Mulheres na Agricultura
O Ministério da Agricultura e Alimentação celebrou o Dia Internacional da Mulher Rural, dia 15 de outubro, com a palestra Mulheres na Agricultura.
A sessão teve como oradora Isabel Escada Mendes autora do artigo “Mulheres na agricultura: 1989 a 2019”, publicado na revista CULTIVAR Nº28|junho 2023 (pp103-112).
Numa esclarecedora sessão, a autora foi revelando que o palco ocupado por homens e por mulheres no setor agrícola foi-se transformando ao longo das 3 décadas em análise. De profissionais invisíveis, inseridas no lugar de filhas e esposas dos proprietários (a figura persistente de “chefe de família”), conquistaram autonomia enquanto “produtoras, técnicas especialistas em agronomia e dirigentes agropecuárias” (p. 103) contribuindo para isso, não só a experiência adquirida, mas, também, o aumento das suas competências académicas e formativas a nível do sector.
No contexto demográfico, 39% população feminina residente em Portugal vive em meios rurais; destas 16% têm menos de 20 anos, 62% têm entre os 20 e os 70 anos e 22% têm mais de 70 anos. Apesar de no período em análise se ter verificado um envelhecimento e uma redução da população agrícola familiar a presença das mulheres no sector manteve-se praticamente constante.
Verificou-se que “Desde 1989, reduziu-se para menos de metade o número de produtores singulares; contudo, verificou-se uma grande subida no que se refere à franja do sexo feminino, uma vez que, em 1989, apenas 15% destes produtores singulares eram mulheres e, em 2019, elas já representam 33% do total.”(p.107) Esta situação revela um maior peso feminino na Região Autónoma da Madeira, com 45% de produtoras; o Ribatejo e Oeste com 21% e a Região Autónoma dos Açores com 23% de produtoras.
Na sessão Isabel Escada Mendes abordou a questão dos dirigentes de exploração e verificou que “são as regiões da Madeira e o Norte e Centro, aquelas onde os Dirigentes do sexo feminino têm maior peso, ao passo que nos Açores, Ribatejo e Oeste e Alentejo são regiões onde há menos dirigentes do sexo feminino.” Constata-se que desde 1989 (16%) até 2019 (33%) tem havido uma evolução positiva, embora sempre tímida, no número de mulheres dirigentes de explorações agrícolas (p.108), poderíamos arriscar dizer que as mulheres também têm vindo a conquistar posição em lugares de decisão no mercado agrícola. Já os salários para os/as trabalhadores/as no sector da agricultura, da produção animal, caça, floresta e pesca mantém uma assimetria de género que em 2021 apresentava uma diferença de -7,8% penalizadora para as trabalhadoras (H 1032€/M 952€).
No debate percebeu-se que da experiência recolhida pelos/as técnicos/as presentes é a de que as mulheres são parte ativa na gestão dos projetos detendo, em determinadas tarefas, muito mais informação corrente do que os homens.
A CIG esteve representada por Ana Borges que recordou que o país nos anos de 1980 continuava a percorrer um caminho de (re)descoberta e neste contexto a Comissão da Condição Feminina (CCF) realizou o Seminário «As Mulheres Agricultoras», nos dias 29 e 30 de janeiro de 1987, nas Caldas da Rainha, e que reuniu 500 participantes (cujas atas se encontram no Centro de Documentação da CIG). À época muitas mulheres ligadas ao setor agrícola tinham um estatuto de invisibilidade, hoje só nos podemos congratular pois, não só os organismos que tutelam a área se interessam por estas questões e a elas dedicam parte do seu tempo, como as estatísticas revelam a sua existência: as mulheres agricultoras deixaram de ser invisíveis.
Consulte a revista Cultivar_28.pdf (gpp.pt)