Novas Cartas Portuguesas, um livro “ímpar” e atual
No dia em que se assinalaram os 48 anos do fim do julgamento das “Três Marias”, a Comissão Comemorativa dos 50 Anos do 25 de Abril prestou homenagem à coragem das autoras.
A Presidente da CIG, Sandra Ribeiro, foi uma das cem pessoas, entre as quais representantes do Governo, deputadas e dirigentes partidárias e ativistas de diversas organizações e movimentos, que participaram nas duas Conversas sobre as Novas Cartas, que decorreram no Teatro Nacional D. Maria II.
Um livro “ímpar” que não tem ainda “o destaque devido” – este foi um dos pontos de concordância entre as seis personalidades convidadas para conversar sobre as Novas Cartas Portuguesas, numa iniciativa organizada pela Comissão Comemorativa dos 50 Anos do 25 de Abril.
A atualidade dos temas abordados no livro foi destacada em muitas das intervenções: desde logo, a guerra (na altura, a colonial), a violência contra as mulheres, o suicídio, o aborto, a sexualidade.
A obra tem inspirado a arte e os artistas da sua geração, garante, assumindo-se como “feminista radical” e interessada em trabalhar o lema “o pessoal é político”.
O impacto “extraordinário” da publicação das Novas Cartas no estrangeiro é desconhecido para muitos, bem como o facto de estarem entre as obras nacionais mais traduzidas de sempre.
As autoras, banidas pela censura e levadas a julgamento por terem escrito um livro “insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública”, foram apoiadas por “um movimento de solidariedade ímpar”, recordou Manuela Tavares.
Como não podia deixar de ser, a conversa em torno das Novas Cartas foi também uma reflexão sobre o feminismo – ou melhor, feminismos, movimentos múltiplos e interseccionais.
“O feminismo deste livro acolhe os homens”, sublinhou Inês Pedrosa, assinalando que a obra já aborda “o que hoje se chama de masculinidade tóxica”.
Nesse dia o Teatro Nacional D. Maria II acolheu também a peça “Ainda Marianas”, da companhia Os Possessos, que estará em digressão nacional até dezembro, e a exposição “Mulheres e Resistência – Novas Cartas Portuguesas e outras lutas”, concebida pelo Museu do Aljube.