Mulheres que fazem Abril todos os dias
Por: Sandra Ribeiro, Presidente da CIG
O que torna uma mulher inspiradora? Não é apenas o cargo, a visibilidade ou o poder — é a coragem de lutar pelos seus direitos, de transformar a sua liberdade num caminho que quer seguir, mesmo quando lhe dizem que não é o dela, que não lhe fica bem, que não é adequado para ela. E com esse caminho, abrir tantos outros para tantas outras.
Foram inspiradoras as que desafiaram as regras caquéticas do “É assim porque sim!” ou do “É assim porque sempre assim foi!”. São inspiradoras as que ousam escolher, aprender, liderar e vencer, seja em que área for. As que abrem portas, mesmo quando lhes dizem para ficar quietas. As que se levantam de madrugada, as que apanham o autocarro todas as manhãs, as que estão nas fábricas, as que vendem nos mercados, as que fazem fatos por medida ou peças de roupa em série, as que fazem investigação, as que estão em laboratórios, as que guiam camiões, as que cozinham, as que cuidam dos seus filhos e dos filhos das outras, as que ensinam nas salas de aula, as que são CEO de empresas, as que abrem o seu próprio negócio. Todas nos inspiram com o exemplo e não com o ego.
A Revolução dos Cravos mudou o destino do país. Trouxe-nos democracia, direitos, voz. Para as mulheres portuguesas, foi o início de uma nova era: deixámos de precisar de autorização para trabalhar, estudar, viajar, decidir. Começámos a ocupar espaço, a assumir cargos de chefia, a liderar empresas e instituições, a marcar o presente e a construir o futuro.
Mas a liberdade não é um ponto de chegada, é um exercício constante. Ser livre para escolher continua a ser um gesto poderoso: escolher não seguir expectativas, escolher liderar, escolher ser mãe ou não ser. Inspiradoras são as mulheres que escolhem com autonomia e constroem o seu próprio destino, não o que lhes querem impor.
Ser livre para aprender é, talvez, um dos maiores frutos de abril. A democracia escancarou as portas das escolas e das universidades às mulheres. Mas o verdadeiro impacto foi que as mulheres agarraram — e continuam a agarrar — essas oportunidades. Hoje, são quem mais estuda, mais se licencia, mais tira mestrados e doutoramentos.
Ter oportunidade de vencer é mais do que conquistar um lugar: é desafiar estruturas, quebrar silêncios, contribuir para mudar mentalidades. As mulheres que vencem e se destacam no mundo empresarial e institucional fazem-no com competência, empatia e visão.
Neste 25 de Abril, celebramos não só a liberdade conquistada, mas também as mulheres que a tornam real todos os dias, com trabalho, com coragem e com futuro. Porque uma democracia plena vive-se e faz-se todos os dias.
Este texto foi publicado originalmente na Revista Mais Magazine, editada com o jornal Expresso de 25 de Abril de 2025.