CIG vai continuar a trabalhar com o compromisso de ajudar a quebrar barreiras
Foi este o compromisso deixado pela Presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, no encerramento da iniciativa comemorativa do Dia Internacional das Mulheres, que se realizou no Centro Comercial Alegro de Setúbal.
Sandra Ribeiro enalteceu a “coragem e a determinação” das mulheres que deram a cara neste dia para mostrar que ainda muito caminho há a percorrer em direção à Igualdade e comprometeu-se em “trabalhar afincadamente para que muitas das barreiras que se deparam às mulheres de hoje, sejam derrubadas.”
Numa perspetiva de descentralizar as suas iniciativas, a CIG foi neste 8 de Março até Setúbal, onde realizou um encontro/debate enquadrado no feminismo interseccional.
Com a mensagem “Somos todas muito mais do que um corpo” diferentes convidadas referiram que enfrentando formas de discriminação, não apenas com base no sexo, mas também étnicas, de mobilidade reduzida, de identidade de género, entre outras, conquistaram não só uma relação de bem-estar consigo próprias, ao ultrapassarem os padrões dominantes, mas também um sentimento de cidadania plena.
Paula Cardoso, jornalista, produtora de conteúdos e militante antirracista teve a responsabilidade na moderação dos dois momentos de reflexão num espaço físico inabitual para este tipo de evento: um Centro Comercial.
O primeiro painel contou com a participação de Júlia Pereira, Ativista Transfeminista, Janica Ndela, Feminista Africana e Ativista antirracista e Paula Pinto, Psicóloga na Associação para o Planeamento da Família e Coordenadora do serviço “Sexualidade em Linha”.
No segundo painel participaram Lia Ferreira, Coordenadora da Estrutura de Missão para a Promoção das Acessibilidades, Isabel Rebelo, ativista feminista e fundadora da Cooperativa seies, Iolanda Rodrigues, Coreógrafa, Professora e Diretora da Academia de Dança Contemporânea de Setúbal e Miriam Andrade, Modelo plus size e Criadora de Conteúdos Digitais.
Todas estas mulheres são um exemplo de determinação e coragem para muitas outras que sofrem diariamente com a pressão do corpo socialmente definido como “perfeito”.
Muitas pessoas iam passando, olhando e seguiam. Muitas outras, igualmente no passo apressado de fim de dia, olhavam curiosas para o painel de oradoras, e fixavam o olhar no grande painel que anuncia a diversidade de corpos que constitui a forma física de cada mulher. Sabendo que “somos muito mais do que um corpo” muitas pessoas rodearam a plateia e ficaram para ouvir estas vozes que defendiam nunca desistir; mas antes questionar os modelos veiculados pelas redes sociais e os condicionalismos que os próprios media impõem.
Os corpos das pessoas, mas sobretudo o das mulheres estão sujeitos a uma tal impositiva idealização que as transporta para barreiras de nível pessoal, familiar e mesmo profissional. Quantos empregos, sobretudo a mulheres, já não foram recusados porque não se tem o corpo “adequado” para a função? E afinal o que é um corpo adequado? Perfeito? Bonito? Exigências ardilosas!
Foi unânime no conjunto das oradoras a mensagem de que nos devemos aceitar, sem, contudo, deixar de questionar os modelos globalmente impostos para a ideia de que somos sobretudo um corpo. Não existe uma verdade absoluta. Afinal, após a maternidade pode-se continuar a ter uma carreira dedicada ao bailado. Uma mulher com mobilidade reduzida pode chegar a um lugar de topo, uma mulher trans pode ser uma intelectual e uma mulher negra pode ser uma líder política, assim como uma mulher gorda pode ser modelo.
Ao recusar o padrão estabelecido aumenta-se o campo das hipóteses, nomeadamente enquanto potencial positivo numa sociedade normativa. Os nossos quotidianos estão repletos de “barreiras” que temos de ultrapassar e de que não precisamos, afinal podemos construir (para cada uma de nós) uma vida com muito menos “barreiras”.
O evento contou igualmente com a presença de algumas associações de Setúbal, que aproveitaram a ocasião para mostrar o seu trabalho e trocar ideias e experiências. Foram elas a Conexão Feminina, a Cooperativa seies, a He for She Setúbal, a Seroptimist e a Faísca Voadora que, a pouco e pouco, foram ficando rodeadas de pessoas curiosas.