Violência emocional e verbal mancham relações de namoro
No dia 14 de fevereiro, o Programa UNi+ , promovido pela Associação Plano i, para prevenir a violência no namoro no ensino superior português, apresentou os resultados das denúncias registadas no Observatório da Violência no Namoro entre 2017 e 2022.
O Observatório da Violência no Namoro foi criado em 2017, no âmbito da primeira edição do UNi+ Programa de Prevenção e Combate à Violência no Namoro no Ensino Superior, promovido pela Associação Plano i e cofinanciado pelo POISE.
Este Observatório constitui uma plataforma de denúncia informal, confidencial e anónima, com o objetivo de mapear o fenómeno em Portugal, desocultando situações de vitimação não identificadas pelos mecanismos de denúncia formais. Esta denúncia poderá realizar-se por parte de atuais ou ex vítimas de violência no namoro, mas também por parte de pessoas testemunhas desta vitimação.
Volvidos 5 anos da sua criação, foram recebidas 440 denúncias, o que corresponde a uma média de 73 denúncias por ano, a sua maioria reportada por ex vítimas de violência no namoro (47.5%) e 44.5% por testemunhas, na sua maioria psicólogos/as e colegas, da zona do Porto (39.1%), Lisboa (15.2%) e Braga (11.6%).
No que diz respeito às pessoas vítimas, 87.5% são mulheres com uma média de idades de 23 anos, de nacionalidade portuguesa (90.2%), estudantes (58.6%), tendo a vitimação ocorrido numa relação heterossexual (84.5%). Já as pessoas agressoras, em 88.9% dos reportes, foram identificadas como homens, com uma média de idades de 24 anos, a maior parte (56.8%) numa relação atual de namoro com a vítima e, em 42%, em relações passadas.
De salientar a elevada prevalência da violência emocional (84.8%) e verbal (83.6%), mas também a violência física, presente em quase metade de casos reportados (49.5%), tendo 18.9% das vítimas recorrido a tratamento médico. Em 3.4% dos casos foi reportada tentativa de homicídio. De notar, ainda, a vitimação sexual, presente em quase ¼ dos casos (23.4%). Decorrente das várias tipologias da violência, frequentemente perpetradas em simultâneo, os impactos para as vítimas são diversos – em 63.9% das situações as vítimas ficaram bastante afetadas psicologicamente, em 41.8% bastante afetadas socialmente, e 12.5% bastante afetadas fisicamente.
Como atribuição causal da violência, consistente com outros dados, os ciúmes surgem em primeiro lugar (66.1%), seguido de (alegados) problemas mentais da pessoa agressora (36.8%) e conduta da vítima (17.7%). Em 76.6% dos casos reportados não houve apresentação formal de denúncia (crime público, de acordo com o Art.152º do Código Penal Português) e, em metade dos casos (50.5%), as pessoas vítimas lidaram sozinhas com a situação, ou com recurso a pessoas amigas (48.6), tendo apenas 12.7% recorrido a estruturas de apoio à vítima.