Maria Isabel Barreno (1939-2016)
Nascida em Lisboa a 10 de julho de 1939 e licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Maria Isabel Barreno fica para a história como uma das «Três Marias», nome por que ficou conhecido o processo em que, durante o Estado Novo, foi julgada (juntamente com Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa) pela escrita da obra de alegado “teor pornográfico” «Novas cartas portuguesas» (1971).
O julgamento que, durou dois anos, foi acompanhado de perto pela imprensa, nacional e internacional, e pelos movimentos feministas internacionais, que organizaram manifestações de protesto juntos às embaixadas e consulados portugueses em Londres, Paris e Nova Iorque. A conclusão do caso ocorreu já depois do 25 de Abril de 1974, tendo as três escritoras sido absolvidas.
Maria Isabel Barreno trabalhou no Instituto Nacional de Investigação Industrial, foi jornalista e Conselheira Cultural para o Ensino do Português em França e publicou 24 títulos, entre romance e investigação na área da Sociologia. A sua obra «O falso neutro: um estudo sobre as discriminação das mulheres no ensino», de 1985, permanece incontornável para o conhecimento e a denúncia da submissão das mulheres.
A propósito da sua obra literária, António Guerreiro escreveu no jornal «Público» (5 de setembro de 2016):
«Uma síntese fácil e adequada da obra literária de Maria Isabel Barreno faz-se numa só palavra: feminismo. É certo que, desde 1968 – o ano em que a escritora se estreou com o romance De Noite as Árvores São Negras – até hoje, o feminismo passou por grandes transformações, foi objecto de muitas querelas e sofreu inflexões teóricas relevantes, às vezes com efeitos de ruptura. Mas Maria Isabel Barreno não se deslocou significativamente em relação à sua matriz feminista inicial, longamente declinada na sua ficção narrativa (romances, contos e alguma escrita com uma forte componente ensaística, como é A Morte da Mãe, de 1979) até ao seu último romance de 2009, Vozes do Vento.»
Feminista (comb)ativa, investigadora, escritora e ensaísta, Maria Isabel Barreno é, pois, um nome incontornável da literatura e da cultura em Portugal, tendo fundado, com Maria Teresa Horta, o Movimento de Libertação das Mulheres.
Veja Maria Isabel Barreno apresenta-se com biografia breve » (In Ler+ ler melhor – Maria Isabel Barreno, 2011)