm o dom de tornar as almas mais pequenas”.

Integrou a Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos e ficou célebre como canção de intervenção dos Católicos Progressistas a sua “Cantata da Paz.

Depois da Revolução do 25 de Abril foi eleita para a Assembleia numa lista do Partido Socialista, experiência muito breve na sua vida.

Colaborou na revista “Cadernos de Poesia” criando profundas amizades com reconhecidos autores, como Tomaz Kim, Ruy Cinatti, José Blanc de Portugal, ou Jorge de Sena.

Imensamente agraciada, recorda-se, apenas, que recebeu: o Grande Prémio de Poesia (1964) pela Sociedade Portuguesa de Escritores pelo seu livro “Livro sexto”; Prémio Camões (1999); Doutoramento Honoris Causa (1998) pela Universidade de Aveiro; Prémio Rainha Sofia (2003).

Sophia de Mello Breyner Andresen morreu aos 84 anos, em Lisboa (2004). Anos mais tarde, a Assembleia da República decidiu homenagear por unanimidade a poetisa com honras de Panteão. A cerimónia de trasladação decorreu a 2 de julho de 2014.

Fátima Duarte

Fátima Duarte (1955-)

Jurista, foi técnica superior da Comissão para a Igualdade e os Direitos das Mulheres (1994-2000), presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego entre 2006 e 2009 e presidente da CIG (2012-2013).

Autora de comunicações diversas e obra publicada sobre Direito da Família, violência contra as mulheres, igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, proteção da maternidade e da paternidade e conciliação da atividade profissional com a vida familiar.

Membro do Conselho de Administração do Instituto Europeu de Igualdade de Género e da delegação portuguesa à 56.ª Sessão da Comissão do Estatuto da Mulher (Organização das Nações Unidas), na qualidade de Presidente da CIG.

Membro da Comissão do Livro Branco para as Relações Laborais, na qualidade de Presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, entre 2006 e 2007, do Comité Consultivo para a Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens (União Europeia) e da delegação portuguesa de apresentação dos 6.º e 7.º Relatórios Nacionais de Aplicação da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres ao Comité CEDAW (42ª sessão), na qualidade de Presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego.

Foi ainda representante da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres na Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, na qualidade de membro efetivo.

Paula Cosme Pinto

Paula Cosme Pinto (1984-)

Ainda não tinha atingido a maioridade e já as causas sociais a interessavam, tendo conquistado, aos 17 anos, o Prémio Revelação do Festival de Vídeo da Sé, com uma reportagem realizada em contexto escolar, onde denunciava as múltiplas violências vividas por alunos de colégios internos.

Ativista pelos direitos femininos, é convidada regular em conferências, debates, workshops e sessões empresariais sobre igualdade, diversidade e inclusão. Tem uma página de Instagram seguida por vários milhares de pessoas, onde disserta diariamente sobre estas temáticas.

Trabalhou em produção e pós-produção audiovisual, mas o jornalismo e a vontade de “contar a vida” falaram mais alto. Foi jornalista do Expresso durante dez anos, mas mudou-se para o outro lado da comunicação, sendo atualmente consultora.

Manteve, no entanto, a crónica “A Vida de Saltos Altos” no site do semanário, onde, desde 2015 escreve sobre os desafios da igualdade de género, tendo-se tornando numa voz forte sobre os direitos femininos. Aborto, violência sexual, violência doméstica, disparidade salarial, estereótipos de beleza, sexualidade, maternidade, homofobia e sobrecarga doméstica são apenas alguns dos tópicos que tem trazido trouxe para debate público nas suas crónicas, optando propositadamente por um estilo de escrita pragmático e acessível, com objetivo de chegar a todas as pessoas.

Mais recentemente, estreou-se no jornal Meios & Publicidade com a crónica regular “Costela de Adão? Não”, onde reflete sobre os tentáculos da igualdade de género no universo da comunicação e da publicidade.

Pelo caminho, publicou “Os Segredos da Maleta Vermelha”, um livro despudorado sobre a sexualidade das portuguesas e lançou também o podcast “Um Género de Conversa”, em parceria com a escritora Patrícia Reis. Um projeto que tem como mote gerar lugar de fala às mulheres e aos temas que são caros nas suas vidas, objetivo esse que lhes valeu a distinção com o Prémio Vozes 2022, no PODES – Festival de Podcasts.

Regina Tavares da Silva

Regina Tavares da Silva (1938-)

Política, investigadora, perita internacional em Direitos Humanos das Mulheres e feminista.

Presidiu à Comissão da Condição Feminina (1986-1992), atual CIG, tendo delineado algumas das principais medidas para a promoção da igualdade de género em Portugal.

Com uma vida dedicada à luta pelos direitos das mulheres, este foi um tema pelo qual se começou a interessar desde muito cedo, com apenas 14 anos, quando, ao ingressar no Liceu D. Filipa de Lencastre, conheceu Maria de Lourdes Pintasilgo.

Por influência da então Presidente Geral da Juventude Universitária Católica Feminina, frequentou os Campos de Férias de verão desta organização, da qual viria também a ser Secretária-Geral, Vice-Presidente e Presidente-Geral durante os anos de faculdade.

Em 1962, obteve uma bolsa Fulbright e frequentou o Graiville College, em Cincinatti, Ohio, EUA, dirigido pelo Graal, um movimento cristão de âmbito mundial que promove os valores cristãos e a participação das mulheres na vida social e na vida política.

Representou Portugal na Conferência do México, organizada em 1975 pelas Nações Unidas, onde discursou perante mais de 300 pessoas. Nesta conferência foi instituído oficialmente o Dia Internacional da Mulher.

A participação neste evento permitiu-lhe recolher diversos documentos sobre a situação das mulheres em todo o mundo, que viriam a constituir os primórdios do Centro de Documentação da CCF.

Foi igualmente pioneira no estudo da História do ponto de vista das mulheres, tendo sido a responsável pela recuperação das memórias de mulheres, completamente esquecidas e “invisíveis”, do início do século XX e finais do XIX.

Sob a sua liderança, a CCF realizou, em 1983, na Fundação Calouste Gulbenkian, o primeiro Seminário de Estudos sobre as Mulheres.

Em 1987 foi eleita presidente do Comité da Igualdade do Conselho da Europa, cargo que ocupou igualmente nos anos de 1988, 1992 e 1993. Foi vice-presidente (1990) e presidente (1991) do Comité Consultivo para a Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens, da Comissão Europeia.

Publicado em 1999, é da sua autoria o livro “A Mulher: Bibliografia Portuguesa Anotada”, obra pioneira que se tornou um instrumento de trabalho referenciado por investigadores/as que se dedicam aos Estudos sobre as Mulheres em Portugal.

Em 2000, durante a presidência portuguesa da União Europeia, foi encarregada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, de coordenar a participação comunitária na Comissão do Estatuto da Mulher e no processo preparatório da Sessão Especial da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em que se celebrava o Pequim+5, ou seja, a avaliação dos cinco anos após a IV Conferência Mundial sobre as Mulheres.

Ainda na ONU, foi membro do Comité para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres entre 2000 e 2008.

Como reconhecimento pelo trabalho que desenvolveu, foi selecionada para o calendário de 2012 das Mulheres Inspiradoras da Europa, recebeu uma das duas medalhas de ouro comemorativas do 50.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, atribuída em 2014 pela Assembleia da República, e foi condecorada com a Comenda da Ordem de Mérito Civil, pelo Presidente da República, a 10 de junho de 1995.

Catarina Marques Rodrigues

Catarina Marques Rodrigues (1992-)

É jornalista e especializou-se desde cedo em reportagens e entrevistas sobre desigualdade de género, mutilação genital feminina, violência doméstica, questões LGBTQIA+ e outras desigualdades.

Vencedora do Prémio Média da rede ex aequo em 2014 com a reportagem sobre crianças trans “Olá, eu sou o João e gosto de brincar com coisas de menina”, do mesmo prémio em 2015 pelo programa “ADN”, do Prémio Arco-Íris da ILGA Portugal em 2016 com uma reportagem que revelou a discriminação de alunos homossexuais no Colégio Militar e da Menção Honrosa da Corações com Coroa em 2017 “pelo trabalho jornalístico desenvolvido na área da igualdade de género”.

Em 2018, foi co-autora do livro “Empreendedoras por Natureza”, foi convidada para ser Professora de Jornalismo na Universidade Lusófona e foi escolhida como a única jornalista portuguesa a integrar o “Edward R. Murrow program for Journalists: promoting discerning consumers of media” em Washington, Iowa e Boston.

Em 2019, Catarina foi nomeada Embaixadora para os Direitos Humanos do ID-Europa, um projeto do Parlamento Europeu, e foi convidada pela ONU para entrevistar personalidades internacionais para a UN Web TV, no Global Festival of Action, na Alemanha. Foi uma das jornalistas europeias convidada para estar em Bruxelas no seminário “O longo caminho até à igualdade de género”.

Depois de 9 anos de carreira entre o Observador e a RTP, Catarina Marques Rodrigues fundou o Gender Calling em 2022, uma plataforma de media e um podcast sobre questões de género e uma academia de workshops e formações para empresas sobre igualdade, diversidade e inclusão. Nos últimos anos foi também formadora sobre jornalismo, direitos das mulheres e questões da paz em Cabo Verde e na Guiné-Bissau. Foi convidada para fazer uma TED Talk e daí surgiu a tak “Na Primeira Página” sobre a representação de mulheres nos media. Atualmente, além do Gender Calling, Catarina colabora com vários meios de comunicação social e é comentadora habitual sobre questões de género na televisão nacional.

Lígia Amâncio

Lígia Barros Queiroz Amâncio (1954-)

Presidente da Comissão para a Igualdade e os Direitos das Mulheres, atual CIG, (1996-1998), é especialista em estudos do género.

A sua carreira de investigação marcou o início dos estudos de género em Portugal, tendo-se centrado no estudo dos processos de construção social do masculino e do feminino e das suas implicações para a discriminação baseada no género, com particular destaque para a integração das mulheres em profissões de visibilidade pública e qualificadas, como a política, a ciência e a medicina.

Foi a investigadora responsável dos projetos “SAGE – Systemic Action for Gender Equality” (2016-2019), financiado pelo programa Horizon 2020 – European Innovation Council Fast Track to Innovation; “First national survey on sexual harassment” (1988-1989), financiado pelo Office for Equality at Work and Employment; e ISSP – International Social Survey Programme survey on Family and Gender. The case of Portugal” (2002), financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Autora de inúmeros textos sobre igualdade de género e os direitos das mulheres, apresentados em diversas conferências e publicados em várias revistas e obras científicas, Lígia Amâncio é igualmente autora e coautora de vários livros, tais como “Masculino e Feminino. A Construção Social da Diferença” (1994), “Gender, Management and Science (coordenadora com Conceição Nogueira), (1995), “Aprender a ser homem. Construindo masculinidades” (coordenadora), (2004), “Vozes Insubmissas” (com Isabel do Carmo), (2004), “O Longo Caminho das Mulheres. Feminismos 80 anos depois” (com Manuela Tavares, Teresa Joaquim e Teresa Almeida), (2007), “Família e Género em Portugal e na Europa” (com Karin Wall), (2007), entre outros.

Foi eleita para a Direção da Plataforma Europeia de Mulheres Cientistas (EPWS) em julho de 2021, onde representa a AMONET – Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas de que foi cofundadora em 2004.

Foi delegada nacional no comité de gestão do programa de apoio às ciências sociais da Comissão Europeia de 1999 a 2004, membro do Conselho Consultivo Europeu para a Investigação (EURAB) (2001-2004), Vice-Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (2006-2012) e membro do Conselho de Ética para as Ciências da Vida (2009-2014). Atualmente integra o Conselho de Revisão da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES).

Está aposentada desde 2018, ano em que foi lançado um livro em sua homenagem: “Lígia Amâncio: o género como acção sobre o mundo”, organizado por João Manuel de Oliveira e Conceição Nogueira.

Ana Maria Braga da Cruz

Ana Maria Braga da Cruz (1941-)

Criou, organizou e chefiou a Delegação do Norte da Comissão para a Condição Feminina/Comissão para a Igualdade e Direitos das Mulheres (atual CIG) e coordenou diversos projetos de apoio e empoderamento das mulheres.

Foi consultora internacional na área Mulheres/Educação /Desenvolvimento e Família a convite de entidades como a UNESCO, Fundo das Nações Unidas para as Atividades com a População, Rede Europeia Anti Pobreza e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Foi formadora em projetos de apoio a mulheres, coordenados pela CIG e ONG e é autora de diversos relatórios e artigos dedicados ao feminismo, igualdade, direitos humanos e violência contras as mulheres.

Licenciada em Direito e Mestre em Desenvolvimento e Extensão Rural, tem também investigação em áreas ligadas ao desenvolvimento, planeamento, problemática de áreas deprimidas no contexto da igualdade de oportunidades e exclusão social, Educação de Adultos/ Mulheres e Formação Profissional de Mulheres.

Joana Gíria

Joana Rabaça Gíria (1968-)

Foi Presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (2015-2019), organismo no qual foi também jurista (1995-2012).

Durante o seu mandato como presidente da CITE, foram realizadas as  primeiras edições do “Ciclo de laboratórios de igualdade entre mulheres e homens no trabalho e no emprego”; foi desenvolvido o projeto-piloto “De igual para igual nas profissões”; lançadas obras como o “Livro Branco Homens e Igualdade de Género em Portugal, Assédio sexual e moral no mercado de trabalho em Portugal”, o “Livro Branco sobre os homens, os papéis masculinos e a igualdade de género em Portugal”, o “Guia para a elaboração de Código de Boa Conduta para a Prevenção e Combate ao Assédio no Trabalho”, e produzidos referenciais de formação sobre igualdade no mercado de trabalho no âmbito do projeto “Better Together”.

Ainda nesse cargo, impulsionou a transformação do serviço numa entidade de maior proximidade, potenciada pela evolução de novas tecnologias aplicadas à direção e coordenação, à gestão documental e ao planeamento, tendo estado subjacente o processo de desmaterialização que teve início em 2016 e culminou numa candidatura ao projeto SAMA (Sistema de Apoio à Modernização Administrativa) para implementação de um Balcão de Serviços online, suscetível de simplificar o acesso de pessoas singulares e coletivas aos serviços disponibilizados pela Comissão, nomeadamente pedidos de informação, pedidos de parecer, apresentação de queixas, monitorização do estado dos processos, gestão de reuniões, entre outras facilidades.

Enquanto jurista na CITE, elaborou pareceres técnico-jurídicos no âmbito da igualdade e não discriminação entre homens e mulheres no trabalho e no emprego; da proteção da maternidade, da paternidade e da adoção e sobre conciliação da atividade profissional com a vida familiar e profissional, tendo integrado os grupos de trabalho que contribuíram para as alterações legislativas que ocorreram em 1999, 2000, 2003 e 2008.

Aurora Rodrigues

Aurora Rodrigues (1952-)

Resistente antifascista, foi presa a 3 de maio de 1973, nas traseiras da Faculdade de Letras, após um encontro de estudantes, e levada para Caxias, onde é submetida a um longo período de tortura do sono, acompanhado de espancamento bastante violento, para além de toda a espécie de vexames e ameaças, que faziam parte da técnica da PIDE/DGS para coagir os presos a “colaborar”. As torturas a que Aurora “foi submetida evidenciam a escalada de violência da PIDE/DGS no final do regime, passadas as promessas e ilusões de abrandamento nos primeiros tempos do marcelismo.”

Ainda que brutalmente torturada, Aurora Rodrigues nunca falou. Mesmo durante os 16 dias seguidos de tortura de sono, de estátua, de espancamentos e mesmo de simulação de asfixia por afogamento, tendo a cabeça mergulhada à força num lavatório com água. Nem sequer quando, tempos depois, voltou a ser torturada, mas já por um período de tempo menor. Até porque, como a mesma afirma, a PIDE já tinha percebido que ela não quebrava e arranjava pequenos truques para resistir, nem que fosse a cantar.

Aurora Rodrigues seria libertada cerca de três meses depois, a 28 de julho de 1973. Não teve direito a advogado, nunca foi a julgamento, nem conheceu uma acusação formalizada.

Depois do 25 de Abril de 1974, voltaria a ser detida pelo COPCON, na sequência da proibição do MRPP participar na Assembleia Constituinte. Foi presa a 28 de Maio de 1975, à chegada da sede do partido, acompanhada por Arnaldo Matos.

Filha de um anarcossindicalista, Aurora Rodrigues matriculou-se na Faculdade de Direito de Lisboa, em 1969, com 17 anos. Abordada pelo PCP, trabalha com o MRPP, fundado em 1970, pois considera este movimento mais aberto contra a guerra colonial. Só aderirá formalmente depois de ver de perto o também estudante Ribeiro dos Santos ser assassinado pela PIDE – episódio que é relatado no livro que escreve, com uma genuinidade e uma emoção contida raras.

Em 1977, desfiliou-se do MRPP, abandonando em definitivo a militância partidária.

Foi magistrada do Ministério Público em Santarém e em Évora e presidente de secção eborense do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público.

Em 2011, publicou o livro Gente Comum – uma história na PIDE, em que relatava a sua experiência enquanto presa política. Partindo da autobiografia dos seus primeiros 25 anos de vida, Aurora pretendia contrariar a ideia de que os presos políticos do regime eram apenas políticos conhecidos, mas antes cidadãos comuns.

Em março de 2024, recebe o Prémio Elina Guimarães, atribuído pelo Conselho Geral da Ordem dos Advogados, reconhecendo a luta contra o regime do Estado Novo e a defesa dos valores democráticos e de igualdade.

Marília Viegas

Marília Viegas (1931-2016)

Mais conhecida por Lia Viegas, foi uma lutadora antifascista e feminista, advogada e poetisa, que se tornou conhecida pela sua atividade na defesa dos direitos das mulheres e que, durante o fascismo, se destacou como advogada de presos políticos nos Tribunais Plenários.

Ao longo da vida defendeu gratuitamente muitas dezenas de mulheres que necessitavam de apoio jurídico para fazer valer os seus direitos.

Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, participou ativamente nos movimentos de despenalização do aborto, quando este era ilegal e ocorria de forma clandestina, provocando a morte ou problemas de saúde graves em muitas mulheres.

Enquanto ativista feminista, Lia Viegas foi uma das fundadoras do Movimento de Libertação das Mulheres, teve atividade no Movimento Democrático das Mulheres e pertenceu à União das Mulheres Alternativa e Resposta.

Um dos momentos mais marcantes do percurso de Lia Viegas foi a sua participação como advogada de defesa de Maria Antónia Palla no julgamento que a jornalista enfrentou na sequência da transmissão pela RTP, em maio de 1976, de um programa da sua autoria sobre o aborto.

Cedo se interessou pela Literatura, tendo escrito o seu primeiro poema aos 16 anos. Em 1954 foi incluída na Antologia Prémio Almeida Garrett, do Ateneu Comercial do Porto. Colaborou em diversos jornais e revista literárias, nomeadamente no suplemento Artes e Letras do Diário de Notícias. É autora do livro “A Constituição e a Condição da Mulher”, publicado um ano depois do 25 de Abril de 1974.

Além da advocacia, da atividade política e como feminista, é autora de vários livros de poesia. Foi também colaboradora de diversos jornais e revistas, entre os quais o suplemento “Artes e Letras” do “Diário de Lisboa” e a revista “Mulheres”.

Conceição Matos

Maria da Conceição Rodrigues de Matos (1936-)

Resistente antifascista e militante do Partido Comunista Português, sofreu as mais graves torturas e humilhações por parte da PIDE, às quais resistiu em silêncio. Foi homenageada por Zeca Afonso, com o texto da canção “Na rua António Maria”.

Iniciou a sua atividade política com a adesão ao MUD Juvenil e, na década de 50, aderiu ao PCP.

Em 1963, tornou-se funcionária do partido e viveu na clandestinidade durante vários anos, adotando diversos nomes. Desempenhou diversas funções, como distribuir o jornal Avante! escrever materiais de propaganda, ou vigiar e cuidar das casas clandestinas.

Em 1965 foi presa com Domingos Abrantes, na casa ondem residiam. Acusada de desenvolver atividades contra a segurança nacional, ficou proibida de receber visitas durante um mês, de fazer exercícios ao ar livre e os seus direitos políticos foram suspensos. Ficou durante um ano e meio presa preventivamente em Caxias.

Conceição Matos foi interrogada e torturada na sede da PIDE. Foi submetida à tortura do sono, proibida de ir à casa de banho, a sua urina e as suas fezes eram limpas com a sua própria roupa. Foi espancada, fotografada e exibida nua aos agentes da polícia política.

Aprendeu na prisão o código de batidas utilizado pelos presos para comunicarem. Assim ficou a saber que o seu marido, ainda estava preso.

Em 1968, voltou a ser presa e isolada, em Caxias. Voltou a ser torturada, até ser libertada. Em meados de 1969, quando saiu da prisão e apanhou um táxi, foi o próprio taxista que a informou da morte de Salazar e da subida de Marcelo Caetano ao poder.

Muitas mulheres morreram, outras recusaram-se a contar o que lhes aconteceu, às mãos da PIDE. Contudo, já passadas algumas décadas de ter sido presa, Conceição Matos rejeita silenciar o que se passou e aceita contar os dias de tortura, por considerar que é muito importante denunciar as atrocidades cometidas pela polícia política.

Virgínia Ferreira

Virgínia do Carmo Ferreira (1954-)

Investigadora Permanente do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, tem estudado o modo como as relações sociais de género se expressam em vários fenómenos e processos e estruturas sociais, tendo em conta, nomeadamente: as mudanças económicas e políticas; a regulação do mercado de trabalho; as transformações tecnológicas; os regimes de bem-estar e outras instituições sociais; e as atitudes e práticas das mulheres e dos homens no trabalho, no emprego e na esfera doméstica. Membro do Conselho Editorial de algumas revistas nacionais e internacionais.

Tem realizado diversos estudos sobre a sociedade portuguesa, especialmente na área de investigação do trabalho e emprego (trabalho em escritórios, segregação do mercado de trabalho, articulação trabalho-família, maternidade e paternidade no local de trabalho) e tem coordenado cientificamente grupos de trabalho dedicados à avaliação de políticas, programas e projetos nacionais de intervenção social.

Tem também colaborado, como parceira perita, com várias entidades que trabalham com políticas de igualdade (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego; Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género). Tem prestado consultoria científica a projetos promovidos por diversas entidades, académicas e profissionais

É membro fundador da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres, e sua presidente desde 2002. Desde 2004 que é membro da European Commission Expert Group on Gender and Employment. Membro do Grupo Técnico-Científico do Conselho Consultivo da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, na qualidade de especialista.

Dirige a revista científica ex æquo – Revista da APEM, desde 2014. A sua obra publicada inclui artigos e ensaios em revistas e em coletâneas nacionais e internacionais. Coordena ainda o Projeto ENGENDER: Integração dos Estudos de Género nos curricula e práticas pedagógicas no ensino superior em Portugal (2021-2024).

Karin Wall

Karin Wall (1955-)

Socióloga portuguesa, de ascendência inglesa, investigadora principal do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Tem desenvolvido diversas pesquisas de âmbito nacional e internacional na área da sociologia da família e das políticas sociais. As suas áreas de interesse incluem evolução demográfica e mudanças nas estruturas da família contemporânea; interações familiares e redes sociais; género e família; conciliação entre vida profissional e vida familiar; políticas de família na Europa; mulheres e famílias imigrantes; famílias monoparentais; mudanças nas famílias camponesas portuguesas ao longo das últimas décadas.

Entre 1980 e 2001 foi docente do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa. Entre 1994 e 2004 foi membro do European Observatory on National Family Policies da Comissão Europeia.

É membro do Committee of Experts on Social Policy for Families and Children e membro da International Network on Leave Policy and Research. Desde 2003 coordena a Rede de Pesquisa em Sociology of Families and Intimate Lives na Associação Europeia de Sociologia.

Catarina Eufémia

Catarina Efigénia Sabino Eufémia (1928-1954)

Trabalhadora agrícola portuguesa que, na sequência de uma greve de assalariadas rurais, foi assassinada com três tiros quase à queima-roupa, pelas costas, por um tenente da GNR. Era militante comunista e tornou-se um ícone da resistência no Alentejo.

Catarina Eufémia tornou-se num ícone da resistência ao regime ditatorial e a sua simbologia foi principalmente formada pelo PCP, do qual foi militante.

Filha de trabalhadores agrícolas, começou a trabalhar desde muito nova e não frequentou a escola.

Em 19 de Maio de 1954, ocorreu uma manifestação de trabalhadores agrícolas em Baleizão, reivindicando melhores salários e condições de trabalho, tendo Catarina Eufémia liderado um grupo de catorze ceifeiras, que exigiam um aumento de salário. Quando os trabalhadores procuraram encontrar-se com o proprietário, a GNR foi alertada. A partir deste momento, existem vários testemunhos contraditórios sobre o acidente, embora tenham sido encontradas provas de que tenha caído após ter sido agredida por um agente, e que quando se levantou foram disparados três tiros, atingindo-a mortalmente. Na altura do seu falecimento tinha apenas 26 anos.

O funeral teve a presença de muitos populares, que protestaram contra o seu homicídio, tendo sido violentamente dispersados por agentes da GNR. Alguns camponeses acabaram por ser presos, tendo sido julgados e condenados a cerca de dois anos de prisão. De forma a evitar que fossem feitas romarias, os seus restos mortais não foram inicialmente depositados em Baleizão, tendo-o sido após o 25 de Abril.

O tenente Carrajola, responsável pela sua morte, foi transferido e nunca sofreu qualquer consequência legal pelo assassinato.

Fátima Messias

Maria de Fátima Marques Messias (1962-)

Dirigente sindical, é coordenadora da Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens da CGTP-IN, organização específica da CGTP-IN para as mulheres trabalhadoras, dirigindo a sua ação para o combate às discriminações e a promoção da igualdade de oportunidades entre mulheres e homens a todos os níveis.

Foi dirigente da Federação Portuguesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro e da União dos Sindicatos de Lisboa. Integra o conselho nacional da CGTP-IN, tendo chegado pela primeira vez à comissão executiva em 2004.

O seu longo percurso sindical é marcado pela valorização do trabalho, dos salários, dos direitos, liberdades e garantias, pela conciliação do trabalho com a vida familiar, bem como pela eliminação da precariedade e de todas as formas de violência, assédio e discriminação que assumem uma expressão particular junto das trabalhadoras.

Defende a luta pela igualdade, nos locais de trabalho, na rua, nas instituições e na sociedade.

Wanda Guimarães

Wanda Olavo Correa D’azevedo Guimarães (1944-)

Bancária reformada, sindicalista, deputada à Assembleia da República, pelo Partido Socialista, foi também Secretária Nacional para o Trabalho do PS.

Especialista em história laboral e sindical pertenceu ao Conselho Geral do Sindicato do Bancários do Sul e Ilhas, até 2015.

Ativa na União Geral de Trabalhadores durante vários anos, Wanda Guimarães é uma das figuras mais conhecidas no círculo do sindicato dos bancários, depois de ter lutado pela igualdade de género no setor.

Publicou, em coautoria com Vera Santana, o livro “Conversas em tempo de crise – A visão de uma sindicalista”.

Na sua atividade parlamentar foi Vice-Presidente da Comissão de Trabalho e Segurança Social, integrou várias subcomissões, destacando-se os grupos de trabalho, “Assédio no Local de Trabalho”, “Parentalidade e Igualdade de Género” e “Leis Laborais”.

Odete Filipe

Maria Odete de Jesus Filipe (1950-)

Operária metalúrgica entre 1965 e 1978, assumiu o cargo de delegada sindical em 1975.Foi eleita para a direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Lisboa em 1978, sendo sucessivamente reeleita.

Foi eleita para a União dos Sindicatos de Lisboa em 1980, passando a exercer funções a tempo permanente nesta estrutura sindical da CGTP-IN até 1985, sendo responsável pelo departamento de mulheres. É eleita para o Conselho Nacional da CGTP-IN em 1986 e sucessivamente reeleita, exercendo funções na área da igualdade de direitos e oportunidades.

É membro do Secretariado da Comissão Nacional de Mulheres desde 1980 e membro do Departamento e da Comissão Específica de Formação Sindical da CGTP-IN.

Desde 1987 que é representante da CGTP-IN na Comissão para a Igualdade no Trabalho e Emprego.

Foi membro da Direção do Movimento Democrático de Mulheres entre 1980 e 2000.

Foi eleita deputada pelo PCP nas III e IV legislaturas.

Fátima Grácio

Maria de Fátima Félix Pereira Grácio (1944 – )

Defensora incansável dos direitos das mulheres e uma promotora dedicada do legado de Maria de Lourdes Pintasilgo. A sua carreira é marcada pelo compromisso com a igualdade de género e o empoderamento das mulheres, trabalhando como técnica de formação e gestora de projetos com foco em mulheres e liderança.

Como membro e dirigente do Graal – Associação Movimento Internacional de Mulheres, atua no Conselho Consultivo, contribuindo para os objetivos da organização e promovendo a igualdade de género.

Em 2004, assumiu a presidência da Fundação Cuidar o Futuro, sucedendo a Maria de Lourdes Pintasilgo, e permaneceu no cargo até 2010. Durante esse período, deu continuidade ao trabalho da sua antecessora, liderando projetos transformadores para preservar e divulgar o seu pensamento e as suas ideias. Publicou vários artigos e organizou antologias de textos de e sobre Maria de Lourdes Pintasilgo, incluindo a obra “Cuidar a Democracia, Cuidar o Futuro”.

Durante os seus mandatos, liderou a organização, descrição e digitalização de 54.600 unidades documentais que compõem o acervo inicial do Arquivo Maria de Lourdes Pintasilgo. Também iniciou o Arquivo documental, físico e digital do Graal, projeto que continua a acompanhar com dedicação.

A sua paixão pela igualdade de género, pesquisa e preservação da obra de Pintasilgo fazem de Fátima Grácio uma figura inspiradora na luta contínua pela justiça e igualdade para todas as mulheres.

Ana Coucello

Ana Coucello (1948-)

Empenhada lutadora pelos direitos humanos, em especial os direitos das mulheres, foi uma das mulheres que colaborou diretamente com o grupo de militares responsáveis pela concretização do 25 de Abril.

Em jovem, abraçou os ideais democráticos e feministas e assumiu-se contestatária às Ditaduras, herança que ainda hoje honra.

Com 23 anos e a viver em Angola, em plena guerra colonial, inicia a sua atividade profissional dando explicações de Matemática, Físico-Química e aulas do ensino secundário.

Em 1973, já em Portugal, envolve-se ativamente, na conspiração militar para o derrube do Regim, como assessora da Comissão Coordenadora do Programa do Movimento das Forças Armadas.

Europeísta convicta, concorre, em 1978, ao Secretariado para a Integração Europeia dando início a um percurso profissional que percorreu empenhada, por diferentes instituições nacionais e estrangeiras, ao longo de 35 anos.

Tal como tantas outras pessoas, sobretudo mulheres, Ana Coucello considera a sua experiência partidária positiva, mas também “dececionante” por promover a discriminação sistémica das mulheres e por escarnecer do ideal feminista e das pessoas que o defendiam.

Já nos anos 80, a passagem, pela secção não-governamental do Conselho Consultivo da Comissão da Condição Feminina, corresponde à sua passagem para uma militância no universo das Organizações não-Governamentais de Direitos das Mulheres. Um envolvimento que levou, à criação, em 2004, da Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres, onde ainda hoje colabora.

Considera que «algo falhou na transmissão de memória às novas gerações sobre o que foi “a Guerra Colonial, a opressão, a tentativa de escrutínio do pensamento, o desamor pelas pessoas, o modo como tentar sair do lugar era correr risco de perseguição, tortura, morte”. Teme o branqueamento da memória pois corre-se “o risco de repetir coisas que não tinham necessidade de [se] repetir.” [Jornal Público, “Mulheres de uma revolução (ainda) em curso”, 04/04/2024]

Foi co-fundadora da Aliança para a Democracia Paritária (1993), é membro vitalício do Conselho de Administração da Associação de Mulheres da Europa Meridional, tendo sido sua Presidente (2000-2005) e foi Vice-presidente (2002-2004) do Conselho de Administração do Lobby Europeu de Mulheres.

Catarina Furtado

Catarina Furtado (1972-)

Apresentadora de televisão e atriz, é Embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População. É também a Presidente fundadora da Associação Corações com Coroa.

Sobejamente conhecida do público nacional, há cerca de três décadas que é presença assídua na televisão nacional.

Paralelamente a uma vida muito exposta publicamente, Catarina Furtado está igualmente comprometida com iniciativas direcionadas para a defesa dos Direitos Humanos, em especial os Direitos das meninas/raparigas/mulheres e tem acompanhado os problemas que teimam em não abandonar os países de língua oficial portugueses, especialmente na área de mortalidade materna.

Desde 2000 que exerce a função de Embaixadora de Boa Vontade do UNFPA cujo escritório em Londres é chefiado, por Mónica Ferro. A UNFPA é a agência das Nações Unidas para a saúde sexual e reprodutiva e o cargo de Embaixador/a da Boa Vontade é vitalício e não remunerado.

Este lugar envolve a realização de trabalhos de proximidade em diferentes países no mundo, nas áreas do Planeamento Familiar, da Saúde, Mutilação Genital Feminina, Maternidade Segura, Maternidade/Paternidade Adolescente, Violência sobre as Mulheres, Igualdade de Género, Discriminação, Envolvimento Masculino, entre outras.

Em 2010 foi convidada por Ban Ki-moon, anterior Secretário-Geral das Nações Unidas, convidou-a, como Oradora na Cimeira do Milénio, enquanto “Campeã dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio”, e na Abertura Oficial do Ano Internacional da Juventude.

Em 2012 fundou a Associação Corações com Coroa, que tem como missão “Empoderar raparigas e mulheres”. Trata-se de uma Associação sem fins lucrativos que atua em defesa dos Direitos Humanos, pela sua efetiva aplicação, e em especial através de projetos de empoderamento de raparigas e mulheres.

“Apoiar uma mulher é apoiar uma família, uma comunidade, um país.”

Capicua

Capicua (1982-)

Ana Matos Fernandes, uma portuense socióloga, com doutoramento em Geografia Humana, mas com o coração na música. A música foi o caminho pelo qual optou assumindo o nome artístico de Capicua.

2012 foi o ano em que se profissionalizou, fruto de um enorme alcance da sua música, e que resultou num grande aumento de seguidores e notoriedade mediática.

Fortemente influenciada pela poesia portuguesa, em especial a de Sophia de Mello Breyner, tem colaborado com diferentes artistas, como Sérgio Godinho, Sam the Kid e DJ Ride.

Com uma produção discográfica de relevo, entre álbuns, EP, Mixtapes e coletâneas, a sua música inspirou, em 2014, o nome da plataforma feminista “Maria Capaz” (criada por Rita Ferro Rodrigues e Iva Domingues). Em 2024, adaptou a música “Que força é essa” de Sérgio Godinho, com uma letra feminista dedicada às mulheres que trabalham nas limpezas e tantas vezes são invisíveis aos olhos da sociedade.

Em 2016 recebeu o Prémio José da Ponte, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores a jovens autores, em 2021, o Prémio José Afonso, atribuído pela Câmara Municipal da Amadora, e o Prémio Play de Melhor Artista Feminina, entre outros.

Como anteriores mulheres rappers, Capicua reforçou no mundo do hip hop o debate sobre questões relacionadas com a condição de ser mulher, como o sexismo, a violência doméstica, ou as desigualdades de género, temas ausentes do debate dos seus pares masculinos.

Maria Luísa Ribeiro Ferreira

Maria Luísa Ribeiro Ferreira (1944-)

Dentro da Academia, e fora dela, teve um papel fundamental na divulgação de mulheres filósofas e a importância do seu pensamento numa comunidade (pensante) fortemente masculinizada.

Professora Catedrática aposentada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, aprofundou o pensamento de Espinoza (o filósofo de origens portuguesas) e Hume. Em 2014, recebeu o livro A paixão da razão: homenagem a Maria Luisa Ribeiro Ferreira, publicação da responsabilidade do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, com organização de António Pedro Mesquita.

Quando terminou a licenciatura (anos sessenta) propôs ao seu orientador escrever a sua tese sobre Simone de Beauvoir. A proposta foi recusada porque, segundo o professor, Simone de Beauvoir não era uma filósofa, nem tão pouco haveria mulheres filósofas. (Fonte: Revista Caliban).

Embora a recusa a tenha encaminhado para o pensamento de Espinosa, a curiosidade, recheada de incredulidade, fez com que mais tarde iniciasse uma linha de investigação onde pudesse demonstrar que essa premissa estava errada e que tem havido, isso sim, uma decisão tácita por parte dos filósofos homens na ocultação das mulheres filósofas, silenciando, assim, as suas vozes. Não terá sido sem um pouco de amargura que percebeu que Espinosa, um combatente acérrimo dos preconceitos, não deixou de defender (no seu Tratado Político), o afastamento das mulheres da esfera pública. Espinosa e o levantamento do véu sobre a invisibilidade das mulheres filósofas têm sido duas das grandes causas que têm acompanhado o seu percurso de grande pensadora sobre “o sentido da vida”.

Tem uma extensíssima obra publicada desde livros, quer individualmente quer como coordenadora, a artigos de filosofia em revistas de especialidade, mas também em coletâneas de textos. Dos muitos títulos publicados destacam-se: As Mulheres na Filosofia (2010), Marginalidade e Alternativa. Vinte e Seis Filósofas para o Século XXI (2016) (com Fernanda Henriques) apresentando um conjunto de comunicações presentes no “Colóquio Internacional Marginalidade e Alternativa – Filósofas dos sécs. XX e XXI” (2014); Uma Meditação de Vida: Em Diálogo com Espinosa (2013).”

Cecília Simões

Cecília Simões Areosa Feio (1921-1980)

Membro da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, combateu a Ditadura durante décadas. Prestou destacado apoio aos presos políticos e seus familiares e envolveu-se na luta pela defesa dos direitos das mulheres.

Morreu com apenas 58 anos, mas com uma longa história de luta pela liberdade. Quem a conheceu diz ter sido uma mulher discreta, suave, bondosa, enérgica e corajosa, apesar de ser pouco conhecida a sua intervenção cívica.

O ano de 1945 marca a data em que Maria Lamas passou a liderar o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, coincidindo com a adesão de Cecília Simões a esta associação de defesa dos direitos das mulheres. A sua filiação destaca-se por ter sido uma assídua e profícua interveniente nas reuniões, por cedo ter sido eleita 2.ª Secretária da Direção (1945), e, também, por ter integrado a Comissão de Propaganda (1945 e 1946).

A década de 1940 assinala, ainda, o seu envolvimento de contestação política ao assinar (1945) as listas para a constituição do Movimento de Unidade Democrática (MUD) e o ter militado na Associação Feminina Portuguesa para a Paz (1935-1952), informações que constavam nos processos da PIDE. Até 1949 trabalhou no setor de Mobilização e Organização das Mulheres Comunistas. No final do ano de 1949, foi presa e levada para o Forte de Caxias (ficou na mesma cela de Maria Lamas, Virgínia Moura e Georgette Ferreira) de onde saiu sob caução.

Na década de 1960, tornou-se uma das fundadoras do Movimento Democrático de Mulheres (1968) e, em 1969, participou no Congresso Mundial de Mulheres realizado em Helsínquia. Este ano (até 1974) marca o seu grande envolvimento na Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos.

No dia 26 de abril de 1974 (com Maria Eugénia Varela Gomes e Rogério Paulo), discutiu com a Junta de Salvação Nacional, em nome da CNSPP, a situação dos presos políticos.

Zília Osório de Castro

Zília Osório de Castro (1935 – )

Professora Catedrática (jubilada) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL). Fundadora do Seminário Livre de História das Ideias. Fundadora e Diretora da revista Faces de Eva. O seu contributo foi fundamental para um novo olhar sobre a História das Mulheres dentro da Academia.

Licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1974); Doutorada em Filosofia (Cultura Portuguesa) pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1987) [Dissertação: História Cultural e Política de um vintista. Prova Complementar: O Regalismo em Portugal no Terceiro Quartel do Século XVIII. António Pereira de Figueiredo (Projecto de investigação). Concurso para professora associada em História das Ideias Políticas, F.C.S.H./U.N.L., (1993). Relatório: A ideia de liberdade (1820-1823). Provas de agregação em História das Ideias Políticas, F.C.S.H./U.N.L., (1997). Lição: Direito Natural e Teoria Política. Os caminhos do uno e do múltiplo no tempo e no espaço. Cadeira: História das Ideias Políticas – Revolução e contra-revolução. Da abstracção da temporalidade à abstracção da eternidade. Etc.]

Autora de extensa obra sobre o pensamento político dos séculos XVIII e XIX, nomeadamente sobre o vintismo e o primeiro constitucionalismo, a sua investigação dirigiu-se igualmente para os Estudos Sobre as Mulheres. Continua a manter como áreas de Interesse a História das Ideias Políticas e os Estudos sobre as Mulheres.

Enquanto cocoordenadora da equipa de investigação “Faces de Eva. Estudos sobre as Mulheres”, fundou e dirigiu a Revista que recebeu o mesmo nome e foi apresentada publicamente em dezembro de 1990. Publicação que, ao longo de já duas décadas, tem mantido a periodicidade inicial, duas revistas anuais, estando já no n.º 50.

Zília Osório de Castro participou no Mestrado “Estudos sobre a Mulher. As Mulheres na Sociedade e na Cultura”, da FCSH/UNL, área temática “O Tempo das Mulheres”, mas também diversos Seminários nacionais e internacionais como o “Rosto Feminino da Expansão Portuguesa” (CIDM, 1994), e projetos de investigação, nomeadamente “Mulheres na 1ª República”

Salienta-se, ainda, a Direção e colaboração nas obras fundamentais Dicionário no Feminino, Lisboa, Livros Horizonte, 2005; e Feminae. Dicionário Contemporâneo, Lisboa, CIG, 2013.

Serão sempre modestas as palavras que se dediquem a Zília Osório de Castro cujo pensamento nos transporta, frequentemente, para o conceito maior de Liberdade. É neste sentido, que se transcreve um pouco da sua mensagem inscrita no texto introdutório ao “Feminae. Dicionário Contemporâneo” e que, apesar de datar de 2013, permanece atual e oportuno.

“As mulheres, tal como os homens, são, acima de tudo, pessoas. Ignorá-lo traz consigo a decadência individual e comunitária e, daí, o empobrecimento da humanidade que, em casos extremos, tenderá para a sua aniquilação. (…) Neste sentido, a responsabilidade de todos os seres humanos – mulheres e homens – é imensa. (…) Isto é, como pessoas responsáveis pelos seus atos, como seres dotados de liberdade. Ora a opressão, seja ela de que teor for, corrói a humanidade.”

Mónica Ferro

Mónica Ferro (1972-)

Foi Diretora do Escritório do Fundo de População das Nações Unidas em Genebra desde abril de 2017, dedicou os últimos 20 anos à promoção da igualdade, do desenvolvimento e dos direitos humanos. Desde 2023 Chefia o Escritório do Fundo de População das Nações Unidas em Londres.

Mais do que os cargos que ocupou, Mónica Ferro distingue-se pelos seus ideais consubstanciados na defesa total dos Direitos Humanos, particularmente no que concerne à condição de ser Mulher nas sociedades modernas, a igualdade de género e a autodeterminação corporal.

Desde 2017, Mónica Ferro está consubstancialmente ligada ao Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA). Enquanto estudiosa, docente universitária e deputada sempre acreditou no papel fundamental do Sistema das Nações Unidas. Contudo, foi o facto de há muito trabalhar a área da População e Desenvolvimento que determinou a sua candidatura ao lugar que continua a desempenhar.

Criando em 1969, o UNFPA tem como objetivo “Contribuir para um mundo onde todas as gravidezes sejam desejadas, todos os partos sejam seguros e o potencial de todos/as os/as jovens seja atingido”. Mónica Ferro acredita que o UNFPA é um instrumento “verdadeiramente transformador para a vida de mulheres, raparigas e jovens – no fundo para as sociedades – de todo o mundo.”

O UNFPA à medida que foi estudando as populações e que foi fornecendo dados aos seus Estados Membros, para que pudessem planear os seus projetos de desenvolvimento, percebeu que teria de utilizar uma abordagem de Direitos Humanos. Deste modo, a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, de 1994, comumente designada por Conferência do Cairo permanece um marco histórico pois nela operou-se uma revolução paradigmática: o UNFPA deixou de se centrar nos números humanos para se focar nos Direitos Humanos.

Através da sua colaboração em alguns jornais nacionais, como aconteceu no último 8 de Março Invistam nas mulheres, ganharemos todos Mónica Ferro reforça a mensagem do UNFPA, para que se criem condições para que as mulheres possam ter uma vida mais digna. Pretende-se uma vida digna para todas as pessoas, no sentido global da humanidade, mas em particular para as mulheres pois permanecem as mais penalizadas.

Com uma vida muito ativa, apresenta um currículo já extenso, de que salientamos apenas que foi: deputada do PSD, Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PSD; Vice Presidente do Fórum Europeu de Parlamentares para a População e Desenvolvimento (2015-2017); Membro do Conselho Executivo do Fórum Europeu de Parlamentares para a População e Desenvolvimento (2012-2015); Coordenadora do Grupo Parlamentar Português sobre População e Desenvolvimento; Coordenadora do Grupo Parlamentar do PSD na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas (2011-2012). Mas também docente no ISCSP – Universidade de Lisboa e sócia-fundadora da ONG P&D, a Associação Portuguesa para a Cooperação sobre População e Desenvolvimento.

Palmira Alberto Matos

Palmira Alberto Matos (1927-2009)

Nasceu e faleceu no Bombarral. Resistente e ativista antifascista, participou nas campanhas eleitorais de Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958).

Com apenas 23 anos foi presa pela PIDE (1950); foi levada para Caxias e lá permaneceu até ao ano seguinte; na mesma data foi julgada pelo Tribunal Criminal de Lisboa, tendo sido absolvida e libertada.

Palmira Alberto Matos foi costureira e, como muitas pessoas à época, manteve militância clandestina no Partido Comunista Português e apoiou vários/as opositores/as ao Regime. Foi o que aconteceu com António Dias Lourenço quando este fugiu da Fortaleza de Peniche (1954). António Lourenço atirou-se ao mar, nadou até à praia e sabe-se que chegou ao Bombarral escondido numa camioneta de transporte de peixe. Palmira Alberto Matos acolheu-o e nunca foi descoberto. Quando faleceu o jornal Avante reconheceu-lhe a dedicação ao Partido e a coragem na defesa de outros/as opositores.

Depois do derrube do Regime (Abril, 1974), continuou na vida partidária assumindo cargos de responsabilidade política no Concelho do Bombarral. Também se tornou sócia do Círculo de Cultura Musical Bombarralense que ainda hoje se mantém ativo.

Ao comemorar-se o trigésimo aniversário da Revolução dos Cravos o Município do Bombarral decidiu agraciar os seus conterrâneos que tinham sido presos políticos antes do 25 de Abril:

«(…) durante os longos anos da Ditadura, houve Mulheres e Homens do nosso Concelho, que pagaram caro o preço da luta pela Liberdade e da afirmação dos ideais da Democracia e que por isso se viram privados da própria Liberdade pela qual lutaram, sujeitando-se a longos períodos de prisão por motivos políticos (…) foi também devido à luta dessas Mulheres e Homens, em conjunto com outros Cidadãos por todo o País, que é hoje possível vivermos em Liberdade, razão pela qual deverá o Concelho do Bombarral mostrar-se orgulhoso e simultaneamente reconhecido (…)»

ACTA N.o 03/2004 – Reunião de 05 de Março de 2004

Palmira Alberto Matos compareceu à cerimónia e foi uma das 27 pessoas agraciadas, muitas já a título póstumo, com a “MEDALHA DE HONRA DO MUNÍCIPIO”.

Este ano, na celebração do 50.º aniversário do 25 de abril, o Município do Bombarral voltou a homenagear os Presos Políticos Bombarralenses. A iniciativa concretizou-se na inauguração de um Memorial com o nome de todos os bombarralenses que, durante a ditadura, foram privados de Liberdade. Instalado no Largo 25 de abril, no centro da Vila, podemos ler o nome de Palmira Alberto Matos a única mulher no conjunto destes antifascistas homenageados.

O evento contou com a presença de Adelino Marques Ferreira, último sobrevivente deste corajoso grupo.

Clara Costa e Silva "Clara Não"

Clara Costa e Silva (1993-), mais conhecida como Clara Não, nasceu no Porto (Ordem do Carmo, Cedofeita), faz parte da atual geração que criativamente desconstrói tabus. Sorridente luta pelos seus Direitos, estendendo a reivindicação a todas as pessoas. Assume-se como “feminista a tempo inteiro”. Vive em Lisboa, mas não abandonou o Porto. O seu currículo é rico não só em colaborações com diferentes entidades, nomeadamente Associações, jornais, marcas, mas também na intensa participação em exposições. Está representada em diversas galerias.

Na sua nota biográfica conta que se licenciou em Design de Comunicação, pela Faculdade de Belas Artes do Porto, e fez Erasmus na Willem de Kooning Academie, em Roterdão, onde se especializou em ilustração e escrita criativa. Mais tarde, fez o Mestrado em Desenho e Técnicas de Impressão, explorando a relação fabular entre desenho e escrita.

Clara Não começou por publicar no Facebook, estando agora mais presente no Instagram.  Aproveitando as potencialidades das redes sociais, trabalha intensamente cada “cartão” antes de o publicar pois considera “que tem que haver um exercício de retórica para que as pessoas não se sintam atacadas, mas, antes, questionadas, desta forma há a possibilidade de se criar um diálogo sobre o que se publicou e não uma troca de insultos”. Esta forma de trabalhar tem feito com que as suas publicações sejam imensamente partilhadas; Clara não tem mais de 170 mil seguidores só no Instagram.

Clara não tem estado envolvida em projetos de caracter social, como “As Bravas”, (da Associação Pele, financiado pela Fundação Gulbenkian), mas também de caracter mais comercial, tem colaborado com diferentes marcas. Contudo, seja qual a vertente em que se envolva, o lado feminista nunca é abandonado. Porquê? “Porque os alvos a inferiorizar da sociedade machista são as mulheres. Porque são elas que veem a sua vida e liberdade em perigo diariamente; são elas que sentem o seu corpo e a sua vida privada invadidos e discutidos como objetos públicos. Todas estas razões fizeram com que o movimento fosse incitado por mulheres. Assim, chamar Feminismo não é só uma definição da força feminina intemporal em direção à igualdade, mas também é um tributo às mulheres que impulsionaram o movimento, pondo em risco a sua própria vida.”

Com irreverência e ironia nas ilustrações, humor nas palavras e ternura (ou raiva) no coração, sempre reivindicando a Igualdade, o seu trabalho centra-se em construir ideias de forma visual. Perceber a magia das próprias palavras, (…) “as nuvens são ovelhas de patas para o ar”.

Fontes: Clara não Instagram; Expresso; Correio do Porto, Saber Viver, Público

Grada Kilomba

Grada Kilomba (1968-)

Artista interdisciplinar, escritora e teórica, com raízes em Angola e São Tomé e Príncipe, nasceu em Lisboa, onde estudou psicologia e psicanálise.

As suas obras refletem sobre memória, raça, género, pós-colonialismo.

O seu trabalho cria um espaço híbrido, onde as fronteiras entre as linguagens académicas e artísticas se confinam. A multidisciplinaridade da sua obra expande-se desde a escrita, à leitura encenada dos seus textos, assim como instalações de vídeo e performance, resultando no que ela apelida de “Performing Knowledge”.

Com raízes em São Tomé e Príncipe e Angola, reside desde 2008 em Berlim. A experiência de crescer, estudar e trabalhar em Portugal, um país com marcados traços colonialistas marcou profundamente o seu percurso pessoal e profissional.

Doutorou-se em Filosofia pela Universidade Livre de Berlim e lecionou em várias universidades internacionais nas áreas de Estudos de Género e Estudos pós-coloniais. Mais recentemente, foi professora na Universidade Humboldt em Berlim.

“Memórias da plantação” é a obra que resulta da sua tese de doutoramento e é uma compilação de episódios quotidianos de racismo, enfatizando a mulher negra. Partindo de entrevistas com duas afrodescendentes, relatam-se vivências de exclusão, passando pelos insultos raciais ao corpo e cabelo. Grada Kilomba desmonta, de modo acutilante, a normalidade do racismo, expondo a violência e o trauma de se ser colocado/a como outro/a.

As suas obras têm sido apresentadas em várias instituições artísticas da América, África e Europa.

Em 2022, foi escolhida para fazer parte da equipa de curadoria da 35.ª edição da Bienal de São Paulo. Em 2023, o ISPA atribuiu-lhe o título de Honoris Causa.

Irisalva Moita

Irisalva Constância de Nóbrega Nunes Moita (1924-2009)

Nasceu em Angola, no atual Lubango. Aos 20 anos, mudou-se para Lisboa para prosseguir os estudos. Em 1949 licenciou-se em Ciências Históricas e Filosóficas.

No início da década de 50, e interessando-se pela arqueologia, obteve uma bolsa de investigação da seção de arqueologia do Instituto de Alta Cultura, (organismo criado pelo Ministério da Educação do Estado Novo para desenvolver e aperfeiçoar a cultura artística, a investigação científica e as relações culturais com o estrangeiro, bem como para divulgar a língua e a cultura portuguesas).

A bolsa duraria duas décadas, tendo Irisalva Moita estado envolvida em várias investigações e escavações arqueológicas em diferentes zonas do país, como perto de Viseu, Guarda e na região do Alentejo. A partir de meados dos anos 50, os seus interesses começam sobretudo a focar-se em Lisboa. O seu papel na arqueologia em Lisboa foi necessário devido ao aumento das obras de construção, como a do Metro de Lisboa que se iniciou em 1955.

Esteve frequentemente envolvida na proteção de infraestruturas e artefactos prestes a serem destruídos pelas obras. Com o tempo, tornar-se-ia reconhecida internacionalmente como especialista em preservação urbana.

Durante a década de 50, lecionou também na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tornou-se especialista em Olisipografia, e dedicou-se ao estudo de textos ligados a Lisboa, principalmente no que respeita ao desenvolvimento histórico e urbanístico da cidade.

Foi também comissária de várias exposições; e para além dos catálogos das mesmas, o seu trabalho integrou a coordenação de O livro de Lisboa, preparado para a Expo98.

Entre 1973 e 1975, delineou uma nova estrutura para o Museu de Lisboa, na qual propunha uma abordagem cronológica e evolutiva do desenvolvimento da cidade.

Manteve-se ativa ate ao fim da sua vida, estando sempre atenta a eventuais destruições do património

Em 2004, foi agraciada pela Presidência da República Portuguesa com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

A Câmara Municipal de Lisboa distinguiu-a com a Medalha de Honra da cidade, pelo trabalho que desenvolveu nos museus da cidade. O seu nome consta da toponímia da cidade, na zona do Lumiar.

Margarida Medina Martins

Margarida Medina Martins (1953-)

Ativista na defesa dos direitos das mulheres, jovens e crianças sobreviventes de violência, e cofundadora da Associação de Mulheres Contra a Violência, tem como missão de vida a defesa dos Direitos Humanos das Mulheres e das Crianças.

Considera que a “violência é um comportamento aprendido, numa cultura que a permite e a exalta.”

Assume-se como “feminista enquanto mulher que se preocupa com questões que afetam as mulheres e raparigas. As feministas são uma espécie de guardiãs de um património em risco de extinção”.

Dos muitos prémios que tem recebido em nome da AMCV, foi agraciada em 2013 com o Prémio Mulher ACTIVA, em reconhecimento do seu papel na área da defesa dos direitos das mulheres em Portugal.

Foi funcionária na Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica durante 16 anos, mas o apelo a uma participação mais ativa na defesa dos Direitos Humanos das Mulheres e das Crianças foi mais forte e abandonou a administração Pública.

A questão da saúde mental sempre lhe interessou. Na década de 1980, apercebeu-se que os hospitais psiquiátricos recebiam pacientes com todo o tipo de diagnóstico de saúde mental e, consequentemente, não tinham respostas diferenciadas para a violência contra as mulheres. Em 1987 participou na criação da Associação para o Estudo da Integração Psico-Social, a primeira associação que trouxe doentes mentais do Júlio de Matos para serem integrados socialmente. Neste projeto Margarida Medina Martins confrontou-se com sobreviventes de diferentes tipos de violência, nomeadamente: abuso sexual, incesto, violência doméstica.

Enfrentar esta questão apresentou-se-lhe urgente. Em 1992, na Junta de Freguesia de S. João de Deus, envolve-se em iniciativas comunitárias e, neste âmbito, a primeira problemática que se abordou foram as sobreviventes de violação de rua. Como resultado constituíram-se grupos de ajuda mútua.

Cofundadora da AMCV e sua Vice-Presidente, ali trabalha há mais de três décadas tendo representado a organização na ONU, WAVE, LEM, e Conselho Consultivo da CIG.

Segundo o Conselho da Europa, a AMCV foi pioneira no país ao disponibilizar a primeira casa de abrigo (2000) especializada na área da violência doméstica, destinada ao acolhimento, seguro e temporário, de mulheres e crianças sobreviventes de uma situação de risco grave ou em perigo de vida. A Associação também foi pioneira na abordagem integrada de mulheres e crianças, uma prática a iniciar-se só agora no estrangeiro, enquanto em Portugal esta é já uma prática.

Como momento marcante da sua vida considera o privilégio de ter participado na Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, da ONU, em 1993, em Viena. Foi um momento histórico, pois reconhecia-se, em termos internacionais e após 45 anos, que os Direitos das Mulheres eram Direitos Humanos, fazendo parte integrante da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.

Enquanto representante da AMCV é cofundadora de outras associações, nomeadamente: Associação Plataforma Internet Segura; da Associação Portuguesa para a Prevenção do Abuso e Negligência de Crianças; da Sociedade Portuguesa de Psicologia Comunitária e da Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres. É, igualmente, cofundadora da Associação Contra o Femicídio.

Foi, ainda, cofundadora de associações na área da Saúde Mental, como a Associação para o Estudo e Integração Psicossocial e a – Federação Nacional de Entidades de Reabilitação para Doentes Mentais.

Coorganizadora da obra Direitos Humanos das Mulheres (2022).

Marta Nunes

Marta Nunes (1984 – )

Ilustradora portuguesa, inspira-se na imagem (estórias) das mulheres como foco inspirador. O resultado é uma forte mensagem reivindicadora de liberdade substantiva para as mulheres, de todas as geografias, que preenchem a sua narrativa pictórica.

Formou-se em Arquitetura na Universidade da Beira Interior e foi desde aí que a ilustração começou a ganhar forma, começando a colaborar em diversos projetos, como publicações e exposições coletivas e individuais.

A ilustração surge sempre como o momento de liberdade, cujas narrativas são inspiradas essencialmente pelas expressões, as pessoas e os ofícios tradicionais, mas também pelos objetos do quotidiano e a poética dos dias úteis.

Expõe regularmente há mais de dez anos, com uma identidade visual depurada, com poucas cores, de pendor narrativo e socialmente interventiva. A mulher tem sido o foco central do seu trabalho, baseado em histórias sobre questões laborais, sobre violência doméstica e sobre saúde mental.

As mulheres do meu país foi um dos mais recentes trabalhos de Marta Nunes, inspirado na reportagem da jornalista Maria Lamas. A ilustradora pretendeu contar a realidade das mulheres portuguesas com todas as “camadas de lutas que existem por detrás”.

E acrescenta: “Numa sociedade em que comunicamos por imagens, chega-nos muito o exemplo da mulher bem-sucedida, que está sempre apresentável, uma imagem só de sucesso, e depois há todas estas camadas de lutas que existem por detrás, todos os dias. São lutas que merecem ser faladas, porque têm a ver com a realidade de muitas das mulheres do meu país”. (Público, 28 fevereiro 2022)

Marta Crawford

Marta Crawford (1969 – )

Psicóloga, especializada em sexologia clínica, foi uma das responsáveis pela institucionalização do Dia Nacional para a Saúde Sexual (4 setembro), e responsável pela exposição “Amor Veneris – Viagem ao Prazer Sexual Feminino”.

Marta Tavares Alberto Tereno Valente Crawford, conhecida por Marta Crawford é uma psicóloga portuguesa, que, através da sua especialização em sexologia clínica tem quebrado tabus sobre a sexualidade em Portugal.

O seu percurso é, porventura, invulgar uma vez que as suas aspirações de adolescente se dirigiam para o teatro. Na verdade, entre os 18 e os 23 anos foi atriz, começando na Barraca e percorrendo muitas outras Companhias.

Licenciada em Psicologia, formação que conjugou com a atividade artística, o percurso pela sexologia surgiu como um desafio desconhecido, mas que abraçou entusiasta tornando-se a sua missão de vida.

Com 23 anos abandona a atividade de atriz para se dedicar em exclusivo à área da Psicologia. Psicóloga, psicoterapeuta, Terapeuta Familiar especializada em sexologia clínica e, ainda, apresentadora de programas televisivos, este tem sido o seu percurso.

Estreou-se em televisão como apresentadora de programas, destacando-se: “AB Sexo” (2005-2006), “Aqui Há Sexo” (2009), na TVI; de sua autoria “100 TABUS” (2012-2013), na SIC Mulher; “5 para a meia noite” (2016), na RTP. Foi coautora e apresentadora do Videocast/Podcast “Muito mais do que Sexo”. Foi cronista no Mundo Universitário, no Diário de Notícias, no Lux Woman, do Notícias Magazine e atualmente na revista Gerador. É autora dos livros “Sexo sem Tabus”, “Viver o Sexo com Prazer – Guia da Sexualidade Feminina” e “Diário Sexual e Conjugal de um Casal”.

Marta Crawford foi coordenadora da comissão para o Dia Mundial da Saúde Sexual da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clinica (2018-2022) e impulsionadora da criação do Dia Nacional da Saúde Sexual (4 de setembro), aprovado por unanimidade pelo Parlamento nacional, em 2021.

Trabalhou ainda no Instituto do Emprego e Formação Profissional, colaborando no acompanhamento psicológico de utentes do Serviço de Psicoterapia Comportamental do Hospital Júlio de Matos. Pertenceu à equipa de aconselhamento e encaminhamento telefónico da linha SOS Dificuldades Sexuais e foi docente na Universidade Lusófona.

Acalenta o sonho de implementar o Museu Pedagógico do Sexo – MUSEX, um projeto criado por si em 2010, com o objetivo de pôr jovens e adultos a refletirem sobre as questões da sexualidade. Foi no âmbito do projeto MUSEX que realizou, com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras, a 1ª exposição dedicada a esta área. Com o Título Amor Veneris – Viagem ao Prazer Sexual Feminino esteve patente no Palácio Anjos, em Algés, ao longo de 9 meses. Um tempo em que se falou e refletiu sobre sexualidade feminina uma questão que não só permanece tabu como invisível.

Graça Lobo

Graça Lobo (1939-2024)

Atriz e encenadora, fundou a Companhia de Teatro de Lisboa (1979), imortalizada por Júlio Pomar. Reconhecia-se contraditória, mas também “uma mulher que gosta muito de teatro, que é atriz, que é mãe, que é vaidosa, que é simples e que é estudiosa” (DN;9/9/24). Um grito à liberdade que marcou o teatro nacional nas décadas de 1980 e 1990. Era uma mulher glamorosa.

Ainda estudante no Conservatório, estreou-se na Casa da Comédia (1967), na peça Noites Brancas, de Dostoievsky, encenada por Norberto Barroca. A peça Hedda Gabler, de Henrik Ibsen, foi uma das suas mais célebres atuações. Há que salientar que Graça Lobo encarnou as complexas personagens dos importantes textos do teatro contemporâneo, nomeadamente de: Edawrd Albee, Georges Feydeau, Harold Pinter,. James Joyce, Jean Genet, Jean Giraudoux, Luigi Pirandello, Samuel Beckett, Thomas Bernhard, Witold Gombrowicz. Arriscou ser Mariana Alcoforado!

Das representações mais recentes contam-se “Aqui Estou Eu Vírgula Graça Lobo” (Teatro São Luiz, 2003) e “As Três (Velhas) Irmãs”, a partir do clássico de Anton Tchékhov, com Mariema e Paula Só, com encenação de Martim Pedroso (Teatro D. Maria, 2015).

Editou o título “Sinceramente” (2001), um conjunto de pequenas narrativas.

No carrocel da vida, como aconteceu com tantas outras mulheres portuguesas que contrariam o modelo normativo (por exemplo a escritora portuguesa Maria Archer), Graça Lobo morreu num lar da Santa Casa da Misericórdia.

Nasceu numa família abastada, num palácio na Vialonga, propriedade do pai, e nele passou as férias e os fins de semana. Até aos 18 anos, os seus dias escolares foram passados em colégios de elite e de reconhecido nome. Contudo, perante as precoces manifestações de independente personalidade o pai mandou-a para um convento em Dublin. Tinha 15 anos e lá ficou até aos 17. Os pais estavam separados e muitas das decisões foram tomadas sem conhecimento da progenitora. A mãe, que Graça Lobo adorava, era uma mulher independente, empreendedora, com o seu próprio negócio e financeiramente independente, mas, fruto da época, as decisões parentais cabiam à figura masculina. Com 19 anos passou a trabalhar como hospedeira, primeiro numa companhia aérea de Bogotá e depois na TAP.

Para além de atuar em Portugal, também o fez no estrangeiro: nos Brasil, nos Estados Unidos (Nova Iorque e São Francisco), na Eslovénia e no Japão. O Teatro absorve-a numa paixão permanente.

Depois de uma vida dedicada à Representação, reconhece dificuldades na sua gestão financeira: “Era muito boa a gerir o dinheiro no teatro e era muito má a gerir o dinheiro na minha vida, por isso é que estou aqui.” Nos últimos tempos, percorreu vários Lares da Santa Casa da Misericórdia (Cascais, Montijo, Torres Vedras), percurso a que chamou “tournée” (DN, 10/09/24). Deixou-nos, aos 85 anos, aquela que é considerada pelos seus pares mulher de “personalidade marcante de uma grande coragem e determinação” (CNC, 9/9/24).

“Tenho a mania da liberdade”..

Luísa Amorim

Luísa Amorim (1946 – )

Médica, lutadora pelos direitos das mulheres, ativista e antifascista, foi militante do PCP e sua deputada.

“O meu grande crescimento, do ponto de vista político, e do ponto de vista humano, foi, de facto, no movimento das mulheres.”

Nasceu em Lisboa, fez o secundário no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, à época liceu apenas feminino. Licenciou-se em Medicina pela Universidade de Lisboa. Estudou História, na Faculdade de Letras da mesma Universidade e, ainda, Psicossomática no ISPA (atualmente Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida). No período de estudante de medicina foi dirigente da Pró-Associação de estudantes.

Aderiu ao Partido Comunista Português (PCP) em 1964, tinha 18 anos, entrando pouco depois na clandestinidade. Porque o seu companheiro estava preso, houve necessidade de reforçar o alerta. Luísa Amorim andou fugida.

Passado um tempo reconquista a legalidade e regressa à atividade partidária e cívica. Em 1969, participou ativamente na Comissão Democrática Eleitoral (CDE) e foi uma das fundadoras, e dirigente, do Movimento Democrático de Mulheres (MDM). Em 1973, nas últimas eleições legislativas antes da Revolução de Abril, Luísa Amorim foi candidata do Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral (MDP/CDE), uma das mais importantes organizações políticas da Oposição Democrática ao regime do Estado Novo.

Depois da Revolução de 1974, manteve-se dirigente do MDM e, de 1974 a 1979 foi funcionária do PCP. Durante a V legislatura (1987-1991), foi deputada à Assembleia da República pelo PCP. Não deixando de salientar o estatuto de inferioridade que as mulheres mantinham na sociedade portuguesa, disse:

«(…) A liberdade individual dá ao homem o direito de constituir ou não constituir família. Mas se o homem tem esta liberdade, é justo que a mulher tenha também a liberdade de viver como for seu agrado … / Meus Senhores e Minhas Senhoras: Não se diga que a mulher na política representa um papel inútil. Se a mulher não elege, no entanto, conspira e tem conspirado em todos os tempos (…)»

Contudo, por divergências com a orientação do Grupo Parlamentar. acabou por pedir a demissão de deputada. Foi, ainda, Vice-presidente da Federação Democrática Internacional das Mulheres e Vice-presidente do Conselho Português para a Paz.

Em 1992, na sequência da sua participação num colóquio com a comunicação “Que perspetivas para a esquerda nesta viragem de século?”, a direção do PCP, que tinha sido contrária à sua participação, afastou-a das funções que desempenhava. Em 2003, depois de 28 anos de militância no partido, saiu do PCP e também se demitiu dos cargos de direção que detinha no MDM.

Luísa Amorim inicia um novo rumo: dedica-se completamente à sua atividade de médica do Serviço Nacional de Saúde e a causas de cidadania. Agora, já aposentada, continua disponível para apoiar voluntariamente Centros de Saúde e também mantém atividade docente na Universidade Sénior de Torres Vedras, na área da Saúde.

Diz quem a conhece:

«Corajosa e abnegada militante da luta contra o fascismo e pelos direitos das Mulheres marcadamente leal e independente (…)»

Judith Teixeira

Judith Teixeira (1880-1959)

Judite de Reis Ramos de batismo, foi uma poetisa portuguesa. A sua expressão poética e a sua orientação sexual votaram-na a uma feroz invisibilidade.

Os seus primeiros poemas surgiram pelos 13 ou 14 anos e foram publicados anos depois, 1918/1919, assinados com diferentes pseudónimos (nomeadamente Lena de Valois), no Jornal da Tarde.

Casou com Jaime Levy Azancot, de quem se divorciou, em 1913, e, com Álvaro Virgílio de Franco Teixeira, em 1914, de quem adotou o apelido. Foi a partir de 1922, com 42 anos, que passou a escrever mais assiduamente e que deu a conhecer publicamente a sua obra poética. Em 1923, publica Decadência, a sua primeira coletânea de poemas, e ainda Castelo de Sombras. Em 1925, lançou e dirigiu a revista Europa, de que saíram apenas três números, e participou na conceituada revista Modernista Contemporânea. Envolta em conturbadas polémicas, escreveu a palestra: De mim. Em que se explicam as minhas razões sobre a Vida, sobre a Estética, sobre a Moral (1926), sendo consensual que se esteja perante o único Manifesto Artístico Modernista de autoria feminina do início do século XX, em Portugal.

A República, apesar de anunciar algumas alterações, mantinha um generalizado conservadorismo. A publicação de Decadência confrontou a sociedade portuguesa com a temática lésbica presente em alguns dos poemas. A obra é imediatamente rejeitada.

Judith Teixeira vê a sua primeira coletânea de poemas confiscada, por ser considerada imoral pelo carácter erótico e sensual dos seus textos.

Em 1926, Marcello Caetano escreveu na Revista Ordem Nova (pró-fascista) que o livro Decadência era da autoria “duma desavergonhada chamada Judith Teixeira”, regozijando-se pelo facto do seu livro, tal como Canções, de António Botto, e Sodoma Divinizada, de Raul Leal, terem sido apreendidos e mandados queimar pelo Governo Civil de Lisboa. Esta decisão vem na sequência de uma campanha liderada pela Liga de Ação dos Estudantes de Lisboa.

António Botto, Raul Leal e Judith Teixeira foram alvo de forte repressão. Contudo, Judith Teixeira, enquanto mulher e lésbica que escrevia sobre o amor, a sexualidade e a insubmissão femininas, foi particularmente marginalizada. Aquela que considerava que «a arte não poderia ser moldada pelos preconceitos da sociedade» foi ficando invisibilizada. Quando morreu, era quase uma desconhecida e assim se tem mantido.

Cristina Sampaio

Cristina Sampaio (1960 – )

Cartoonista, ilustradora e destacada representante feminina do humor gráfico português.

Cristina Sampaio é um exemplo da inserção feminina numa atividade/profissão maioritariamente masculina. Embora o humor (brincar, satirizar, troçar), seja uma característica que habita a espécie humana, estas presenças revelam-se tímidas.

A sua inspiração criativa centra-se na atualidade política, nacional e internacional, e nesse âmbito já teve alguns dissabores, nomeadamente receber “ameaças e mensagens de ódio às dezenas (…). O sentido de humor está a perder-se completamente”» o que é trágico pois «A sátira estimula a reflexão da sociedade sobre si própria, abre-lhe os olhos e o pensamento. E o humor é um veículo fundamental, e universal, para esse estímulo.»

Atenta à situação dos direitos das mulheres em Portugal, considera haver “ainda passos de gigante a serem dados. (…) Há empresas onde, para o mesmo trabalho, as mulheres têm salários mais baixos. É muito difícil uma mulher aceder a cargos de chefia ou a cargos políticos. A violência doméstica sobre as mulheres é uma realidade com números preocupantes.”

Lisboeta, fez o curso de pintura da Faculdade de Belas Artes de Lisboa. As primeiras publicações foram Banda Desenhada, na revista de BD “Visão”, em 1976. Desde 1986 que trabalha como cartoonista, e caricatura, para diferentes jornais e revistas nacionais, como o Público e o Expresso, como internacionais, nomeadamente The New York Times e Kleine Zeitung, Courrier International. A título de curiosidade recorda-se que os seus primeiros cartoons editoriais foram publicados no jornal da Federação Nacional de Professores, o “Jornal da FENPROF”.

Realiza curtas de animação para a TV, nomeadamente para a RTP. Integra o coletivo Spam Cartoon (spamcartoon.com). Desde 1987 também tem trabalhado como ilustradora infanto-juvenil, área onde já publicou mais de duas dúzias de títulos.

Desde exposições retrospetivas (2001, 2018 e 2019), a exposições coletivas e individuais, quer em Portugal, quer no estrangeiro (Alemanha, Bélgica, Brasil, Cuba, Dinamarca, França, Grécia, Itália, Noruega, República Checa, Suíça, Turquia), o seu trabalho tem figurado em diferentes mostras.

Detentora de diversos prémios, com destaque para o Prémio Stuart de Desenho de Imprensa (2006 e 2010) e o 1º Prémio de cartoon editorial do World Press Cartoon (2007), onde recebeu igualmente duas menções honrosas (2009 e 2015). Desde 2009 faz parte do Cartooning for Peace. Em 2009 o Festival da Amadora atribuiu-lhe o prémio de melhor ilustração infantil pelo livro Canta o Galo Gordo.

Em 2024, Cristina Sampaio integra a 35.ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, com a exposição “Assim vai o Mundo, Cristina!”, patente na Galeria Municipal Artur Bual/Casa Aprígio Gomes até 17 de novembro. O título é inspirado na Mafalda, de Quino.

Fontes: Le crayon; Público P3; podcast Perguntar Não Ofende; FANY-BLOG; Cartooning for Peace

Vânia Carvalho

Vânia Filipa Guerreiro de Carvalho (1978-)

Comandante da Marinha Portuguesa e especialista em Hidrografia e Oceanografia.

Nascida em Lisboa, é uma das muitas portuguesas anónimas que tem uma atividade profissional tradicionalmente desempenhada por homens, mas, embora em menor número, também abraçada por mulheres, que acabam por ficar sob o estigma da invisibilidade.

Desde sempre, perante a sua imensa vastidão, imprevisibilidade, e enigmas que encerra, que há um fascínio desafiador pelo Mar. Um fascínio que cativa homens e mulheres…e elas também têm abraçado esse desafio azul, disso é prova o apego que Vânia Carvalho lhe tem.

«Costuma-se dizer que “existem os vivos, os mortos e os que andam no Mar” e esta expressão é muito verdadeira. No Mar somos constantemente submetidos à prova e à resiliência, a união (trabalho de equipa), a camaradagem, a dedicação e o talento são os ingredientes chave para alcançar o sucesso.» (p.317).

Abraçados sempre com empenho, a Marinha Portuguesa tem colocado grandes desafios a Vânia Carvalho, onde trabalha desde o final do século XX. Comandante da Marinha Portuguesa e especialista em Hidrografia e Oceanografia, uma das provações mais forte, mas extremamente gratificante, foi o de ter sido «(…) nomeada para a Campanha Antártica 2009 ANTARKOS XXV.» (p. 318).

Fonte: Mulheres e o Mar, Coordenação Elsa Páscoa, Diário de Bordo, 2021 (pp317/318).

Corália Loureiro

Corália Loureiro (1956 -)

Integra o Conselho Nacional do Movimento Democrático de Mulheres e enquanto autarca implementou a primeira vigência dos Planos Municipais para a Igualdade no Município do Seixal, tendo este sido agraciado logo nas duas primeiras edições do Prémio Viver em Igualdade.

Nas últimas semanas a CIG esteve muito envolvida na concretização da 7ª Edição do Prémio Viver em Igualdade (2024-2025), com 61 Autarquias distinguidas, uma participação muito distante da do inicio desta Distinção que se situou em 4 Municípios. A recordação fez-nos recuar no tempo e recuperar um dos municípios agraciado. Nele encontrava-se uma mulher autarca que muito se envolveu para que o Seixal fosse um dos distinguidos (a par de Abrantes, Montijo e Valongo), essa mulher foi Corália Loureiro.

Foi professora, formadora, delegada sindical, autarca e a primeira mulher eleita Presidente da Assembleia Geral do Independente Futebol Clube Torrense, assim como a primeira mulher política a integrar o Comité Executivo das Cidades Saudáveis da OMS.

Iniciou a sua atividade autárquica em 1986 como membro da Assembleia de Freguesia de Arrentela, foi Vereadora na Câmara Municipal do Seixal, Vice-Presidente da Câmara. Neste seu último mandato integrou a Comissão Nacional de Proteção de Crianças.

Enquanto responsável pela Acão Social da Câmara Municipal do Seixal, procurou desenvolver uma política social, centrada no trabalho coletivo, em parceria, e no desenvolvimento de projetos que constituíssem o reforço da igualdade e a promoção da solidariedade, a inclusão e a cidadania.

Atualmente, é Presidente da Assembleia Geral da Associação de Paralisia Cerebral Almada Seixal, e Presidente da Assembleia Geral da Santa Casa da Misericórdia do Seixal.

Enquanto autarca destacou-se pela sua resiliência, inconformidade e luta permanente pela Igualdade de Oportunidades entre homens e mulheres.

Luísa Gonçalves

Luísa Gonçalves

Pianista, compositora e improvisadora no género Jazz. Gosta da improvisação coletiva considerando-a fundamental para quem executa música. Este ano editou o disco “Under Your Breath”, um trabalho com um tempo de criação de cerca de quatro anos.

Numa área que permanece maioritariamente masculina, vamos, aqui e ali, encontrando personalidades femininas que contrariam as seculares tendências. Luísa Gonçalves é uma destas forças que, num género musical mais circunscrito, o do jazz, conquistou com as suas criações um público que se revela rendido à sua mestria.

Aos quatro anos cruza-se com o piano e inicia o seu precoce estudo. Andou na Academia de Música de Santa Cecília e no Conservatório, ambos em Lisboa. Fez a sua licenciatura na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, no Porto e frequentou o mestrado na Universidade de Évora, onde estudou com o pianista António Rosado.

Luísa Gonçalves talvez não seja muito conhecida pelo público em geral. Contudo, depois do lançamento do seu trabalho UNNO, álbum de piano a solo em que cruzou a influência clássica com a improvisação do jazz, obtendo um resultado considerado brilhante, despertou os ouvidos, e a atenção, de quem aprecia o género. “UNNO” revelou-se uma boa surpresa no ano de 2020, recebendo reconhecimento nacional e internacional.

Publicou os discos de música original: “Book of Songs” (2008), “Clorântida” (2015), “Cuco” (2018), “Promenades Enfantines à Paris” (2023) e “Under Your Breath” (2024).

Criadora do projeto “Nude”, em que vai convidando músicos de forma espontânea, tornando singulares as atuações que o projeto tem realizado, com atuações em Lisboa e no Festival Internacional de Saxofones de Palmela, com o objetivo de «ser esse livre encontro de peregrinos».

Sofia de Oliveira Ferreira

Sofia de Oliveira Ferreira (1922-2010)

Ativista e política antifascista, foi a mulher que mais tempo esteve presa por motivos políticos (12 anos). Viveu 28 anos na clandestinidade.

Filha de trabalhadores agrícolas, aos 10 anos já trabalhava no campo como assalariada ganhando pouco menos que a mãe: cerca de 3 escudos.

Nasceu em Alhandra e com 2 anos a família muda-se para Vila Franca de Xira estabelecendo aí residência. As dificuldades económicas do agregado familiar obrigam-na a não frequentar a escola e cedo começa a trabalhar na agricultura na “apanha de favas, andar com as éguas a gradar”. Com 12 anos muda-se para Lisboa para viver com os padrinhos passando a ajudar nos trabalhos domésticos e de cuidado (de pessoas idosas). Também cuidava dos animais de criação que existiam no contíguo quintal. Nesta época aprende a ler e a fazer contas com uma vizinha. Desenvolve esta nova aprendizagem iniciando correspondência regular com a família.

Em 1945, terminada a II Guerra Mundial, há a expectativa de que o país se democratize, o que não acontece e, consequentemente, intensifica-se, internamente, a luta política. Com 24 anos, tornou-se militante do Partido Comunista Português, entrando, na clandestinidade em 1946.

Foi presa pela primeira vez em 1949, juntamente com Álvaro Cunhal e Militão Bessa Ribeiro. A PIDE irrompe durante a noite, enquanto dormiam, surpreende-os com grande violência, apontam uma arma à cabeça do dirigente comunista. Sofia de Oliveira Ferreira foi levada para a sede da PIDE do Porto onde encontrou Luísa Rodrigues (companheira de Militão Ribeiro) profundamente doente fisicamente, mas sobretudo psicologicamente. Apesar de Sofia Ferreira ouvir os gritos de pedido de ajuda de Luisa Rodrigues a PIDE não a deixou socorrer, revelando-se uma prática recorrente da polícia política para enfraquecer a resistência dos/as prisioneiras.

Ficou seis meses na subdiretoria do Porto em total isolamento e onde foi alvo de constantes interrogatórios acompanhados de agressões físicas e ameaças. Transferida para a prisão de Caxias, é posta em liberdade mediante o pagamento de caução. No ano seguinte, no julgamento com Álvaro Cunhal, foi condenada em dezoito meses, com pena agravada para vinte meses e, ainda, um ano de medidas de segurança. Acresce que, por pertencer ao Partido Comunista, fica sem direitos políticos durante 3 anos. Saiu da prisão em 1953 e nesse mesmo ano regressa à atividade política.

Em 1957, foi eleita membro suplente do Comité Central e nele permaneceu até 1988.

Em 1959, é novamente presa, regressando ao Forte de Caxias e, novamente, a PIDE não consegue que Luísa Ferreira colabore nas exigências de denúncias. No julgamento, em 1960, foi condenada a 5 anos e meio de prisão, mais 3 anos de medidas de segurança.

Nos períodos de cativeiro foi sujeita a diferentes privações: a alimentação para além de ser mal confecionada era insuficiente; os guardas prisionais atingiam-na com provocações, castigos e espancamentos. Via os homens e mulheres, seus companheiros/as, saírem para interrogatórios e regressarem irreconhecíveis pelo excesso de agressões que lhes tinham sido aplicadas, provocando um efeito psicológico devastador a quem os via regressar. Quando a mãe faleceu (1965), não teve autorização para ir ao velório.

Foi libertada em 1968.

Em liberdade, mas doente e debilitada, passa ano e meio na União Soviética com o marido. Regressada à militância, volta a desempenhar tarefas política e em 1969, integrou a delegação portuguesa ao Congresso Mundial das Mulheres, em Helsínquia, onde falou sobre as condições de vida das trabalhadoras, as iniciativas em defesa da paz e as campanhas de solidariedade realizadas no país. Regressou a Portugal em 1970.

Faleceu aos 87 anos sendo uma das 1755 mulheres que estiveram presas por motivos políticos ao longo da Ditadura em Portugal (1926-1974) e destas foi a que mais tempo esteve presa, cerca de 12 anos.

Fontes: “Elas estiveram nas prisões do fascismo”, URAP – União de Resistentes Antifascistas Portugueses, 2023, 4.ª edição;
“Feminae – Dicionário Contemporâneo”, CIG, 2013, pp. 862-863;
Wikipédia;
Silêncios e Memórias.

Inês Thomas Almeida

Inês Thomas Almeida (1976 – )

Musicóloga e docente, tem como principais interesses de investigação a música no século XVIII, mulheres e música, proto-feminismos entre outros. Em diferentes webinars tem divulgado as “Mulheres Compositoras”.

Ao articular investigação e docência, apercebeu-se da invisibilidade histórica que atinge as mulheres compositoras. Com o propósito de falar deste sistemático apagamento de género participou no Webinar do projeto da PpDM De Viva Voz II: Por uma ação feminista transformadora, um projeto que recebe Apoio Técnico e Financeiro da CIG, onde, entusiasticamente, abordou a questão.

Nasceu na República Dominicana e cresceu em Portugal (filha de uma diplomata dominicana e de um matemático português).

É doutorada em Ciências Musicais Históricas, pela Universidade Nova de Lisboa, com a tese “O olhar alemão: A prática musical em Portugal em finais do Antigo Regime segundo fontes alemãs”.

É investigadora no Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Para além de ter sido docente na Academia Nacional Superior de Orquestra continua a atividade da docência ao dar, com regularidade, cursos livres na UNL.

Inês Thomas Almeida mantém uma intensa atividade como conferencista, quer em colóquios nacionais e internacionais da sua área científica, nomeadamente na Fundação Calouste Gulbenkian, quer Teatro Nacional de São Carlos.

Com um vigoroso percurso profissional, nacional e internacional, tem sido igualmente responsável por inúmeras iniciativas de cariz cultural, social e humanitário. Na Alemanha, onde viveu, criou uma ONG para o apoio à comunidade portuguesa em Berlim e onde recebeu vários prémios e distinções pelos serviços prestados à comunidade.

Dedica-se com determinação à divulgação e disseminação de conhecimento para o público não-especializado, destacando-se os webinars “Curso de Cultura Musical” e “Mulheres Compositoras”.

Logótipo da CIG