Mulheres Africanas, vidas resilientes
O Dia da Mulher Africana foi instituído em 1962, na Conferência das Mulheres Africanas, realizada na cidade de Dar-Es-Salaam (Tanzânia), a 31 de julho. Invocar as mulheres africanas remete para uma constelação riquíssima, mas complexa, na sua diversidade cultural.
O continente africano é composto por 54 países (neste estão ainda incluídos os territórios não reconhecidos da Somaliland e a República Árabe Saharaui Democrática). A sua grande extensão geográfica concentra inúmeras riquezas naturais e culturais; nele encontram-se entre 1 250 a 3 000 línguas nativas. Atualmente, o planeta tem cerca de 9,7 bilhões de pessoas, África comporta mais de um bilião e destes meio bilião, muito provavelmente, serão mulheres.
Falar das mulheres africanas é refletir sobre as grandes transformações que têm ocorrido neste Continente, nomeadamente no projeto de modernização e construção da identidade africana. Este processo identitário favoreceu o fortalecimento de movimentos de emancipação feminina. Em alguns países houve, mesmo, a oportunidade das mulheres participarem nos processos político e económico, mas são iniciativas de tímida expressão e pouca repercussão.No entanto, não se pode negar que, embora frequentemente invisíveis, as suas resistências e ativismos sempre estiveram presentes, exercendo papéis essenciais nos processos de construção e de reconstrução da paz.
Neste imenso continente, também não se pode ignorar aspetos fundamentais para a sobrevivência da sua população: a insegurança alimentar, a violência que está a caracterizar as sociedades, as alterações climáticas, os muitos conflitos armados que ali grassam. São realidades que afetam negativamente homens e mulheres, mas com maior gravidade nas mulheres. Recorde-se que frequentemente as mulheres e as meninas são utilizadas como armas de guerra.
Pensar nas mulheres africanas é também, como noutras partes do globo, denunciar que continuam a ser vítimas de Mutilação Genital Feminina (MGF). A MGF é uma prática que ocorre em mais de duas dezenas dos países africanos, em alguns destes esta prática é quase universal (cerca de 97% da população feminina). Apesar de ser reconhecida como uma violação dos direitos humanos, cerca de 68 milhões de raparigas continuam em risco de sofrer mutilação genital até 2030. Tradicionalmente a MGF é feita com uma lâmina e sem qualquer anestesia, provocando consequências irreversíveis na vida das mulheres.
Em 2023, a CIG assinalou este Dia com uma conversa com a jornalista luso-moçambicana Paula Cardoso que partilhou connosco a sua visão sobre a realidade das mulheres africanas em Portugal. Pode ainda assistir a esta entrevista no 1/2 Dose de Conversa.