Projeto Oeste +Igual promove debate sobre como a conciliação transforma a economia do país
No dia 30 de maio, no âmbito do Projeto Oeste +Igual, financiado pelo Mecanismo EEA Grants, realizou-se um Seminário na Comunidade Intermunicipal do Oeste, com o objetivo de discutir a conciliação entre vida profissional, pessoal e familiar.
O evento foi dividido em dois painéis. O Painel 1 abordou a possibilidade dos parceiros sociais desempenharem um papel protagonista nas políticas de conciliação. O Painel 2 debateu a conciliação como eixo estratégico do desenvolvimento económico, explorando os benefícios para as pessoas, famílias e territórios decorrentes das políticas de conciliação a nível municipal e intermunicipal.
A sessão de abertura foi conduzida pelo Presidente da OesteCIM, Pedro Folgado, seguido por Sandra Ribeiro, Presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG). A Presidente da CIG destacou que Portugal é o único país da Europa com um programa específico para a igualdade, expressando o desejo de que o Projeto deixe uma marca duradoura e seja incorporado nas práticas diárias de todos os Municípios envolvidos, para que a conciliação seja vista como um investimento e não como um custo.
O Painel 1, moderado por Susana Almeida Lopes da SHL Portugal, começou com a constatação da pouca adesão dos empresários à temática da conciliação. António Saraiva, ex-Presidente da Confederação Empresarial de Portugal, afirmou que a conciliação não tem sido uma prioridade para as empresas, dada a atual situação de turbulência. No entanto, enfatizou que “a sociedade como um todo tem de evoluir nesse sentido. À medida que a sociedade evolui, evoluímos cada um de nós: empresários, famílias e toda a comunidade que o país abrange em várias dimensões”.
Mafalda Troncho, Diretora da Organização Internacional do Trabalho – Portugal, observou que a fronteira entre a vida profissional e familiar está cada vez mais difusa e que a experiência do teletrabalho revelou uma grande interpenetração entre ambas. Segundo ela, “se olharmos para este contexto globalizador e para os rápidos avanços tecnológicos, vamos perceber que a fronteira entre a vida profissional e a vida familiar está a desvanecer-se cada vez mais, apresentando grandes desafios para os trabalhadores, na dificuldade de conciliar essas duas grandes dimensões em suas vidas”. Mafalda Troncho acrescentou que “a experiência do teletrabalho mostrou-nos que não é uma das melhores formas de conciliar a vida pessoal e profissional. É a mulher que assume a maior parte das responsabilidades domésticas, tornando difícil gerir sua carreira dentro de casa”. O Painel 1 também contou com a presença de José António Vieira da Silva, ex-Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que destacou os avanços alcançados com a introdução do mecanismo de promoção da partilha de responsabilidades parentais em 2009.
Para José António Vieira da Silva, a partilha da licença parental pelos pais foi um estímulo para ampliar a responsabilidade parental, promovendo uma rápida adesão por parte das famílias. Salientou que essa realidade representa um poderoso caminho de mudança. O ex-Ministro enfatizou que a retenção de talentos no trabalho não se limita apenas ao pagamento de melhores salários, mas também requer uma conceção de remuneração que vá além do aspecto monetário, aproximando as pessoas de ambientes que estejam alinhados com suas ambições. Vieira da Silva apontou os Acordos de Contratação Social como o caminho a seguir, afirmando que “sem negociação, os avanços serão limitados”. Ele também destacou a necessidade de superar obstáculos como percepções sociais e conservadorismo.
O segundo Painel, moderado pelo Secretário Executivo da OesteCIM, Paulo Simões, destacou a estratégia da região focada nas pessoas e apresentou a plataforma analítica de gestão territorial, Smart Region, que visa recolher informações para melhorar a qualidade de vida das pessoas e criar valor público. No Painel 2, Sandra Ribeiro mencionou que a questão da conciliação tem ganhado espaço nas discussões públicas, passando cada vez mais a ser vista como um instrumento de gestão por si só.
A Presidente da CIG ressaltou que a conciliação precisa do apoio das políticas públicas para dar um salto significativo e que não pode ser apenas responsabilidade do Estado, mas também requer a participação dos parceiros sociais. Para Sandra Ribeiro, é importante ouvir os trabalhadores e entender suas necessidades. O Painel 2 contou com a participação de Sónia Fertuzinhos da SHL Portugal, que apresentou os resultados de um Inquérito de Diagnóstico realizado no âmbito do Projeto. O inquérito revelou que um dos obstáculos à conciliação na região está relacionado com a dificuldade dos homens utilizarem seus direitos de paternidade no contexto das empresas, famílias e sociedade. Sónia Fertuzinhos ressaltou a importância de se passar de uma perspetiva social para uma perspetiva económica em relação à igualdade e conciliação, afirmando que “a questão da conciliação e igualdade tem um impacto na capacidade de criar riqueza nos países e nas empresas”. A igualdade reflete-se no PIB, sendo um fator que impulsiona o potencial produtivo da população, o aumento das taxas de emprego e a competitividade.
O Seminário foi uma oportunidade importante para discutir os desafios e benefícios da conciliação entre a vida profissional, pessoal e familiar, envolvendo vários atores sociais e abrindo caminho para a implementação de políticas e práticas mais inclusivas na região Oeste.