Comportamentos de violência no namoro continuam a ser legitimados por uma grande percentagem de jovens
68,1% não consideram violência, pelo menos, algum tipo de comportamento abusivo, enquanto 63% já experienciaram na sua relação de namoro, pelo menos, algum tipo de vitimação.
O “Controlo”, com 54,6% de respostas, é um desses comportamentos, sendo que o mais aceite é o ato de pegar no telemóvel e entrar nas redes sociais sem autorização.
Nos indicadores da vitimação, o estudo mostra ainda que a principal forma de violência reportada foi igualmente o “Controlo”, com 45,5%, sendo que o comportamento mais autoreportado foi a proibição de estar ou falar com uma pessoa amiga ou colega.
Estes dados constam do Estudo Nacional sobre Violência no Namoro, realizado, em janeiro, pela UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta, no âmbito do projeto Art’Themis, financiado pela CIG e apresentado hoje, 14 de fevereiro.
Sublinhando a relevância deste projeto, Sandra Ribeiro, presidente da CIG, considera que o mesmo permite “perceber algo que não sabíamos antes da sua existência. Permite perceber o que os jovens, rapazes e raparigas, em toda a sua diversidade, pensam sobre o afeto e o amor e de que maneira encaram a forma de se relacionarem”.
Recordando que atualmente “as principais influências dos/as jovens estão nas redes sociais”, Sandra Ribeiro defende que “é extremamente importante falar com os/as jovens usando uma linguagem à qual eles prestem atenção e que lhe desperte o interesse.”
A apresentação pública dos Estudo realizou-se no Espaço Atmosfera M, no Porto, tendo Liliana Rodrigues, Presidente da UMAR, destacado, na abertura da sessão, o trabalho que é desenvolvido há 20 anos por esta ONG na área da prevenção, bem como a importância do projeto Art’Themis que conta já com 10 anos de existência.
A sessão prosseguiu com as intervenções de Margarida Pacheco, Coordenadora do Projeto ART’THEMIS+, e Margarida Maia, Técnica do Projeto ART’THEMIS+, a quem coube apresentar os principais dados recolhidos através do Estudo Nacional sobre Violência no Namoro.
Abrangendo todo o território continental e ilhas, o estudo foi realizado junto de 6152 jovens, do 7º ao 12º ano do ensino regular e profissional, com idades entre os 11 e os 21 anos.
“Se não houver mudança nestes valores e nestes comportamentos, ao considerarem que aquele tipo de comportamento não é violento, no futuro esses/as jovens poderão tornar-se em potenciais vítimas ou agressores/as”, sublinhou Margarida Pacheco.
“Quanto mais legitimados são os comportamentos de violência, mais vitimação autoreportada irá existir”, acrescentou Margarida Maia.
Relevante é igualmente o facto de o estudo revelar que os jovens que se identificam com o género masculino legitimam em maior percentagem todas as formas de violência, comparativamente com a jovens que se identificam com o género feminino, enquanto nos indicadores de vitimação, registam-se maiores percentagens entre jovens do género feminino, quando comparadas com o género masculino.
Consulte os dados do Estudo na íntegra.
Outra das intervenções pertenceu a Maria José Magalhães, Supervisora do Projeto ART’THEMIS+, que realçou o importante papel do Ministério da Educação na concretização deste projeto, defende, no entanto, que o mesmo deveria assumir “como política educativa, o trabalho de prevenção da violência de género nas escolas, com a intervenção de pessoas especializadas nestas temáticas”.
Na interação com o público, destaque para o testemunho partilhado por uma professora, que aproveitou o momento para deixar um apelo no sentido do projeto Art’Themis ter continuidade, considerando que o mesmo faz toda a diferença junto da população jovem.
Após a apresentação do estudo, seguiu-se o momento de inauguração e visita à exposição “ART’THEMIS MAIS AMOR”, realizada em colaboração com a fotógrafa Rita Mendonça.