Celebremos Natália Correia
Por todo o país assinala-se hoje (13 de setembro), o centenário do nascimento de Natália Correia (1923-1993). O dia será marcado por inúmeras iniciativas homenageando a sua vida e a sua obra e que irão decorrer nos próximos meses, em todo o país, do Norte aos Açores.
Ao longo da vida manteve uma altivez e uma segurança que não eram consentidas às mulheres portuguesas em plena ditadura e mesmo o Portugal democrático suportava mal tão desafiadora confiança feminina. Os seus adversários foram-se vingando mostrando-a corpulenta, extravagante nos gestos, posturas corporais ameaçadoras, mas sempre demonstrando que era um espírito indomável. E foi!, pois que o seu temperamento, e a sua superioridade intelectual, não se deixaram capturar.
De inteligência iluminada era portadora de uma visível coragem cívica não muito comum num “Portugal Amordaçado”. Recordamos um episódio exemplificativo desta sua coragem, dirigido a todas as portuguesas à época (mesmo que elas não o soubessem ou o não entendessem) e de particular significado para a CCF/CIDM/CIG.
Em maio de 1971 Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta resolvem escrever um livro a seis mãos. No início de 1972 a obra estava terminada e, assim, nasceria Novas Cartas Portuguesas. Marcelo Caetano comandava a vida dos/as portugueses/as, a ditadura mantinha-se, o medo também, e também o conservadorismo; nenhuma editora queria publicar a obra. Em abril de 1972, o livro seria publicado pela editora Estúdios Cor, que tinha direção literária de Natália Correia; apesar de ter sido advertida para cortar partes da obra, insistiu em a publicar na íntegra. O que se seguiu terá outras protagonistas, mas foi a coragem de Natália Correia que proporcionou que a obra Novas Cartas Portuguesas saísse à rua.
Faz hoje cem anos que nasceu uma mulher sem medo.