A atualidade de “As Novas Cartas Portuguesas”
A (re)visitação de “As Novas Cartas Portuguesas”, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, e a sua atualidade, permite-nos alcançar uma maior consciência, individual e coletiva, das injustiças/desigualdades cometidas contra as mulheres, ao longo de séculos até aos nossos dias.
“Qual a mudança na vida das mulheres ao longo de séculos? […]
As mulheres bordavam ou teciam ou fiavam ou cozinhavam, sujeitavam-se aos direitos de seus maridos, engravidavam, tinham abortos ou faziam-nos, tinham filhos, nados-mortos, nados-vivos, tratavam dos filhos, morriam de parto às vezes, em suas casas, com móveis, cadeiras, cortinados.
Estamos em tempo de civilização e de luzes, os homens fazem livros científicos e enciclopédias, as nações mudam e mudam a sua política, os oprimidos levantam a voz, um rei de França é decapitado e com ele os seus cortesãos, os EUA do Norte tornam-se independentes […]
Que mais? Que mais interessa enunciar a história? O que mudou na vida das mulheres?
Já não tecem, já não fiam, talvez, porque se desenvolveram a indústria e o comércio; as mulheres bordam, cozinham, sujeitam-se aos direitos de seus maridos, engravidam, têm abortos ou fazem-nos, têm filhos, nados-mortos, nados-vivos, tratam dos filhos, morrem de parto, às vezes em suas casas, onde apenas mudou o feitio dos móveis, das cadeiras e dos cortinados.”
(Novas Cartas Portuguesas, 1974: p. 177 e 178)