Investigação científica sobre sexismo em escolas e universidades portuguesas vence prémio internacional
Maria do Mar Pereira, socióloga portuguesa a trabalhar na University of Warwick (Reino Unido), venceu o Prémio Philip Leverhulme 2017, um prestigiado prémio internacional no valor de £100.000 (116.000€). Este prémio é atribuído anualmente pelo Leverhulme Trust a “jovens cientistas extraordinárias/os cujo trabalho já é reconhecido internacionalmente, e cuja futura carreira científica é excecionalmente promissora”. O júri atribuiu o prémio a Maria do Mar Pereira pelos dois estudos pioneiros que realizou em Portugal entre 2006 e 2017 sobre sexismo em escolas e universidades portuguesas.
O primeiro estudo analisou formas de sexismo e homofobia numa escola de 2º ciclo em Lisboa. Deu origem ao livro Fazendo Género no Recreio: a Negociação do Género em Espaço Escolar (Imprensa de Ciências Sociais, 2012), que vencera já em 2014 o Prémio Internacional ICQI para o Melhor Livro em Investigação Qualitativa. O estudo concluiu que os estereótipos de género e sexualidade que circulam nas escolas portuguesas, e na sociedade portuguesa em geral, dão origem a fenómenos complexos de desigualdade, marginalização e “bullying” que têm impactos muito nocivos nas crianças e jovens de todos os géneros. A autora demonstra que desconstruir estes estereótipos na escola podem ajudar crianças e jovens a criar relações mais saudáveis, melhorar a sua saúde e desempenho académico, aumentar a sua auto-estima, e diminuir a violência verbal e física no recreio.
O segundo estudo analisou o sexismo nas universidades portuguesas e resultou no livro Power, Knowledge and Feminist Scholarship: an Ethnography of Academia (Routledge, 2017), que foi um dos finalistas do Prémio BBC Thinking Allowed 2018. Este estudo mostra que nos últimos 10 anos o discurso oficial nas universidades portuguesas se tem tornado mais igualitário e inclusivo. No entanto, este discurso oficial igualitário coexiste com práticas informais e às vezes invisíveis de discriminação sexista, de assédio sexual e intelectual, e de ridicularização e menorização da investigação científica desenvolvida por mulheres e cientistas lésbicas, gays, bissexuais e trans (LGBT).
Em declarações sobre o seu Prémio Philip Leverhulme, Maria do Mar Pereira afirmou: “Estou absolutamente radiante por ter recebido este prémio internacional tão prestigiado. O prémio dá-me a oportunidade de desenvolver mais investigação sobre género, um tema que é central nas sociedades contemporâneas e que é preciso continuar a estudar e debater em profundidade em Portugal. Temos feito muito avanços nos últimos anos, mas há ainda muito trabalho pela frente. O prémio permite-me também dar mais visibilidade a Portugal no estrangeiro, e demonstrar que a realidade portuguesa pode servir de base para descobertas científicas com impacto internacional.”